Do Rio de Janeiro ao Atacama de Motocicleta
Uma expedição cruzando a América na viagem dos sonhos
Atacama de motocicleta foi escrito pelo Valdir Neves com a pespectiva de quem estava no nosso carro de apoio assistindo a tudo que acontecia ao seu redor. Então segura que o texto é grande!
Clique no mapa para ampliar e ver o roteiro detalhado
Três amigos, Herbert, Armando e Jefferson, estavam planejando uma viagem de motocicleta ligando o Rio de Janeiro até o Deserto do Atacama no Chile, com extensão até a escultura “La mano del Desierto” em Antofagasta as margens do oceano pacífico, cruzando assim a América do Sul de leste a oeste. Como sabem que gosto de aventuras me convidaram para participar. Aí eu perguntei como posso se não dirijo motocicletas, então eles responderam vai dirigindo um automóvel como apoio. Proposta prontamente aceita por mim.
Logo me envolvi no projeto ajudando em toda logística para a realização desse sonho deles e porquê não meu também. Afinal quem não sonha em realizar uma viagem dessas passando por lugares fantásticos, que pertence aos domínios dos sonhos, uma viagem simplesmente surreal. Foram vários meses de planejamento com pesquisas de roteiro e cidades onde poderíamos pernoitar, postos de combustíveis, documentação pessoal, do carro e motos, acessórios obrigatórios, etc. Para ler sobre o planejamento, click aqui! Mais tarde outro amigo (Ismar) ao saber da nossa viagem pediu para ir também e foi incorporado a essa missão de me ajudar no revezamento do volante do carro. Assim no dia 10/03/2018 começamos nossa aventura que só terminaria 21 dias depois.
1. Começa a aventura, a surpresa dos amigos na saída e o cansaço na chegada nos dois primeiros dias
Logo na nossa saída tivemos uma bela surpresa, ao chegar no ponto de encontro, lá estavam vários dos nossos amigos nos aguardando para nos desejar boa viagem, além disso, nós escoltaram em várias motos e carros até a saída da cidade. Muito legal e emocionante!
No nosso primeiro dia percorremos mais de 600 Km em sua maior parte através da Rodovia Presidente Dutra e da Regis Bittencourt até a cidade de Registro já no Estado de São Paulo, onde pernoitamos. No segundo dia pretendíamos chegar a cidade de Laranjeiras do Sul no Paraná, percorrendo mais 600 km, mais o cansaço e a falta de ritmo de viagem nos fizeram reduzir em 100 km esse percurso e ficamos em Guarapuava, com trechos ainda na Regis Bittencourt e Rodovia do Café. Em Guarapuava vale a pena conhecer na região central da cidade o Parque do Lago, a Lagoa das Lágrimas e a Catedral Nossa Senhora de Belém.
No nosso último trecho no Brasil um fato inusitado aconteceu. Nos pedágios o carro passava a frente das motos para pagar as tarifas e a catraca liberava uma moto por vez, em um desses pedágios, quando o Herbert foi passar, a catraca fechou na sua frente, fazendo com que a moto tombasse. Nenhum problema, só o susto e a rosto de desespero do operador que pediu mil desculpas. Trafegamos cerca de 400 km através da BR 277, passando por Cascavel, até chegar à cidade de Foz do Iguaçu, localizada na fronteira com a Argentina e o Paraguai. Chegamos cedo a Foz, pois nosso lema era, quando possível, acordar as 6:00 horas, tomar café as 7:00 e zarpar as 8:00. Em Foz realizamos cambio de real para pesos argentinos.
2. Hora de deixar o Brasil e já pegamos o primeiro contratempo
Na manhã do dia seguinte atravessamos a fronteira com a Argentina, após cruzar o Rio Iguaçu, através da Ponte Internacional Tancredo Neves, passando depois por Puerto Iguazu e prosseguindo pela Ruta Nacional 12 ou simplesmente RN 12, que é uma rodovia argentina que faz a comunicação com o resto do país. Une as províncias de Misiones, Corrientes e Entre Rios com Buenos Aires, numa extensão de 1.580 quilômetros, totalmente asfaltados.
Nossa primeira parada na Argentina foi em Puerto Libertad para abastecimento dos veículos, a gasolina lá é conhecida por nafta, como as Hondas tinham pouca autonomia, combinamos de a cada 80/100km, sempre que aparecesse um posto íamos abastecer para não correr o risco de ficar sem combustível. Aproveitamos e enchemos dois galões de 5 litros com gasolina para levar no carro. A malha rodoviária na terra dos hermanos é composta basicamente por vias de pista simples, poucos são os trechos duplicados. Mas de um modo geral as rodovias são bem conservadas e bem sinalizadas.
Nossa intenção neste dia era chegar a Corrientes a cerca de 620 km da fronteira, porém um caminhão que vinha em sentido contrário carregado com toras de pinheiro tombou bem a nossa frente, mais alguns segundos não sei o que seria do grupo, interditando todo o trafego nesta rodovia por horas.
Depois de um bom tempo descobrimos um atalho e seguimos viagem. Este acidente proporcionou uma alteração em nosso cronograma inicial e acabamos pernoitando em Posadas, uma cidade da Argentina, capital da província de Misiones, localizada às margens do Rio Paraná a 320 km da fronteira do Brasil.
Nesta província o que se via basicamente eram plantações de erva mate e pinus. Quem tiver tempo sobrando vale muito conhecer a linda ponte que liga Posadas à Encarnación no Paraguai, passear na Costanera, a rua que passa ao lado do rio, ou conhecer a Plaza 9 de Julio, a praça da igreja matriz que é um ponto de referência no centro da cidade.
3. Cadê as motos? Chuva, muita chuva!
Nosso 5º dia começou com o tempo bastante nublado, a intensão era seguir pela ruta RN 12 e depois pela RN 16, em direção a Presidencia Roque Saenz Pena, uma cidade localizada na província de Chaco, situada a 500 km de Posadas. Ainda na cidade nos perdemos das motos que seguiam na frente e dobraram em alguma esquina que não vimos. Paramos um pouco na esperança deles voltarem, mas isso não ocorreu. Como tínhamos combinado de parar no primeiro posto, resolvemos seguir viagem e com certeza quem chegasse ao posto primeiro esperava o outro. Não foi preciso, após alguns quilômetros na estrada debaixo de uma tempestade reencontramos as motos andando em velocidade reduzida por conta da pouca visibilidade.
Esse é um trecho de planície com retas intermináveis, que sumiam no horizonte. Já sem chuva e um forte calor, passamos pela imponente e bela obra da engenharia argentina, a ponte General Belgrano que liga as margens do Rio Paraná as cidades de Corrientes e Resistência. Na província de Corrientes o terreno se apresenta totalmente plano, com alguns banhados e grandes fazendas de gado a beira da estrada. Chegamos a Presidencia Roque Saenz Pena quase anoitecendo.
4. O trecho mais temido e longo da viagem até San Salvador de Jujuy
No sexto dia após o café da manhã pegamos novamente a RN 16 para percorrer o trecho mais temido e longo, 680 km até Jujuy. A paisagem vai mudando aos poucos, o charco vai secando, e um terreno plano sem fim se espalha pela província do Chaco, postos de combustíveis bem espaçados, poucos lugares para fazer paradas, aparecem raros povoados com eventuais casas e grandes plantações, as retas são infindáveis a ponto de ficar monótono. Sabíamos que iríamos passar por um trecho sem nenhuma estrutura que cruza as províncias do Chaco e Santiago del Estero. Nesta região do Chaco, no norte da Argentina faz um enorme calor, é muito quente, é tão quente que existe um lugarejo chamado Pampas del Infierno.
Mas a estrada fica pior, chove forte, um trecho grande com muitos buracos para desviar, num desses a motocicleta do Herbert sai da pista e vai para o acostamento de grama molhada, derrapa, mais a baixa velocidade permite a ele controlar e voltar à pista, que susto! É prudente reduzir a velocidade, principalmente das motos, nesse trecho de cerca de 50 km entre Taco Pozo e El Quebrachal.
Novamente a estrada fica em boas condições e muitos quilômetros depois deixamos a RN 16 e entramos na RN 9, uma ótima estrada, próximo a Rio Piedras. As rutas RN 34 e RN 66 cortam e contornam os morros com suaves curvas até o nosso destino final naquele dia, San Salvador de Jujuy. Em determinado momento na estrada começamos a ver a Cordilheira dos Andes ainda longe, porém somente vê-la e perceber ela se aproximando aos poucos a motivação aumenta. Antes de General Güemes, a RN34 (que vai a Jujuy) separa da RN 9 que segue até Salta.
Pretendíamos visitar a bela cidade de Salta na volta, mas por falta de data não foi possível, fica para a próxima. A linda San Salvador de Jujuy foi fundada pelos espanhóis em 1593 em uma região outrora dominada pelos incas e conhecida como Jujuy. Vale uma visita a Plaza Belgrano onde ficam os principais edifícios do período colonial, como a Catedral de 1753, a Casa de Gobierno, em estilo barroco francês, e o prédio do Cabildo, entre outros.
5. O dia esperado por todos, atravessar a Cordilheira dos Andes e o Paso Jama
Em nosso 7º dia de viagem percorremos cerca de 480 km pela RN 52 em solo argentino e pela RN 27 em terras chilenas, até San Pedro de Atacama no Chile. Saímos cedo de Jujuy, pois sabíamos que o ideal era chegar até o Paso Jama, antes das 15 horas, para evitar de descer a Cordilheira a noite, além do risco de animais na pista, o frio seria um transtorno a mais. Tínhamos lido diversos relatos dizendo para não sair tarde do Paso Jama.
Falhamos e não colocar gasolina na cidade de Jujuy e na estrada não encontramos nenhum posto, fomos obrigados a usar nossa reserva que estava nos galões no carro, somente em Tilcara, uma cidade fora da rota foi possível reabastecer, com isso perdemos tempo e rodamos 60 km a mais. Depois retornamos a rota normal e seguimos em frente, avistando no horizonte algumas montanhas, o que significava que estávamos mais perto da Cordilheira dos Andes. Paramos perto do vilarejo de Purmamarca já no início da Cordilheira, a cerca de 2000m de altitude, onde tivemos nosso primeiro contato com os Andes, vislumbramos também a montanha de sete cores neste vilarejo e onde começou a nossa verdadeira aventura. No Chaco, muiiiiiita reta. Aqui, muita curva e muuuuita curva subindo a incrível Cuesta del Lipán em zig zag.
A sensação de se estar em uma das regiões mais inóspitas do planeta é sensacional. Paisagens indescritíveis, céu azul e emoções únicas. Depois de dezenas de curvas, serpenteando entre morros com muito verde e beirando penhascos, pedras e muitos cactos, paramos no Mirante Cuesta de Lipan para as tradicionais fotos, com um belo visual das curvas lá embaixo, e mais adiante no Monolito 4170 MSNM.
Após o Monolito podemos ver longe o Nevado del Chañi, que é uma montanha de 6200m, cujo cume está sempre coberto de neve. Tivemos que nos policiar para não parar toda hora pra tirar fotos, pois a cada curva a paisagem mudava de ângulo, realmente lindas. Mais alguns quilômetros chegamos a Salinas Grandes, maravilhoso, é um enorme salar de 212 km quadrados, cortado pela estrada. Paramos, tiramos muitas fotos, o pessoal das motos foi assediado e virou atração no local. Diversos turistas se interessaram pelas motos e pela nossa aventura. Quiseram tirar fotos com o grupo e com as motos. Tivemos nosso momento de fama. Kkkkk. O Menino maluquinho (Jefferson), não perdeu tempo e “vou” nas salinas com sua BMW.
Dali seguimos para Susques, uma cidade minúscula, sem qualquer estrutura, a não ser por um posto de gasolina, com uma única bomba onde abastecemos mais uma vez. Esse é um posto estratégico, principalmente para motos com pouca autonomia como as nossas Hondas. Almoçamos no único restaurante da cidade, parada obrigatória para dezenas de motociclistas de varias nacionalidade que estão indo ou vindo do Atacama, onde trocamos informações, contamos e ouvimos histórias. Mas não da para perder muito tempo, logo rumamos em direção ao Paso Jama, a fronteira com o Chile, a cerca de 120 quilômetros.
A partir dos 3300m, ou seja, em alta altitude, com o ar rarefeito, os motores das duas motocicletas shadows começaram a perder desempenho de maneira bastante sensível, pois elas possuem carburadores e necessitam de oxigênio para a combustão. A solução encontrada pelos amigos foi a retirada do filtro de ar, ação essa que não impediu o grupo de seguir viagem.
O Paso de Jama fica a 4,2 mil metros de altitude. Passamos tranquilo pela burocracia da aduana, que é conjunta entre os dois países, apesar de ter que entrar em algumas filas e passar de guichê em guichê para assinar e carimbar documentos e fazer inspeção das motos e carro. Logo alcançamos a placa da fronteira Argentina-Chile, a terra dos hermanos havia ficado para trás, dali a estrada serpenteia até se perder no meio da cadeia de montanhas, e em pouco mais de 150 km estaríamos em San Pedro. Cruzamos o ponto mais alto de toda a viagem, a quase 4900m de altitude, e mais uma vez fomos contemplados com belíssimas paisagens e a sensação de sermos ínfimos diante da imponente cordilheira é indescritível.
Pegamos um frio considerável, os amigos das motocicletas estavam preparados para o que der e vier, camada de segunda pele, balaclava e tudo mais que tinha direito para combater o frio. Apesar das dificuldades com a altitude e o frio, esta sensação era afastada com a beleza e a magia das montanhas com neve em seus cumes em contraste com um céu limpo e azul. A descida da parte alta da cordilheira até San Pedro é brusca, pois num percurso de 60 km, baixamos mais de 2000 metros, e neste trecho começamos a perceber que realmente estamos chegando ao deserto, paisagens alucinantes, uma imensidão desértica arenosa com pequenas formações rochosas, elaborando em nossas mentes diversas figuras.
Observamos por várias vezes muitas lhamas e vicunhas pastando, tanto na parte alta das montanhas como na parte baixa, a beira da estrada, é preciso ter muita atenção. E numa curva aconteceu, atropelamos uma, não sabemos até agora se foi uma lhama ou uma vicunha, pois mesmo cambaleando ela sumiu por entre um pequenino arbusto existente.
Meu amigo ao volante e eu ficamos perplexo com o acontecimento, pois todos somos ecologistas. Conclusão, farol quebrado e outras pequenas avarias no carro. Continuamos nossa aventura descendo sempre em direção a San Pedro, mesmo com um farol quebrado. A esta altura do percurso o astro-rei com um tom alaranjado já se preparava para se debruçar atrás das montanhas, nos proporcionando um pôr-do-sol espetacular, magnífico, foi um privilégio estarmos ali naquele momento. E também foi animador quando avistamos bem longe, lá embaixo, no meio do nada as luzes acesas da pequena San Pedro, onde chegamos quase na penumbra para achar um hotel. Todo grupo, apesar do frio, da altitude e do cansaço, sentiu um certo alívio ao descer a cordilheira e chegar ao vilarejo de San Pedro de Atacama (2400m) bem, depois de percorrer naquele dia quase 500 km.
O vilarejo é diferente de qualquer cidade turística que se possa imaginar, é pequeno e as calles não são pavimentadas, mas é seguro e bem aconchegante, além de oferecer uma boa infraestrutura de restaurantes, hospedagem e lazer. É destino certo de pessoas de todo planeta e, claro também de motociclistas.
6. Dois dias em San Pedro de Atacama, descansar, passear e tentar consertar o carro
Na manhã seguinte, depois do café caminhamos pelas ruelas, e principalmente pela Caracoles, a mais badalada da cidade, afim de cambiar pesos chilenos e marcar passeios numa das várias agências existentes ali, pois ficaríamos 2 dias na cidade. A tarde depois do almoço, ficou reservada para conserto do farol, pois sabíamos que em San Pedro não encontraríamos este acessório. Tarefa difícil este conserto, pois estava todo dilacerado, dezenas de pedaços, porém para o nosso amigo Jefferson Magaiver ou MacGyver, nada é impossível, e o quebra-cabeça foi montado. Ficou faltando apenas a lâmpada do pisca-pisca que queimou.
No dia seguinte uma van nos pegou no hotel antes das 05h00min da manhã para um tour até os Gêiseres del Tatio, uma das principais atrações da região. A viagem até o local durou quase 100 km (2 horas). No parque, o maior da América do Sul, a nossa guia foi explicando toda história do lugar, enquanto caminhávamos por entre os gêiseres, observando os jatos de vapor e água quente. Fazia muito frio, temperatura abaixo de zero. Seguimos depois para a piscina termal bem próximo dali, somente eu, Herbert e o Jefferson entramos, dentro água quente, fora um frio animal. Os gringos, inclusive crianças entravam e saiam na boa.
Na volta já claro, passamos por lugares lindos, no Rio La Putana vimos animais andinos como as vicunhas, e diversas aves. Paramos ainda no pitoresco povoado de Machuca, que possui apenas uma rua de terra com algumas casinhas de adobe com telhado de palha e uma igrejinha no alto do morro. Ali comemos churrasco de lhama. Passamos o resto da tarde na cidade de San Pedro passeando. Nossa intenção era irmos ao final da tarde no Vale da Lua e da Morte, porém o cansaço falou mais alto. Em nosso roteiro inicial estava reservado um dia para a Reserva Nacional dos Flamincos e Lagunas Altiplânicas, porém foi este dia que ficou para o conserto do farol.
As cores e paisagens do Atacama
7. Faltam os últimos objetivos: chegar ao Pacífico e La Mano del Desierto
Trecho: San Pedro – Mano del Desierto – Antofagasta
Após dois dias sem rodar, colocamos novamente as motocicletas e o carro na estrada. Saímos bem cedo do hostel com destino a Antofagasta no pacífico e La Mano del Desierto, distante 365 km. Tempo lindo, céu azulão, no início passamos nas proximidades do Vale da Lua, com visão de várias formações rochosas, depois subimos novamente a quase 4 mil metros, na paisagem, apenas a vasta beleza do deserto com as montanhas ao fundo, simplesmente divinal.
Passamos e paramos para abastecer em Calama, importante cidade do norte do Chile, onde existe a maior mina de cobre do mundo. Depois pegamos a estrada em direção a Antofagasta, outra importante cidade chilena que é banhada pelo Oceano Pacífico. Passamos pela entrada da cidade e seguimos direto para “Mano del Desierto”, uma escultura de concreto enorme de uma mão saindo da areia do deserto, localizada às margens da Ruta Panamericana, nosso objetivo final, o ápice de nossa aventura e parada obrigatória de todo grupo de motociclista que se aventuram viajar por estas paragens da América do Sul.
“Pude perceber na chegada a emoção indescritível estampada em cada rosto de meus amigos e também lágrimas, eu também fiquei muito emocionado por vivenciar a conquista deles, e porque não a minha também. Nos abraçamos e curtimos aquele momento único, momento de superação, como eu sonhava com aquilo e acho que eles mais ainda.”
Fotografamos muito, o Menino Maluquinho, resolveu subir com sua BMW uma montanha próxima e depois descer a todo vapor, digo com toda poeira, show kkkkkkk. Seguimos para Antofagasta onde pernoitamos. Antes, caminhamos pelo calçadão da orla e novamente o Maluquinho não resistiu à tentação, e foi sentir as águas limpas e geladas do Oceano Pacífico.
Antofagasta
8. Começa a grande viagem de volta
Em nosso 11º dia de viagem, nossa intenção era conhecer o Monumento Natural La Portada, que fica dentro de uma área ambientalmente protegida que cobre uma imensa região de falésias onde o deserto do Atacama encontra o Oceano Pacífico. Ela é a atração número um da cidade, e uma visita a esse lugar não pode faltar na sua lista do que fazer em Antofagasta. Porém nossa prioridade foi procurar um farol nas concessionarias locais, o que acarretou na perda de muito tempo. Não encontramos o farol, mas a lâmpada sim, e desta forma, ali começamos nosso retorno para casa.
Voltamos a San Pedro, no caminho vimos paisagens lunares de uma beleza surpreendente, que não percebemos na ida, formações rochosas contrastando com o céu mais azul que nunca, e mais à frente o vulcão Licancabur, que nos brindava com sua beleza e imponência até San Pedro de Atacama, de onde pode ser visto de qualquer local da cidade. Pernoitamos mais uma vez lá.
9. Novamente a cordilheira, mas dessa vez as motos tiveram um empurrãozinho!
Continuamos nosso retorno, saímos como na maioria das vezes cedo da pousada, já com as motos e carro abastecidos no dia anterior no único posto da cidade e bora cruzar os Andes novamente. O deserto continuou oferecendo paisagens fantásticas, apesar da imensidão arenosa, a cada trecho percorrido tínhamos uma visão diferente das montanhas, do que estava próximo e do que estava longe, das cores variadas. Apesar do sol que brilhava intensamente e do céu azul, enfrentamos bastante frio nesse início.
Depois de uns 15 minutos de subida, o carro teve problema com superaquecimento, putz, o pessoal da moto tinha adiantado um pouco, o que fazer? Esperamos alguns minutos e seguimos adiante, sempre mais prudente que na ida, de olho no painel do carro, vendo a temperatura e na estrada, muitas lhamas e vicunha nas montanhas, hehehe. Encontramos o restante do grupo próximo à fronteira com a Argentina. Trâmites rápidos na aduana, não perguntaram sobre o farol e seguimos em frente.
Um fato curioso aconteceu nas partes altas das montanhas, as motos carburadas ficaram novamente sem potência e simplesmente foram “rebocadas” pelo maluquinho do Jefferson, que com um dos pés as empurrou por muitos quilômetros.
Também observamos o nosso amigo com sua BMW saindo abruptamente do asfalto e sumindo velozmente na parte arenosa da imensidão do deserto, que bicho maluco, kkkkkk.. Horas depois passamos por Purmamarca e depois chegamos a San Salvador de Jujuy.
10. Presidencia Roque Saenz Peña, Posadas e putz! o carro parou de vez!
Pernoitamos em San Salvador e no dia seguinte partimos em direção a cidade de Presidencia Roque Saenz Peña, a cidade das motoquinhas, como tem motocas ali. Esse é aquele trecho mais longo e o carro novamente apresentava problemas de aquecimento que não conseguíamos descobrir, paramos muito, chegamos a cogitar a possibilidade de ficar em Monte Quemado, que fica no meio do caminho, mas resolvemos seguir caminho e chegamos a cidade já ao anoitecer. No dia seguinte mais 500 km até Posadas, sempre com várias paradas para verificar as condições do carro.
No 15º dia do trajeto seguimos de Posadas para Foz do Iguaçu, 350 km nos separavam da fronteira com o Brasil, mas quando restavam pouco mais de 150 km, ao parar em um posto de combustível para reabastecer, o Herbert resolveu que o melhor seria rebocar o carro até a cidade brasileira, para não comprometer o motor do carro.
Enquanto discutíamos como fazer, um carro parou ao nosso lado e seu ocupante falando em português nos perguntou se precisávamos de ajuda. Era tudo que precisávamos, o Raul, brasileiro e morador da cidade de Puerto Rico, Província de Misiones viu a placa do carro e caput aberto, não teve duvida em nos ajudar. Com conhecimento da cidade, nos ajudou a encontrar um reboque e em pouco mais de uma hora estávamos de novo na estrada seguindo para o Brasil. Enfim chegamos ao Brasil, debaixo de muita chuva, mas felizes pelo desfecho, no Brasil seria mais fácil consertar o carro.
11. Carro consertado, uma noite na casa de amigos em Itatiba não planejada e enfim…chegamos em casa!
No domingo pela manhã, no estacionamento do hotel, descobrimos o problema, junta do cabeçote queimada e bomba d’agua com defeito, nada poderia ser mais feito nesse dia, descansamos aproveitamos a tarde para ir as compras na Ciudad del Este no Paraguai. Na segunda e terça-feira realizamos a troca das peças e uma revisão geral do carro em Foz. Também na segunda-feira fomos surpreendidos pelo Ismar que nos deixou para voltar ao Rio de Janeiro de avião, alegando suposto problemas particulares. Vida que segue.
Enfim na quarta continuamos nosso retorno ao Rio de Janeiro, agora fazendo um trajeto diferente da ida, passando pela bela Londrina no Paraná. No dia seguinte pretendíamos chegar via Campinas até São José dos Campos(SP), já em plena Rodovia Presidente Dutra, porém um diluvio nos pegou no município de Itatiba. Sorte a nossa que temos um amigo e irmão de viagem que mora nas proximidades. Conclusão, foi a nossa salvação, pernoite garantido. Hehehehe. Bem tratados pelos nossos irmãos Valério e Eloisa e sua amiga Zilda, enfim na sexta-feira santa, depois de 21 dias de pura aventura e mais de 8000 km percorrido chegamos ao Rio a tempo de almoçar com nossos familiares.
12. Considerações finais
“Foi realmente uma viagem dos sonhos, conhecemos lugares surreais que ficarão pra sempre em nossas memórias. Enfatizo aqui a garra e determinação de todos, principalmente dos motociclistas, que além do cansaço, enfrentaram altas temperaturas devido ao sol escaldante, muita chuva e frio intenso, sobretudo quando cruzamos as grandes altitudes dos Andes. Parabéns irmãos vocês foram guerreiros e parabéns principalmente pelos sonhos que foram concretizados.”
Valdir Neves
Dicas
- Apesar de termos conhecimento de problemas com a polícia, com cobrança de propina a brasileiros que viajam para a Argentina, em toda nossa viagem não tivemos problema algum com a Polícia Caminera e nem com Gendarmaria Nacional Argentina, que é a principal força de segurança do país e nem tampouco com os Carabineiros chilenos.
- Esta viagem pode ser realizada por qualquer motocicleta se for via o Paso Jama, para a cidade de San Pedro de Atacama. O trajeto desde o Brasil até lá, é 100% asfaltado.
- Na alta altitude da Cordilheira dos Andes pode ocorrer perda de potência com motos com carburadores, porém nada que atrapalhe o prosseguimento da viagem. Qualquer moto com injeção eletrônica, não irá ter problema ao rodar em alta altitude.
- Quanto as reações em pessoas em altas altitudes, cada qual reage de uma forma. Alguns sentem um pouco de dor de cabeça, enjoos, outros, nada sentem. A dica é beber líquido regularmente.
- O ideal é chegar à Aduana do Paso de Jama antes das 15 horas, para não correr o risco de percorrer um bom trecho à noite. É bom lembrar que ela fecha todos os dias, às 8 da noite.
Hotéis que usamos:
- Lito Hotel em Registro (SP)
- San Marino Hotel em Guarapuava (PR)
- Hotel Dan Inn em Foz do Iguaçu (PR)
- Postanorte Hotel em Posadas / Argentina.
- Hotel Orel em Presidencia Roque Saenz Pena / Argentina.
- Augustus Hotel em San Salvador do Jujuy/ Argentina.
- Hostal Diemi em San Pedro de Atacama / Chile.
- Hotel Diego de Almagro em Antofagasta / Chile
Para ver o Planejamento completo dessa viagem, Clique aqui!
Veja outros Posts dessa grande aventura
- Do Rio de Janeiro ao Atacama de motocicleta – Planejamento
- Perguntas e respostas sobre viajar de motocicleta para o Deserto de Atacama
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Olá Mateus!
Não tenho os dados separadamente, porque toda despesa foi dividida igualmente já que o carro de apoio serviria a todos. Então vamos lá, o custo total abaixo se refere a, combustível, hospedagem e pedágios:
Combustível: R$ 8.233,00
Hospedagem: R$ 7.797,00
Pedágio: R$ 1.105,00
Custo para cada participante: R$ 3.524,00
Só lembrando que isso foi em Março de 2018 e a gasolina esta na casa de R$ 4,20.
Caso tenha interesse no final de 2019 fizemos uma viagem de moto para o Peru, dessa vez sem carro de apoio e com 5 big trail.
https://toperambulando.com.br/expedicao-de-motocicleta-a-machu-picchu-2/
Quem trip incrível! Parabéns pela riqueza de detalhes e empenho em descrever cada passo dessa aventura! Espero poder fazê-la em breve também!! Gostaria de saber se vocês tem a média do custo geral com hospedagens e qual foi o custo final de combustível de cada moto e do carro. Acredito que a moto injetada tenha tido uma economia sensível em relação as outras.
Grande abraço e obrigado mais uma vez por dividir essa gigante experiência conosco! É possível sentir a adrenalina junto ao ler o texto!
obrigado pessoal pelas boas dicas. Estamos planejando esta viagem.
Obrigado Matheus!
Qualquer dúvida é só perguntar.
Ta de brincadeira, que linda viagem meus irmãos.. em breve sou eu e minha Shadow 750 (carburada).. mas, pelo que vi, não é bicho de 7 cabeças, né.. só tirar o filtro de ar e seguir adiante.. Parabéns novamente, sensacional!!!
Boa tarde primo , realmente foi uma experiência inigualável cruzar a América do sul em uma Moto , nem eu acreditava que conseguiria , mais graças a programação de um amigo que é mais que um irmão , fizemos uma viagem maravilhosa , obrigado por ter visto o tamanho da aventura , um forte abraço do teu velho primo
Muito obrigado Tânia!
Nota 10 essa viagem, realmente inesquecível. Adorei o texto os relatos com descrições pertinentes a quem que fazer uma aventura como essa. Parabéns à todos e mais aventuras como essa!
Parabéns, a toda equipe. Principalmente, a esse primo guerreiro, Armando Garcia. Fiquei maravilhado com tanta beleza. Abraço a todos. Cloves primo do Armando, de Boa Vista Roraima.
Obrigado amigo Osmar pelo elogio. Com toda certeza daria para escrever um livro, porém para o texto não ficar maior ainda, deixamos de mencionar muitos fatos ocorridos que com certeza iam enriquecer e elucidar ainda mais este relato de nossa aventura.
Muito bem escrito.Com certeza daria um livro