Ilha de Santa Cruz | Galápagos | Equador
Seguindo os passos de Darwin
Texto e fotos de Marcia Faria
Esse é mais um post de Galápagos da nossa amiga Marcia Faria, desta vez ela escreve sobre a Ilha de Santa Cruz.
Este é um dos destinos eco-turísticos mais cobiçados pelos amantes da natureza por apresentar incríveis cenários onde você pode desfrutar de toda beleza, tudo muito de pertinho de animais que só existem lá. E não precisa levar dois dias para chegar, pois ao contrário daqueles longos e exaustivos percursos com vários trechos e baldeações para uma viagem desse tipo, o trajeto é tranquilo e nenhum pouco cansativo. Neste Patrimônio Natural da Humanidade de Galápagos, a ilha de Santa Cruz pode ser perfeita para você permanecer alguns dias realmente inesquecíveis da tua vida.
Puerto Ayora
Esta é a maior cidade do arquipélago de Galápagos situada na Ilha de Santa Cruz, e das localidades existentes e é a que apresenta melhor estrutura para visitação. Se porventura você tiver poucos dias e pouco dinheiro, a primeira dica é permanecer todo o seu tempo em Puerto Ayora, pois você terá muitas coisas para ver nesta ilha.
Ao desembarcar no aeroporto na ilha de Baltra, os viajantes seguem para o mesmo local para pegar um ônibus gratuito que vai até um pequeno pier para pegar a balsa (US$1) que atravessa o canal que divide Baltra e Santa Cruz. O trajeto é rápido, em 5 minutos estamos do outro lado, e temos duas opções de transporte para Puerto Ayora: o ônibus que custa US$2 e leva uns 45 minutos ou o serviço de táxi que é padronizado na ilha, é feito em camionete tipo Toyota que leva 5 passageiros a um preço de US$18 com a duração bem menor, é claro, uns 30 minutos. Optei pelo ônibus, seguindo a maioria, bem tranquila a viagem no lugar da janela, atravessamos a ilha, de norte a sul praticamente, passando por um longo trecho em aclive, mais elevado no interior, descendo na metade da viagem até alcançar o outro lado na costa.
Puerto Ayora é uma simpática cidadezinha, descolada, com ruazinhas estreitas e casas simples, barzinhos legais, restaurantes convidativos e um sem número de pequenas agências que oferecem passeios para os points mais incríveis que você já sonhou. Um clima bem amistoso onde as pessoas interagem com descontração logo que chegam, trocam o tênis por chinelos, agasalhos por camisetas e shorts, e antes mesmo de chegar em seus hostals/pousadas já podem sacar suas câmeras e celulares porque os bichos estão soltos por toda a parte.
A cidade fica no que eles chamam de Baía da Academia. Não tem características geomorfológicas de baía, mas lembre-se que tudo aqui é muito recente e em processo de formação bem acelerado, portanto qualquer curvinha já é algo! A costa é permeada de blocos e pontões rochosos com água muito cristalina, possui um pequeno porto com pier, bem organizado, com uma pracinha e uma iluminação muito especial no pier onde é possível curtir a brisa da noite, apreciar os barquinhos e principalmente observar as criaturas do mar que se aproximam atraídas pela luz. Alguns barcos atracados ou mesmo que em movimento não afugentam os bichos, que curiosos, tanto de dia como à noite, são atraídos pela luz do pier de onde é possível avistar pequenos tubarões, arraias, pelicanos e muitos lobos marinhos que sobem facilmente as rampas de acesso, e sem cerimônia, ocupam os bancos do pier. Sim, eles são o dono do pedaço, você é apenas um visitante!
Um clima muito amigável, descontraído (quase não há roubos em Galápagos, acredite que é bastante normal relaxar na praia, dar um mergulho tranquilo com a certeza de encontrar intactos os seus pertences na areia. Além da hospedagem tradicional em hotéis, hostals, há cruzeiros que são opções live onboard onde os turistas se hospedam em barcos, alguns equipados para a prática do mergulho, geralmente caríssimos (mínimo de US$3000). Existem ofertas de última hora em que o preço cai bastante, porém você deverá estar a postos com tudo pronto para zarpar e passar algumas noites à bordo para trafegar pelas ilhas do arquipélago. A vantagem desta modalidade é que possibilita alcançar ilhas mais distantes e mais selvagens também, porém se é a sua primeira vez no arquipélago, e você não possui uma carteira recheada de dólares, a opção mais econômica é permanecer mais tempo em terra, se hospedar em uma ou duas ilhas no máximo, alternar passeios de barco e mergulhos obrigatórios neste pedaço do paraíso, desfrutando também da beleza natural das praias, caminhando e explorando as paisagens pitorescas de origem vulcânica. Algumas trilhas, podem ser feitas a pé e/ou com taxi (barco) para alcançar mais rápido os pontos mais atrativos como a Praia do Alemão e Las Grietas. Estas última, cheguei a visitar 3 vezes de tão interessante e aprazível, próxima de Puerto Ayora. Aliás, foi o meu primeiro objetivo depois que larguei a bagagem no Hotel España.
Praia do Alemão & Las Grietas
Apenas por US$1 se faz a travessia de barco-táxi para a outra margem, de onde segue em curta caminhada na direção de Las Grietas. Já no trajeto, depois de algumas casas de pescadores e hospedagens, é possível encontrar as famosas iguanas marinhas. Não esqueço da primeira que vi logo na escada de acesso do pier, quase que tropecei numa pequena iguana logo que saltei da lancha. Parecia estar ali para dar as boas-vindas aos visitantes! Caminho fácil, bem sinalizado com uma ou outra pousadinha, a vegetação característica atravessando recantos mais protegidos destinados aos ninhos destes répteis, além das aves locais, os famosos tentilhões que despertaram a famosa teoria da evolução das espécies quando Darwin passou por lá.
Em 5 minutos o primeiro ponto: Praia do Alemão! pequenininha, sem ondas, em formato de enseada e alguma vegetação que lembra um pouco os nossos manguezais nas extremidades, convidativa a um rápido mergulho e estratégica para um relax quando retornar de Las Grietas. Mais adiante, é possível se observar uma lagoa de sal, cuja extração é feita de forma artesanal e para consumo local.
Mais 5 minutos, temos uma pequena elevação, e por fim, as famosas Grietas. Há um vigia que orienta os visitantes, além de placa com as recomendações do lugar e principalmente com relação às crianças, pois é, não tem parte rasa em Las Grietas. Observa-se uma enorme fenda de rocha basáltica com mais de 100m de comprimento preenchida pela água do mar. Esta estrutura não forma um canal direto com saída para o mar, pois é obstruída por blocos rochosos onde a água percola suas fraturas preenchendo Las Grietas que deve ter uns 15m de profundidade. Um nativo informou que os peixes que nascem aqui, viverão e morrerão neste mesmo local. A água é pura e cristalina, dependendo do sol verde e/ou azulada, excelente para snorkeling e treinar apnéia para apreciar o paredão rochoso submerso e alguns blocos que abrigam muitos peixes, muitos “loros”, e lá no final, iguanas marinhas pequenas e mais escuras também podem ser encontradas nas pedras ao lado oposto ao acesso. Alguns mais afoitos sobem os paredões e mergulham lá de cima em saltos “ornamentais”, mas o mais legal é flutuar divagarinho e desfrutar de todo o seu encanto.
A luz do sol é importante neste lugar, neste caso, vá no período da manhã até umas 15hs no máximo, pois os paredões formam sombras que prejudicam a visibilidade durante o mergulho em Las Grietas.
Estação de Pesquisa Charles Darwin
Tendo como a pracinha como ponto de partida, podemos seguir a rua principal à esquerda onde está a maioria do comércio local. Seguindo uns 15 minutos rumo a estação, passamos pelo cemitério, seguimos uma via de acesso ao centro de pesquisa onde há na entrada no meio da passagem algumas iguanas caminhando livremente como para afirmar que a entrada está próxima! A estação de pesquisa mostra alguns dos animais em cativeiro que estão sendo monitorados, dentre as mais famosas espécies, várias tartarugas gigantes, símbolo de Galápagos, iguanas terrestres de outras ilhas. Há um prédio de exposição com o esqueleto de baleia com museu interativo onde exibe vídeo sobre a passagem de Charles Darwin, a biodiversidade das ilhas, a história de ocupação, etc. com uma lojinha repleta de souvenirs dos quais tem seu lucro revertido em pesquisas e atividades da fundação. As principais espécies do animal símbolo de Galápagos podem ser observadas em cativeiro, algumas em observação e monitoramento para fins de preservação. Para saber mais, www.darwinfoundation.org
É uma ótima opção para se fazer numa tarde, sem pressa, com olhar atento e um ouvido curioso para aprender mais sobre este lugar tão especial, além de contribuir para a manutenção das atividades do centro de pesquisa. No caminho há algumas entradas para praias bem pequenas, onde é possível se observar as iguanas marinhas que a todo tempo cruzam o caminho. Os caranguejos vermelhos (Zapaya) e alguns albatrozes também compõe a beleza da vida natural deste lugar. Nesta mesma rua de acesso também podemos destacar algumas lojinhas de prata fina com pingentes, brincos, anéis em forma dos animais, peças com design exclusivos, belas lembranças daqui a um preço muito bom. Eu que não posso ver um adorno, adquiri o meu talismã de Galápagos: um belo pingente de tartaruga.
Praia Grande e Baía das Tartarugas
Este é um passeio pode ser feito por conta própria e sem a obrigatoriedade de um guia. Partindo da pracinha central, siga a Av. Baltra, segunda rua à esquerda até o final, temos a entrada do parque, único acesso por terra a Tortuga Bay. Um monitor em uma pequena guarita passa orientações aos visitantes onde também há uma vendinha. Caso não tenha levado água, compre aí o líquido precioso e vital porque o caminho é quente, seco e derrete todos que fazem a travessia. Muitas pessoas se desidratam neste passeio e ficam mal no dia seguinte devido à insolação, pois caminha-se muito tempo no sol, a transpiração é constante, o filtro solar sai sem a gente perceber, enfim toda a orientação explícita no portal na entrada deve ser rigorosamente seguida para este ser um dos melhores passeios de Sta Cruz.
O trajeto é de mais ou menos uns 40 minutos sem elevações, a vegetação se assemelha ao nosso semi-árido, exceto pela presença da Opuntia que são os famosos cactus gigantes, fonte de alimento para vários animais inclusive a tartaruga gigante. É um caminho de pedra bem tranquilo, e a melhor parte é no final quando ouvimos o barulho das ondas, onde terminam os arbustos e a paisagem se abre em uma esplendorosa praia de areia branca com um mar azul turquesa ao fundo. Praia de surf, perigosa para banho, então respeite o aviso. Caminhe, aprecie, fotografe, deixe o mergulho para a extremidade sul da praia depois de uns 20 minutos de caminhada junto das iguanas que cruzam a faixa de areia acostumadas com os humanos que visitam sua praia. Geralmente elas entram no mar em busca de algas verdes durante o dia com intervalos de banho de sol nas pedras ou mesmo nos manguezais. Um pouco mais adiante, há uma piscina natural com manguezal, onde as iguanas estão lá se camuflando junto às raízes das plantas. Devemos seguir o caminho indicado na areia sem ultrapassar as cordas e plaquinhas que advertem possíveis ninhais com acesso proibido, sendo assim,o bom aventureiro respeita e segue em frente para ser compensado no final com uma praia paradisíaca, em forma de enseada e pequena faixa de areia muito branca, árvores com sombra, perfeita para relaxar na água ou na areia. Pausa para um lanchinho, junto é claro, dos tentilhões, passarinhos famosos de Darwin que se aproximam sem cerimônia para provar da comida dos visitantes.
Baía La Academia
Um passeio de poucas horas e que valeram muito a pena foi a volta pelos arredores na Baía de La Academia na última tarde em Galápagos, pois já no dia seguinte era o retorno. Portanto, se ainda resta um pouco de dinheiro na sua carteira e deseja fazer um passeio para aproveitar o máximo desta maravilha, esta opção é muito boa, custa uns US$ 30, não é necessário agendamento e é oferecida por quase todas as agências. O roteiro contempla os seguintes pontos:
Canal do Amor, Praia de Los Perros, Tintorera
Aproveitei o período da tarde para este passeio panorâmico com vários pontos de parada tanto para caminhada e mergulho. A lancha saiu às 14hs e seguiu a direção sudeste de Santa Cruz rumo a uma das extremidades. A primeira parada depois de uns 20 minutos, foi em um ponto para snorkeling. Todos com colete salva-vidas, máscara, snorkel e seguindo o guia. Nadamos juntos em direção ao pontão rochoso com uma pequena praia ao fundo. Este pontão se prolongava no mar formando uma rampa e depois uma laje recoberta de muita vida marinha. Lá avistamos muitos peixes coloridos (peixe anjo, trombeta, donzelinha), uma arraia dourada e também um belo tubarão de nadadeira branca. Ficamos cerca de meia hora na água, retornamos ao barco e seguimos para um outro ponto, mais tranquilo, pois neste havia uma leve corrente que dispersava um pouco o nosso grupo. No segundo local, mais peixes para apreciar e de repente, eis que surge uma tartaruga enorme que não alterou seu curso e ainda permitiu a aproximação do grupo, para o nosso deleite e a desejada foto, ela que parecia estar muito à vontade com a nossa presença e movia com suavidade sem se importar com o movimento desajeitado dos humanos que estavam ali a sua volta.
De volta ao barco, todos felizes, seguimos para um outro ponto onde atracamos no trapiche e subimos as escadas, fizemos uma pequena caminhada passando pelo Canal do Amor que segundo o guia, tem este nome por causa dos amantes que vem admirar a romântica paisagem em noites de lua cheia. Bem ao lado oposto, à esquerda, uma outra parada obrigatória para a observação das “ Tintoreras” que nada mais é do que a continuação de Las Grietas, outra grande fenda rochosa preenchida pela água do mar, local abrigado onde se reúne os tubarões mais comuns da ilha.
Caminhamos uns 10 minutos para alcançar a Praia dos Perros observando a vegetação com cactus gigante em meio a arbustos esbranquiçados sem folhas, em destaque o Palo Santo, madeira aromática que costuma ser usada como incenso que se o guia não tivesse parado para nos mostrar, passaria despercebido em meio aos galhos secos ao longo da trilha. A praia é pequena e rodeada de blocos rochosos onde há muitas iguanas marinhas, os caranguejos vermelhos, albatrozes e pelicanos. O mar ali é infinitamente azul.
Los Gemelos e Reserva El Chato
O melhor lugar para se observar as tartarugas gigantes em seu ambiente semi-natural é no interior, nas terras altas no Parque Nacional de Galápagos. Geralmente é cobrado US$40 para um motorista/guia topar esta dobradinha. O ideal é aproveitar a camionete e dividir com outras pessoas, pois este passeio nas agências tem um valor bem mais alto quando feito individualmente. O tour tem mais ou menos a duração de 3 a 4 horas, sai em torno de US$14 por pessoa + US$4 da entrada. É imperdível, tanto pelas tartarugas gigantes em seu habitat, como pelo relevo, a floresta úmida, paisagem bem diferente do que vemos nas proximidades de Puerto Ayora.
Primeiramente saímos pela estrada principal, a mesma que liga a Baltra passando pelo vilarejo de Sta Cruz e cerca de meia hora depois, chegamos em Los Gemelos. A estrada passa entre as duas crateras vulcânicas. Do ponto de vista geológico, não são bem crateras, mas depressões circulares formadas pela erosão de rochas abaixo da superfície cujo material foi carreado e remobilizado pelos rios e piscinas de lava fervente. Atualmente estas depressões são preenchidas por uma densa vegetação formada por musgos, samambaias e a mata de Escalésias, espécie endêmica de Galápagos. Há anos vem sendo desenvolvido um trabalho de conservação pela Charles Darwin Foundation em conjunto com o Parque Nacional de Galápagos para conter a expansão das amoreiras introduzidas acidentalmente na ilha pelos viajantes, e que devido às suas características destrutivas acabaram se espalhando rapidamente pela região ameaçando a floresta de escalésias.
Retornamos alguns poucos quilômetros pela mesma estrada, passamos pela entrada do parque e seguimos para o Rancho El Chato onde havia um senhor recolhendo os ingressos a US$ 4 que também nos passou as informações da reserva e recomendações para observação das tartarugas gigantes. Flash das câmeras desligado, nada de conversas em voz alta ou qualquer tipo de barulho que possam perturbá-las, além da distância mínima de 3,5m de aproximação dos animais, lembre-se que estes animais centenários estão livres em seu habitat, devemos respeitá-los evitando qualquer mudança em seu meio original. Embora ainda dependam do homem para retornar a população original, as tartarugas de Galápagos sofreram uma drástica diminuição nos últimos séculos, pois eram facilmente capturadas pelos navegadores que paravam em Galápagos para abastecer os navios durante as travessias no Pacífico. Por se tratarem de ser animais muito resistentes, capazes de sobreviver várias semanas sem alimento e água, se tornavam fonte de proteína/carne servida às diversas tripulações ao longo das viagens. Somente no século passado que de fato o homem tomou a consciência e assumiu sua responsabilidade na conservação e preservação destas espécies. E para não repetir a história do Single George, último indivíduo da espécie encontrada na Ilha de Pinta em Galápagos que morreu em 2012, o mínimo que podemos fazer é respeitar todas as regras do parque para que estes seres maravilhosos continuem atravessando os séculos de existência na Terra.
No final do caminho, depois de observar muitas tartarugas, realmente gigantes, aglomeradas nas poças, outras espalhadas no rancho com vegetação de gramíneas e pequenas árvores, seguimos uma pequena trilha até a entrada do túnel de lava com uma escada de madeira para o acesso que ficava alguns metros abaixo do nível da superfície do bosque. É muito interessante de se ver o duto com suas estruturas formadas durante o resfriamento da lava composta por basalto onde a água da chuva percola as fraturas, decompõe as rochas e se acumula na base do túnel. Tem iluminação artificial e se estende em uns 30m até a outra saída para a superfície. Uma experiência bastante interessante, similar a uma caverna, porém a sua origem é vulcânica e isto dá uma conotação muito singular ao ambiente que, no pretérito, foi preenchido por rocha vulcânica.
Túnel que nos remete ao princípio de tudo, ao calor do vulcão, quando a terra esfriava e recebia o primeiro réptil aventureiro que se arriscava na travessia de um imenso oceano só para tentar a vida neste pedacinho de terra conhecido como Galápagos.
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