Texto e fotos de Marcia Faria

Esse é mais um post da nossa amiga Marcia Faria sobre sua passagem por terra Equatorianas. Desta vez ela conta um pouco da sua experiencia em sua estada na cidade de Quito no Equador.

Uma capital latino-americana, patrimônio cultural da humanidade que merece ser visitada e descoberta pelos brasileiros. Possui identidade própria resultante da fusão do período colonial com as impressões indígenas que ainda se misturam com a vida moderna da cidade.

Praça da independência e Catedral de Quito

O Centro Histórico de Quito (Equador) – ou ciudad vieja, como também é conhecida possui o maior conjunto arquitetônico do século XVII da América Latina e o mais preservado. As ruas estreitas e suas típicas varandas floridas nos leva às obras arquitetônicas erguidas desde a época da conquista espanhola com influência da Escola Quiteña de arte e ligam as praças movimentadas, belas igrejas, conventos, capelas, mosteiros, museus e centros culturais.

O povo parece desfrutar bastante deste tesouro à céu aberto, porém há carros, ônibus e até caminhões transitando pelas quadras que deveriam ser mais protegidas no sentido de maior preservação, afinal de contas estamos falando de um riquíssimo patrimônio histórico e cultural do Equador e do mundo. A minha intenção era ficar na parte histórica da cidade justamente para conferir os atrativos que fizeram com que a UNESCO a declarasse como a primeira cidade Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, sendo assim, nada melhor do que me instalar no coração da cidade, o Centro Histórico de Quito.

 Da Basílica do Voto Nacional se vê o sobe-e-desce de ruas do centro histórico

Todo o tempo na cidade foi planejado para ficar no Hostal Friends com excelente custo-benefício, localização, bem pontuado e com um desayuno bem simples, mas que disponibiliza a geladeira se quiser guardar algum alimento. O Hostal Friends foi uma ótima escolha, os recepcionistas superaram minha expectativa, além de ser muito bem frequentado por viajantes de todo o mundo. Paguei um pouco a mais por um quarto individual com banheiro e aproveitei o melhor aspecto deste tipo de hospedagem: a interação com os hóspedes.

Logo no primeiro dia topei com uma mochileira polonesa, a Weronika, que falava português e era apaixonada pelo Brasil. Isto foi muito bom porque além de ter companhia para conhecer a cidade, acabei firmando uma gostosa amizade. Viajar sozinha tem destas coisas. No corredor do hostal eu conheci minha amiga, uma mulher sensível e muito livre, que assim como eu, tinha muita sede de conhecer o mundo e pessoas do bem.

 O casario colonial bem preservado se mistura com a arte do grafite pelas ruas da cidade.

Sem pestanejar, segui a dica de Weronika e adorei a ideia do free walking tour para o dia seguinte. É sempre bom no início sentir a atmosfera da cidade caminhando a pé e com gente de lá que conhece as quebradas. O ponto de encontro foi no Community Hostal, sem necessidade de agendamento, porém recomenda-se ir ao local no dia anterior para ver horários e para ter certeza se vai haver mesmo o tour no dia seguinte. O legal é que você colabora voluntariamente com o valor que cabe no teu bolso, de uma maneira muito justa. O guia era muito espirituoso, brincava com todo mundo, falou em espanhol e inglês, nos contando alguns fatos históricos, revelando um pouco da situação política e econômica do Equador. Nos deu uns toques de segurança como ruas ou lugares mais ermos que deveríamos evitar de passar à noite. Perfeitamente normal, aliás uma das coisas que eu não senti foi medo de andar nas ruas de Quito, claro que eu não facilitei, segui mais ou menos o script da maioria das outras pessoas e não tive nenhum transtorno, muito pelo contrário, o povo é muito amável e acolhedor.

Quito
 No centro Histórico de Quito, a riqueza de estilos arquitetônicos nas fachadas dos prédios

O roteiro se iniciou no Mercado Central já de cara com o comércio popular, observando um pouco dos hábitos alimentares, o colorido dos legumes, frutas, flores e outros produtos naturais, é claro que não perdi a chance de provar um suco de pitahaya que estava uma delícia.

No passeio visitamos a Plaza Grande, iglesia de La Compañia de Jesus, o antigo Banco Central, Plaza de San Francisco (Iglesia e convento), Plaza del Teatro e Calle de La Ronda. Teve a duração de quase 3hs, fechando com a boa energia do guia que nos liberou na movimentada Calle Espejo de onde cada um tomou o seu rumo após pagar o guia (valor livre).

Plaza Grande

Plaza Grande ou Plaza da Independencia é o coração da ciudad vieja, onde palmeiras e até uma araucária molduram os jardins entremeados por passeios com bancos, um chafariz e gente, muita gente! Dentre os prédios históricos mais importantes podemos destacar o Palacio Presidencial, sede do governo equatoriano, a Catedral Metropolitana, o Palácio Arcebispal e o Palácio Municipal. A praça reúne o povo, de toda parte, de crianças a idosos, pessoas simples, indígenas com suas roupas coloridas, funcionários do governo, estudantes, vendedores, todos que passam por ali dão uma pausa para descansar um pouco e prosseguir nos seus afazeres. A energia desse povo parece vir do centro da praça, de uma fonte vital, talvez emanada pelo majestoso Monumento da Independência.

Sobe uma rua, desce por outra, e você está lá novamente na Plaza Grande, seja para um café ou uma cerveja, uma informação, um descanso no banco, ou seja, é seguramente um espaço democrático escolhido pelo povo. Palco de constantes manifestações culturais, políticas e religiosas, é talvez o marco zero do Centro Histórico.

Quito
 Praça da independência ou Plaza Grande

Calle Garcia Moreno

O Palácio de Carondelet, sede do governo e residência oficial do presidente do Equador e a Catedral Metropolitana ficam nas laterais da Praça Grande. Mais adiante, a Igreja de La Compañia que é uma verdadeira pérola barroca, ocupa toda a quadra com seu complexo que une com o Convento de San Ignacio de Loyola e é imperdível visitar o seu interior. No dia do walking tour, o guia também nos levou ao Edifício antigo do Banco Central, atual Museu Numismático, um prédio imponente, que nos tempos pretéritos era a “Casa de Resgate” onde o sistema monetário se estabelecia no país. Nesta mesma rua, aos domingos tem um tipo de desfile com música e dança que leva a cultura popular ao povo equatoriano, e a nós, visitantes que estamos ali a mirar. Antigamente chamada de Calle de Las Sete Cruces devido a 7 pontos com cruz ao longo desta via marcando importantes monumentos religiosos.

Quito
 Igreja La Compañia

Numa das extremidades desta rua, uma jóia imperdível, vista de vários pontos da cidade, a Basílica do Voto Nacional ou Basílica de San Juan com seu estilo neogótico que vale reservar todo um período do dia para conhecer.

Praça San Francisco e igreja

Na Plaza San Francisco, a igreja mais antiga de Quito de mesmo nome, possui um museu franciscano e um convento ao sul do Centro Histórico. Esta se destaca por um grande número de fiéis que frequentam a igreja todos os dias da semana, e também de vendedores ambulantes que vendem sorvetes, petiscos e santinhos no entorno. Antigamente no séc. XVI, os povos indígenas e os colonizadores franciscanos costumavam se encontrar neste centro de comércio para trocar mercadorias. Recomenda-se visitar o local de dia, sentar em um dos cafés para tomar um suco ou uma xícara de café para sentir a atmosfera desta parte do Centro Histórico e apreciar a vista privilegiada de toda a praça com a Virgen del Panecillo ao fundo. Depois da missa há apresentações de música e dança nos fins de semana na praça San Francisco onde o povo se aglomera com a família e amigos.

 Restaurantes do Palácio Ancebispal

Calle La Ronda

A Calle la Ronda é a rua mais famosa do Centro Histórico, conhecida pelas cafeterias, chapeleiros e artesãos que podem ser vistos expondo suas criações nas lojas. Quando cai a noite, todos seguem para La Ronda, pois a boêmia impera nesta área onde há música e gastronomia típica para todos os bolsos. Provamos o famoso pastel de viento e um “ canelazo” um drinque local, feito com rum e especiarias e servido quente, num colorido barzinho desta rua famosa que ficava a poucas quadras do hostel. Lembrando que para curtir a noite, não adianta chegar cedo, a tradição é depois das 22hs em La Ronda.

El Panecillo

É o principal mirante da cidade com a figura da Virgen que pode ser avistada de vários pontos da cidade. Trata-se de uma enorme escultura de alumínio feita pelo artista espanhol Agustín de la Herrán Matorras que se baseou na obra de um famoso artista quitenho Bernardo de Legarda. La Virgen del Panecillo é um monumento um tanto quanto intrigante pela sua conotação um tanto quanto apocalíptica, cheia de simbolismo sobre céu e inferno, e da virgen com asas de anjo, o que a destaca mais do que outros monumentos similares.

A visão panorâmica da cidade traz milhares de turistas e religiosos principalmente na época natalina. La Virgen Alada de Quito está localizada na direção sul no alto do morro a 3000m e não é aconselhável ir sozinho à pé, pois há risco de assalto neste bairro, foi a dica do guia. E na opção de ir de taxi ou fazer um City Tour, vá pelo último que é quase o mesmo preço além de passar por outros pontos da cidade. Compra-se o ticket no centro turístico da Praça Grande a US12 e embarcamos num daqueles ônibus de 3 andares que quase fica entalado nas ruazinhas estreitas na subida. Uma verdadeira aventura subir as ladeiras neste ônibus para ver a Virgen del Panecillo!

 Vista panorâmica do morro EL Panecillo, o Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade

Mercado de Artesanato e Plaza El Ejido

Embora tenha várias lojinhas e ateliers de arte, chocolate, souvenirs nas ruas do Centro Histórico e shoppings da cidade, deixe para comprar tudo neste mercado, pois há muita variedade de produtos, a maioria têxtil, mas com lojinhas de prata fina, pinturas, bebidas, chocolates. O bom é que respeitam o comprador, negociam muito bem, e o principal: aceitam as nossas pechinchas! E como eu poderia voltar do Equador sem o meu Panamá? No Brasil, é bem caro e nem sabemos se é original. Eu já expliquei a vocês no relato inicial que o chapéu Panamá é feito aqui no Equador. Pois então, eu comprei o meu chapéu aqui neste Mercado e custou apenas US$25! (ver link Equador-país dos vulcões). O Parque El Ejido fica ali do outro lado do quarteirão, há desfiles e apresentações de música e dança, sempre aos domingos. Mas o que mais me interessou foi a feira de arte realizada neste parque domingo à tarde. Inúmeros artistas expõem suas obras em barracas ou em cavaletes para que sejam admiradas e adquiridas ali mesmo direto com o artista. Pinturas e máscaras de Tigua, outros que imitam Guayasamin, mas o que mais me encantou foi a pintura sobre pena.

 O artista Bustamante costuma pintar aves e várias espécies de colibris do Equador. Pintura sobre pena que pode ser encontrada no Parque El Ejido

Mitad del mundo

Mesmo sabendo que o posicionamento verdadeiro da linha do Equador passa a uns 200m dali, vale a pena visitar o monumento, pois é bonita a construção e bem legal de aprender algumas coisas de Geociências. É muito interessante subir no mirante lá no alto do monumento e entrar no interior para saber mais sobre a expedição geodésica francesa que realizou a missão para definir a linha do Equador. Em um dos níveis há aparelhos mostrando alguns fenômenos físicos como o magnetismo e gravimetria terrestre. Num desses, você pode se pesar (gostei desta parte) e verificar que aqui o seu peso é menor!

 Weronika em forma aqui e em qualquer lugar!

Há também um Museu Etnográfico, um Planetário e um outro espaço cultural com obras de Guayasamin. Na parte externa também há um pavilhão para apresentações de música e dança (nos fins de semana) e pequenos barzinhos e restaurantes onde saboreamos uma deliciosa humita.

As agências cobram US$20 para levar de transfer, mas nós fizemos de ônibus e gastamos US$1,5 ida e volta pegando dois ônibus, e gastamos uma hora e meia cada trecho. A entrada optamos pelo full pass a US$7,50 e pudemos transitar pelos espaços. Para visitar o local exato da latitude zero, deve seguir mais adiante e visitar o Museu Intiñan com todos os experimentos e também conhecer mais sobre as culturas dos povos andinos. Custa a metade do preço e é bem próximo deste monumento.

Quito
 Do alto do monumento Mitad del Mundo, a linha que divide os dois hemisférios

Outro passeios como o Parque Itchimbia e Teleférico também são legais de fazer, porém o tempo não colaborou. Esta região andina possui um clima muito instável. Em um único dia, podemos ter todas as estações! Mas com sorte, a tarde lá em cima é excelente para ver o pôr-do-sol. Tome cuidado com o soroche, pois a subida alcança mais de 4000m. Todos dizem que a visão é espetacular, cobre toda a cidade mais os vulcões andinos a sua volta. A moeda do Equador é o dólar e a baixa temporada deles é a alta temporada nossa, pois a maioria dos visitantes são americanos e europeus, ou seja, aproveite o verão para conhecer este país que tem muita geodiversidade e um valoroso patrimônio cultural.

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