Voo_Parapente

Para voar de parapente seguimos com destino Saquarema, município situado na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, onde fica situado a Associação de Voo Livre de Sampaio Corrêa (AVLSC), fundada em 13 de abril de 2007. Atravessamos a Ponte Rio-Niterói e encontramos o Walmir, amigo que trabalha com o Herbert, que é praticante de vôo livre, e que nos conduziu até a sede da Associação.

Chegando ao local, fomos recepcionados calorosamente pela galera que sempre utiliza esse reduto como fuga, pois quando estão voando os problemas ficam pequeninos lá embaixo e lá em cima só o silêncio e uma solidãozinha especial que fascina todo mundo neste momento de intimidade total. Não tem nada, absolutamente nada por perto, a distância reina absoluta, o chão está a centenas, e às vezes milhares de metros de distância, pode gritar, cantar, falar sozinho, e falar com Deus. Em vôo duplo também é possível sentir todas essas sensações, apesar de não estar sozinho.

Sentimos a energia e a magia que eles nos passaram e com esse sentimento seguimos para o local do vôo. Subimos uma serra num veículo 4×4, por uma estrada de barro, até a rampa de decolagem onde efetivamente começaria nossa aventura. Chegando à rampa encontramos outros aventureiros se preparando para voar, enquanto outros já haviam decolados.

Quem nunca sonhou em voar de parapente que atire a primeira pedra. Voar sempre foi um dos grandes sonhos de muita gente. O homem quis voar a muito tempo, sempre tentou dar um jeito de construir máquinas voadoras. Santos Dumont voava no início do século, os irmãos Wright também, Júlio Verne retratava em suas obras as mais incríveis maneiras de voar, o sonho de conquistar o espaço e as estrelas é antigo na humanidade, destacando o céu como um lugar especial, onde seria a morada dos deuses. A aviação sempre foi objeto de admiração de muitos, e quem não tem a oportunidade de ingressar nesse universo acaba recorrendo ao voo livre na tentativa de obter toda a sensação de liberdade que o esporte proporciona.

Voar de parapente é um esporte radical, não motorizado, que utiliza as térmicas (fenômenos de escoamento estruturados na forma de circulações produzidas por convecção térmica na camada limite atmosférica que estabelece condições favoráveis ao voo de aeronaves sem motor, tais como planadores, asa delta e parapentes, proporcionadas pelo movimento de ar quente desde a superfície aquecida até o topo da camada limite atmosférica). Essa atividade térmica ajuda na realização de voos locais ou de grande distância, possibilitando alterar tanto a velocidade quanto a trajetória, e ainda escolher o local de pouso.

Voar de parapente em voo duplo é uma experiência maravilhosa. Sem motor é um voo silencioso e sem vibrações em que você sente liberdade total, você fica ao sabor dos ventos planando como um pássaro, e ainda tendo a oportunidade de filmar e fotografar o próprio voo e as belezas naturais de todo o trajeto. Sentir-se bem durante o voo representa a sua capacidade de olhar as coisas sob uma perspectiva superior, onde é possível ver detalhes que para outros menos atentos, passariam despercebidos.

Bom, vamos ao que interessa. Após as instruções, foi preparado o equipamento para o primeiro salto, que devido à direção do vento nos obrigou a mudar de rampa, pois na rampa tradicional não seria possível decolar.

Advinha que foi a cobaia? Eu, o primeiro a saltar. Sentar naquela cadeirinha pendurada num punhado de cordinhas, todas presas num pedaço de pano e correr na rampa em direção ao vazio foi pura adrenalina, porém tendo como comandante do pedaço o Werneck a tranquilidade foi total. No inicio tem aquela descida repentina, mas logo uma térmica se encarregou de levar a gente pro alto e com a habilidade do instrutor para conduzir o “trem” percorremos alguns quilômetros para a realização de mais um sonho. No percurso avistei riachos, cachoeiras, paredões rochosos e cruzamos em pleno voo com gaviões e urubus, realmente uma sensação indescritível. A intenção inicial era atravessar a face norte da montanha e pousar no campo de pouso da Associação, ao lado da Avenida Amaral Peixoto, porém devido ao vento fraco e a falta de térmica, pousamos no meio de um pasto de boi. Tivemos dupla sorte, primeiro porque neste trajeto quando acontece isso, geralmente o pouso é realizado numa pequena montanha de difícil acesso de nome Chupa-Cabra, e segundo é que por pouco não caímos em cima de um monte de bosta, pois havia centenas delas no pasto. Rsss. Não demorou muito um carro veio nos resgatar.

Na sequência de saltos, decolaram a Juliana, Camila e por ultimo o Herbert, já que o Rafa não quis se aventurar.

Novamente o vento mudou de direção e eles decolaram da rampa tradicional. Eu já estava esperando-os no campo de pouso da AVLSC e pode contemplar o céu recheado de parapentes de cores diversas, num cenário incrivelmente colorido. Uns indo para um lado, outros para o lado oposto, ou voando em linha reta, enquanto outros rodopiavam praticamente um 360 graus, fazendo no céu um lindo bale, realmente muito bonito.

Aguardei a descida, que por sinal foram todas muito boas. Um fato engraçado aconteceu na aterrissagem com a Camila, pois no exato momento da parada, ele levou um tremendo tombo, realmente um verdadeiro salto mortal, lógico sem gravidade alguma, mas muito hilariante, que arrancou risos principalmente da Juliana e de mim.

Com a chegada do Herbert nos despedimos do pessoal e seguimos em direção ao carro, pois devido ao adiantado da hora a fome de todos era grande e precisávamos comer algo. E assim deixamos aquele local, todos felizes e extasiados com mais uma grande aventura. Com a certeza que um dia cruzaremos os céus novamente livres como os pássaros. Até o próximo voo.

Deixo aqui uma mensagem de despedida que o saudoso jornalista Armando Nogueira, que gostava muito de voar, escreveu:

Um dia, alguém me perguntou por que gosto tanto de voar. Devaneio puro. Quem voa, sobrevoa. Quem voa, sobreleva. Quem voa é cúmplice dos ventos. Quem voa perpassa o arco-íris. Quem voa reparte com os anjos a castidade azul do céu. Quem voa sabe que nuvem tem coração de mulher: beija e balança. Quem voa sente o perfume da rosa dos ventos. Quem voa contempla, de perto, o instante em que o sol se cala. Quem voa, quando pousa, está voltando da eternidade. Só quem voa descobre o tamanho de Deus.

Texto: Valdir Neves

Fotos

Dicas

  1. QG do Voo Livre – Escola de Voo Livre de Saquarema – Rodovia Amaral Peixoto KM 52 Sampaio Corrêa – Saquarema – RJ – Atendimento@qgdovoolivre.com.br www.qgdovoolivre.com.br Procurar o Werneck
  2. Assosiação de Voo Livre de Sampaio Corrêa – Instituição de Apoio aos praticantes de voo livre da reigião Acesse: www.avlsc.com.br
  3. Vôo duplo de parapente é uma oportunidade interessante para conhecer melhor o esporte. Procure sempre voar com pessoas habilitadas e com a carteira da ABP (Associação Brasileira de Parapente) em dia.