Texto e fotos MARCIA FARIA

Eu sabia que Quito era conhecida por ser uma cidade/capital cercada de vulcões por todos os lados. Mas o que eu não imaginava era que a mesma guardava uma coleção de igrejas coloniais tão lindas e bem preservadas. Por isto, dediquei um post só para estas magníficas construções.

De modo geral, o povo é bastante religioso, pois sempre se vê as portas abertas das igrejas católicas a maior parte do dia com o entra e sai de pessoas. Por outro lado, a veia indígena ainda guarda elementos xamânicos que se mesclam em costumes em todas as regiões do país. O sincretismo religioso do povo andino com a colonização espanhola ainda se propaga nos dias de hoje, seja nos costumes ou formas variadas espalhadas nas portas das igrejas de Quito, sobretudo no Centro Histórico onde se concentram as igrejas mais antigas.

Igrajas de Quito
 A fé se mistura com a arte sacra nas igrejas de Quito

Decerto que nem tudo foram flores no passado, muito pelo contrário, o aspecto dominador do colonizador espanhol que ergueu com imponência aquelas majestosas construções, não foi suficiente para apagar a crença do povo andino. Percebe-se, a sutileza dos nativos ao embutir seus elementos da natureza, ou de Pacha Mama nas paredes, nos vitrais e mosaicos, suas figuras míticas e sagradas sempre com cores vibrantes, tudo marca registrada desse povo alegre das montanhas. Tudo isto confirma sua complexidade e riqueza no aspecto cultural e religioso dos equatorianos.

 Grupo folclórico de dança em trajes e estandartes coloridos desfila na Calle García Moreno.

Ao caminhar pela Calle García Moreno, que antigamente era chamada de Calle de Las Sete Cruces, podemos apreciar várias igrejas, conventos e construções relacionadas à religião católica. Eu que há tempos não ia à missa, acabei indo a duas enquanto estive lá. É tocante ver a igreja repleta de gente levando suas preces e cânticos dentro das igrejas que geralmente tem uma acústica toda especial. A música combinada com a arte materializada nas pinturas das paredes, no entalhe das portas e pedestais realçam o sentimento de alegria e de fé, típicos do povo latinoamericano. Nesta mesma rua, aos domingos tem grupos que desfilam com músicos e dançarinos que levam a cultura popular para as ruas. Assim que o povo sai da missa, as ruas fervilham de pessoas e de artistas que aproveitam para expor suas obras nas calles de Quito.

Basílica do Voto Nacional

Já no final da Garcia Moreno está situada uma outra maravilha, a Basílica do Voto Nacional ou Basílica de San Juan com estilo neogótico que vale reservar um período do dia para visitá-la.

Esta igreja do século XIX, realmente nos deixa de queixo caído pela sua imponência lá do alto com sua extensa fachada. Quando nós fomos, não sabíamos bem o endereço, mas por se situar na face norte numa extremidade mais elevada do Centro Histórico, fomos seguindo a sua direção, subindo várias quadras, pois a sua visão se destaca de diversos pontos da cidade. A sua planta é formada por uma nave central de 140m de comprimento e atinge 115m de altura em suas torres frontais, o que confere o segundo lugar em altura na América Latina (a 1a é a Catedral de Maringá no Brasil com 124m).

 Sua nave central tem divisão em arcos que se elevam “aos céus”

Ao estilo gótico, a fachada principal da basílica é constituída por altas torres, no meio destas, há um espaço com um pequeno museu e uma cafeteria com um ponto de vista. É realmente magnífica a visão da cidade lá de cima, mas o que mais me encantou nesta igreja foram seus vitrais coloridos que promovem uma iluminação natural na parte interna onde se projeta a luz e reflete diversas cores dependendo da hora do dia. Os vitrais da Basílica são muito lindos, pois junto à narrativa de cenas da vida de Jesus, o fundo mostra exclusivamente representações da flora endêmica do Equador com lírios e orquídeas, símbolos do Equador. Podemos identificar também animais da fauna equatoriana, como tartarugas, iguanas, tatus, pumas e golfinhos, isto tudo dentro de uma igreja!

 A flora endêmica do Equador com lírios e orquídeas nos vitrais da Basílica.

Sem dúvida nenhuma, é uma das mais belas igrejas, e o bom é que na descida todo santo ajuda, voltamos com aquela paz de espírito pela Garcia Moreno.

 Basílica do Voto Nacional

Catedral Metropolitana

Ao lado sul da Plaza Grande ou praça da Independência na Garcia Moreno temos o símbolo religioso de maior valor para a comunidade católica. Na verdade, a catedral passou por várias etapas em sua construção, iniciada em 1545 como templo provisório ganhando pilares e arcos durante o séc. XVI. Apresenta três naves que exibem lindos afrescos dos principais artistas da Escola de Quito Bernado Rodiguez e Manuel Samaniego.

Tem influência barroca traduzida nos púlpitos, mas o que dá maior beleza são os arcos com as pinturas ao alto. Caspicara foi um famoso escultor indígena colocado no mesmo plano de escultores famosos europeus que também contribuiu com peças de arte colonial e barroca para esta catedral que é a mais antiga da América do Sul.

Igreja de El Sagrario

É uma capela anexada à catedral que se confunde com esta última, pois a torre está imediatamente ao lado dela e olhando de frente parece pertencer às duas igrejas. A construção deste edifício ocorreu no período entre os séculos XVII e XVIII com forte influência do estilo neo italiano – estilo renascentista que era moda na época. Os interiores dessas estruturas apresentam pinturas de anjos e santos do pincel de Francisco Albán. A antepara da nave principal, projetada por Legarda , é considerada uma das manifestações mais ricas do estilo barroco em Quito.

La Compañia

Visitar a expressão máxima do barroco das Américas é seguramente inundar os olhos de beleza. Para isto, tem horários de visitação, e a recomendação de não tirar fotos, pois trata-se de um monumento histórico e cultural de valor inestimável com pinturas e revestimentos de ouro que não podem ser afetados. Comparada com as outras, a fachada da Igreja é pequena, mas impressionante por ser totalmente esculpida na rocha andesítica que exibe colunas salomônicas, figuras de anjos, flores, todos símbolos eclesiásticos da Ordem dos Jesuítas.

 A fachada em La Compañia é toda esculpida em andesito

A igreja e o convento da Companhia de Jesus de Quito , também conhecido no patrimônio popular equatoriano simplesmente como ” La Compañia” apresenta quatro estilos em sua arquitetura. O barroco predomina devido a simetria presente no seu interior e o movimento, produto da forma como as principais colunas do templo e o retábulo foram projetados, o que dá a impressão de que ele se move ao caminhar dentro da igreja. A luminosidade também caracteriza o seu estilo e uma das particularidades desta igreja é a luz natural entrando por todas as janelas superiores de forma que tudo fica claro em seu interior.

 La Compañia é uma verdadeira preciosidade no coração de Quito. Obs: Foto tirada de celular, sem flash, pois câmeras são proibidas nesta igreja.

O templo da Companhia foi criado com as mãos de inúmeros artistas da Escola de Quito, Bernardo de Legarda, Caspicara e muitos anônimos que perpetuaram sua habilidade para esculpir e dourar com uma finas lâminas de ouro de 23 quilates cada centímetro da igreja. Outro aspecto interessante é o estilo mudéjar ou mourisco, estilo árabe trazido pelo espanhol devido à influência que tiveram quando foram dominados pelos mouros e árabes.

 Uma das cúpulas de La Compañia

A missa é especial e muito bonita aos domingos. Tradicionalmente o povo se reúne em La Compañia para cultivar sua espiritualidade e contemplar sua beleza em forma de orações e cânticos. Lembrando que as pessoas que participam da missa, não pagam entrada. Literalmente é uma jóia cravada no Centro Histórico de Quito.

https://www.viajesyfotografia.com/blog/la-iglesia-de-la-compania-de-quito-la-obra-maestra-del-barroco-americano/

Plaza de San Francisco

Em uma das maiores praças de Quito se situa uma enorme igreja, das mais antigas de Quito, construída em meados do século XVI estando situada na praça de mesmo nome. A construção foi iniciada em 1535, junto ao mosteiro e demorou 70 anos para ser finalizada.

 Plaza de San Francisco

Com fachada simétrica e um pórtico todo talhado em pedra, a igreja em estilo barroco tem ainda sobre seu altar a imagem da Virgen Alada de Quito, esculpida por Bernardo de Legarda em 1734. Adornada com cortinas vermelhas, é muito bela também pelo acervo artístico constituído por diversas obras, bem como esculturas de Caspicara e outros artistas da Escola Quiteña.

Esta é a igreja preferida dos quiteños, está sempre cheia de fiéis que assistem suas missas, com horários livres para a visitação junto com acervo do museu e mosteiro.

La Merced

Constitui a primeira igreja e sede principal da Ordem Mercedarista no país e, portanto, traz o título de Basílica. A construção começou em 1701, a torre foi completada em 1736 e a basílica foi consagrada em 1747. Possui cinco cúpulas, uma torre quadrada e está decorada com inscrições inca e árabe, é bastante popular e sempre lotada de fiéis. No dia que a visitamos não conseguíamos entrar de tanta gente, achei um estilo bem clássico com algumas pinturas ovais destacadas da parede, mas é curioso o toque árabe nas figuras que está presente em praticamente todas estas igrejas.

Venda de flores, santinhos e amuletos indígenas na porta da igreja.

Sendo católico ou não, vale muito a pena visitar estas pérolas do Centro Histórico, embarcar um pouco na história de cada uma delas ou apenas contemplar estas obras minuciosamente criadas pelas mãos de tantos artistas. Uma curiosidade, Isabel de Santiago foi uma das maiores desenhistas e pintoras da escola quiteña, filha do Miguel de Santiago. Participou de vários trabalhos junto de seu pai, e ganhou respeito das pessoas, embora por ser mulher, não tivesse o direito de fazer exames para obter os diplomas. Esta igreja guarda seus restos mortais em reconhecimento a sua obra, e em nome de tantas outras mulheres habilidosas que ficaram apagadas na história, Isabel pintava anjos e flores.

Monastério San Juan

Este edifício está localizado na esquina das ruas de Benalcázar e Galápagos bem próxima à Basílica, no lado norte. É um dos lugares mais tradicionais, mas pouco visitados e de acesso restrito, pois algumas freiras vivem em clausura. Optaram pelo recolhimento em forma de devoção integral a Deus, fabricam bolachas, fabricam tecidos e os produtos como licor canário, vinho , cremes naturais de pele, rosários, velas, pinturas, entre outros, que são vendidos em visitas guiadas.

 Monastério San Juan

Igreja de Santo Domingo

Admire uma surpreendente coleção de obras de arte de mestres dominicanos e quiteños nesta igreja do século XVII, no centro histórico de Quito.

 Igreja de Santo Domingo com sua elevada torre e o relógio da cidade.

Localizada na Plaza de Santo Domingo, palco de várias manifestações culturais nos fins de semana. Ao sul do Centro Histórico aos olhos da Virgen do Panecillo, esta igreja ocupa toda a face leste da praça estando conjugada com a capela de Nossa Senhora do Rosário e no museu da estrutura que abrigam valiosa coleção de arte sacra. Obras magníficas de talentosos artistas quiteños como esculturas e trabalhos em relevo, além de impressionantes afrescos e a famosa escultura da Virgen del Rosario. Foi construída pelos dominicanos e modificada por padres italianos, possui incrível arquitetura em estilo barroco com a majestosa torre da igreja que abriga o relógio da cidade. Em seu interior, existem peças do altar em estilos neoclássico e barroco, com detalhes em estilo mourisco/árabe nas figuras pintadas pelos artistas dominicanos.

 O barroco com detalhes em estilo mourisco/árabe pintado pelos artistas dominicanos da época.

Esta igreja ficava muito próxima ao hostel e como nesta praça havia uma estação de trolebus, passei várias vezes para pegar transporte para outros bairros. Eu não resistia, sempre entrava para comtemplar sua beleza, sem esquecer de fazer os meus pedidos e agradecimentos. Que o Equador se mantenha assim, orgulhoso e zeloso pelo seu patrimônio histórico e cultural nos próximos séculos!

 Praça de São Domingos, Centro Histórico de Quito.

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