trekking ao campo base do everest

Este post foi atualizado em junho de 2019,
sem contudo alterar o relato do autor

O Himalaia é a mais alta cadeia de montanhas do planeta, também conhecida como o “Teto do Mundo”. São cerca de 110 picos com mais de 7300m de altura, culminando com o Monte Everest. Trata-se de uma região inóspita, gelada, com pouca vegetação, ventanias frequentes e seca. Os lagos são alimentados pelo derretimento de geleiras que se formam acima de 5 mil metros de altitude nas montanhas.

O gigante, o maior de todos os montes, o Monte Everest mede 8.850 m de altura, possui forma de pirâmide e está localizado na fronteira do Tibet com o Nepal, na parte central cordilheira do Himalaia, fica coberto eternamente de neve com uma camada no pico variando ao longo do ano entre cerca de 1,5 m (maio) a 6 metros (setembro) de espessura e isso causa alguma controvérsia quanto a sua altura exata. Aventurar-se nessas montanhas significa enfrentar escassez de oxigênio, ventos fortes, temperaturas extremamente baixas, entre outros perigos.

Apesar desses obstáculos, as montanhas atraem olhares para suas imensas alturas, e com um misto de temor e fascinação elas são admiradas e endeusadas por muitos, e continuam representando para muitas culturas, a morada dos deuses. E mais recentemente vem provocando fascinação em alpinistas, trekkers e turistas do mundo inteiro, aumentando a intensidade de um contato direto com esse lugar indescritivelmente mágico.

E foi assim com o maior deslumbramento que nos sentimos no Nepal, no país das alturas e dos mistérios, na terra dos sherpas e das histórias de conquistas e tragédias do montanhismo.
Passamos vários dias encantados nesta região mágica percorrendo lugares incríveis e fascinantes nas encostas de suas majestosas montanhas que se elevam a alturas impossíveis.

Mapa do Trekking

O trajeto tradicional do trekking ao campo base do Everest é feito pelo Nepal através do Parque Nacional de Sagarmatha que circunda essas montanhas e está na lista de patrimônios naturais da Unesco.

A pesada caminhada até ao Campo Base do Everest não é tecnicamente difícil, no entanto é necessário estar em boas condições físicas e ficar atento aos sintomas do mal da altitude. Mas, acima de tudo, é necessário disposição, vontade de emergir num mundo remoto e muita determinação para completar cada etapa da trilha.

1º Dia:  Voo para Lukla e Trekking à Monjo (2.600m)

Finalmente chegou o grande dia, após três dias em Katmandu, com todo material e equipamentos comprados e alugados, duffle bags de cada pessoa com peso inferior a 20 kg, e após um pequeno café da manhã no hotel, o grupo composto por 20 aventureiros (10 catarinenses, 6 paulistas, 2 gauchos e Eu e Herbert, cariocas) embarcou em um micro-ônibus até ao aeroporto doméstico de Kathmandu.

Só conseguimos voar depois das 10 h, devido às condições climáticas não se encontrarem propícias para um vôo seguro. Como cada avião bimotor só tinha capacidade para 15 passageiros o grupo foi dividido em dois e transportado até o Aeroporto Tenzing-Hillary em Lukla, que dizem ser o mais perigoso do mundo, pois possui uma pista muito curta, com cerca de 500 m e bem inclinada, esculpida na encosta a mais de 2800m de altitude na região do Khumbu entre as montanhas do Himalaia. No momento da aterrissagem, muita adrenalina, pois os aviões que pousam não podem arremeter, devido as enormes montanhas a sua frente e os que decolam, não podem falhar devido ao imenso abismo existente logo após sua cabeceira. Qualquer falha, um abraço, hehehehe. Esta viagem dura cerca de 40 minutos, e é uma das rotas aéreas mais bonitas do mundo, e com toda certeza nossa aventura começou neste vôo, que ficou marcado para sempre em nossas lembranças, pois as tão sonhadas montanhas da cadeia do Himalaia com seus cumes cobertos por neve, estavam ali, bem aos nossos pés, erguendo-se a alturas que não supúnhamos que fossem possíveis. Todos ficaram extasiados com este cenário e ansiosos pelo que encontraríamos na trilha. Uma dica de quem vai de Kathmandu para Lukla é sentar do lado esquerdo do avião.

No aeroporto de Lukla, o grupo reuniu-se no Himalaya Lodge para um reforço no café da manhã, juntamente com o lemon tea, chá que praticamente beberíamos em todos os lodges onde parássemos. Novamente foi lembrado a importância da hidratação, consumo de cerca de 4 litros diários e os cuidados com a água, que para cada litro era necessário o uso de uma pastilha de iodo, esperando cerca de 1 hora para consumi-la. Retiramos alguns itens necessários dos duffle bags e nos dedicamos a filmar e fotografar a movimentação no aeroporto, atentos sempre aos pousos e decolagem dos aviões e helicópteros, até que todas as providências fossem resolvidas para o início da caminhada. Fomos apresentados aos sherpas e demais membros da equipe que por 16 dias nos acompanhariam durante todo o percurso. De posse dos equipamentos e mochila, enfim começou o nosso grande desafio, o trekking até ao acampamento Base do Everest. Apesar de um certo receio pelo desconhecido que vinha pela frente o sentimento predominante foi de felicidade por estar embarcando em uma experiência esperada com tanta ansiedade e intensidade a muito tempo.

Lukla é um ótimo ponto de partida, pois além de propiciar uma fantástica vista das cadeias montanhosas, permite um primeiro contato mais próximo com modo de vida local. Realizamos uma caminhada de quase 6 horas de duração até o vilarejo de Monjo, nosso objetivo do dia, onde pernoitamos à beira do Dudh Kosi, o Rio do Leite, no Mount Kailash Lodge, o primeiro dos muitos lodges que seriam nossas hospedagens no caminho até o Acampamento Base do Everest, um dos poucos com banheiro e chuveiro com água quente dentro do quarto. Esse foi um dia para começarmos a nos adaptar ao o ritmo da caminhada, não houve nenhum ganho de altitude, pois permanecemos a cerca de 2800 metros, porém descemos a 2500 m e subimos novamente a 2800. A trilha fez a gente esquecer rapidamente a agitação urbana de Kathmandu, e uma realidade nova aparecer a cada curva, Stupas, rodas de oração, paisagens montanhosas, travessias de pontes, caminhantes, carregadores e o dzo.(híbrido do iaque com o gado doméstico). Os iaques só veríamos em grandes altitudes.

Neste dia caminhamos aproximadamente 3 horas até Phakding (2.650 metros), onde paramos para almoçar rapidamente, a comida servida é padrão ao longo de toda a trilha. Macarrão, arroz, sopas, alguns legumes e chás e por sugestão do nosso guia a maioria escolheu um prato característico do Nepal: o Dal bhat, que inclui basicamente arroz, legumes e lentilhas, prato preferido do Herbert (Heberto para os sherpas). A partir desse momento, já com nosso nome em um caderno, o sherpa de nome Nhara, anotava o nosso pedido para a próxima refeição, agilizando assim todo processo. Seguimos logo depois para Monjo, pois a estratégia de prosseguir adiante teve grande ganho no dia seguinte, pois caminharíamos menos até Namche Bazar e ficaríamos com toda tarde praticamente livre. Nosso guia nos orientou como proceder com relação aos carregadores e animais com carregamento que encontraríamos na trilha, sempre dando preferência a eles e ficar sempre do lado da encosta e nunca das ribanceiras, pois havia relatos de acidentes por causa de um encontro. Vislumbramos a nossa primeira grande montanha, o monte Kumbila com seu cume totalmente nevado.

O grupo jantou no lodge e ouviu o briefing para o dia seguinte, onde fomos orientados sobre o que levar na mochila, cuidados sobre aclimatação e tudo sobre a regra dos horários: 6 – 7 – 8 (acordar as 6:00h, arrumar os duffle bags, colocando-os do lado de fora dos quartos para o transporte dos carregadores e realizar a higiene pessoal até as 7 e tomar café e sair até as 08:00h) que serviria para todos os lodges daqui pra frente. É interessante destacar que o único local com aquecimento em todos os lodges do trekking era justamente onde eram realizadas as refeições, através de uma estrutura de ferro, com chaminé que expelia a fumaça para fora do ambiente, onde eram queimadas lenhas ou fezes seca dos iaques nos lodges situados em grandes altitudes onde não havia lenha disponível.

2º Dia:  Monjo / Namche Bazaar (3.400m)

A partir deste dia, seríamos acordados pontualmente às 06:00 da manhã, com um “bôo dia” por nossos simpáticos e atenciosos sherpas que batiam na porta de cada quarto com uma xícara de chá para cada um de nós.

Após a saída de Monjo, seguimos a trilha pelo Vale do Dudh Kosi e passamos pelo Centro de Visitantes bem na entrada do Parque Nacional Sagamartha, considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, onde 0 Manuel Morgado demonstrou novamente através de uma maquete ali exposta, todo seu conhecimento das montanhas do Himalaia, permitindo a todos uma pequena visão do que teríamos que enfrentar nos próximos dias de trilha. Ao entrar no parque obtivemos uma visão espetacular do Monte Thamserku com seus 6618m de altitude. Continuamos caminhando ao longo do leito do rio Dudh Koshi, ladeado por uma bela floresta de pinheiros, pegando depois uma grande subida e atravessando inúmeras pontes suspensas que, felizmente, foram refeitas em metal, sendo uma delas a famosa Ponte Hillary. A pouco tempo atrás, o trekking ganhava mais emoção com a travessia das pontes de madeira. Imagine cruzar um rio, a uma altura de mais de 100 metros, dividindo a ponte de madeira com outros turistas, carregadores com mais de 50 kg nas costas e os iaques, animais típicos da região, parecidos com bois, usados também para transporte de cargas.

Chegamos a um pequeno mirante de onde avistamos pela primeira vez o nosso principal objetivo, bem acima dos cumes do Lhotse e Nuptse, o Monte Everest, lá estava ele, imponente entre as folhagens da vegetação ali existente, com seu jet stream eterno sobre seu cume, contrastando com um céu totalmente azul, realmente um cenário fascinante. Cerca de 1,5h depois chegamos a um ponto de abastecimento de água, onde avistamos novamente a montanha mais alta do mundo. Chegamos a Namche Bazaar (3400 metros), maior

vilarejo e principal centro comercial da região do Vale do Khumbu após 5h de caminhada, superando um desnível de 600 m, e seguindo diretamente para o Lodge Ama Dablam para almoçar. De certo trecho da trilha obtemos uma visão magnífica do vilarejo que fica localizado em um vale, ladeado por belas montanhas nevadas. A partir deste lodge, por possuírem banheiros coletivos ocorreriam sorteio para ordem de banhos. O nome Bazaar vem da tradição comercial desta importante cidade da região do Khumbu, com um bom número de cafés (com internet), lodges e lojas, inclusive para comprar aquele último equipamento que faltou nas aquisições em Kathmandu e artesanatos. Lógico com preços superiores. Este foi um dia difícil, porém as visões dos vales do rio do Leite e do Everest recompensaram o grande esforço.

Com o restante da tarde livre, descansamos, atualizamos nosso diário de viagem e acessamos a internet (wi-fi grátis). Junto com parte do grupo, seguimos a dica do Manoel Morgado e comemos a famosa e gostosa torta de maçã do Herman Helmers Bakery. A partir deste dia começamos o utilizar o saco de dormir para amenizar o frio intenso que fazia dentro dos quartos dos lodges, que em certas manhãs quando acordávamos marcava quase 10 graus negativos.

 3º Dia:  Namche Bazaar / Thamo (3.400m)

Sob um céu extremamente azul nosso grupo saiu da rota tradicional de trekking para o acampamento base e seguiu na direção norte para o vale Thame, portão de entrada para o Tibet. Na saída de Namche encontramos várias stupas, rodas de oração, e pedras com textos sagrados entalhados, sempre passando ao lado direito, ou tocando com a mão direita estes símbolos do budismo. Realizamos parte da trilha em meio as florestas de coníferas e rododentros que completam o espetacular cenário deste trecho, onde vimos pela primeira vez o faisão real, ave símbolo do Nepal e paramos nas proximidades de um rio em Lawudo, outro local para abastecimento de água, onde o Manuel Morgado propôs ao grupo a saída da trilha normal mais longa, por uma mais curta em off road, com cerca 100m de um aclive bem mais acentuado, esta opção seria da responsabilidade de cada um para verificar o seu desempenho para executar um trecho maior no dia seguinte.

O grupo ficou dividido, porém todos chegaram praticamente juntos ao destino, ou seja, a um pequeno monastério situado a 3800 metros acima de Thamo, que fazia parte do nosso plano de aclimatação.

Fomos carinhosamente recebidos pelos monges, inclusive Ani, única monja que reside neste lugar a mais de 20 anos, almoçamos batatas cozidas com manteiga, temperados com yerma, um tempero local. Logo após aprendemos mais a filosofia budista com uma meditação para o grupo, conduzida por um monge israelense que visitava o mosteiro. Passamos algumas horas de paz e harmonia neste tranqüilo refugio localizado bem no alto da montanha e cercado por elas, ainda mais contemplados com a hospitalidade dos monges que contagiaram a todos, com certeza saímos dali abençoados por eles e por Chomulongma, a Deusa Mãe da Terra, que nos protegeria até o fim de todo trekking. Seguimos em direção ao Lodge Maya no pequeno vilarejo de Thamo, passando antes no lindo Monastério de Thamo, totalizando aproximadamente 5 horas de caminhada.

Apesar do dia ser cansativo, pois saímos de 3400m para 3800 e voltamos para 3400 metros, com muitas subidas e descidas, o dia foi recompensado com belas paisagens das Montanhas Thamserku, Conduri e Ama Dablan. Este processo de subir em um lugar com altitudes mais elevadas e dormir em regiões mais baixas no ar rarefeito é conhecido como “climb high-sleep dowm”, sendo muito utilizado nos acampamentos acima dos 4000 metros.

4º Dia:  Thamo / Kunde (3.700m)

Deixamos Thamo divididos em dois grupos, a turma que ia fazer o trecho íngreme em off road com Manuel Morgado e o outro grupo que seguiria pela trilha demarcada, a rota tradicional, com um ganho de altitude mais suave. Eu e Herbert, juntamente com outros amigos preferimos a última opção, julgamos não ser necessário um desgaste físico maior nos primeiros dias de trilha que poderia comprometer nosso objetivo no final do trekking.

Após a saída do lodge andamos quase 2,5 horas até chegarmos a uma pista de pouso bem rudimentar em Syangboche, que atualmente é utilizada somente por helicópteros. Ali obtivemos belas fotos do Everest e do Ama Dablam, que é considerada por muitos como a montanha mais bonita do mundo. Sim, caminhar em altitude cansa, mas basta parar um pouco, respirar fundo, olhar as montanhas e ficamos renovados para seguir em frente. Continuando na trilha nosso grupo chegou a Kunde, situada num lindo vale em forma de ferradura a 3700 metros de altitude, onde encontramos um dos hospitais mantidos pela Hillary Foundation, que se preocupa em atender turistas, guias e carregadores com problemas de altitude.

Como nosso grupo chegou primeiro almoçamos, descansamos e saímos para subir o Khunde Peak, uma caminhada pela crista da montanha até os 4000 metros que fazia parte da aclimatação. Em certo trecho da subida encontramos descendo a turma que fez o off-road. Confesso que esta subida não me fez bem.

À noite, Manoel Morgado fez uma explanação sobre medicina de altitude. Afinal, estávamos subindo cada vez mais e saber que sintomas poderiam indicar algum problema é importante em qualquer caminhada de altitude. Inclusive com demonstração de como usar a câmara hiperbárica.

5º Dia:  Kunde / Dole (4.000m)

Cedo tivemos uma notícia que um dos integrantes do grupo encerraria sua participação no trekking, por sentir-se mal a alguns dias e não apresentar nenhuma melhora, e por avaliação própria achou que poderia piorar nos dias seguinte e decidiu voltar. Um dos sherpas foi designado para acompanhá-la até Lukla e nos despedimos após o café da manhã, com uma sensação de perda para todo grupo.

Noite mal dormida, não acordei legal, porém resolvi seguir em frente, na saída do vilarejo de Khunde, pegamos um bom trecho de trilha bem plana ate a aldeia de Kunjung, o que me fez recuperar um pouco, e onde passamos por algumas lojinhas e numa delas paramos para experimentar uma deliciosa torta de maçã. Neste local também pode ser interessante visitar o museu onde está exposto um suposto crânio de yeti, o pé grande ou abominável homem das neves do Himalaia.

Continuando a caminhada separamos definitivamente da trilha que leva diretamente ao Campo Base do Everest e pegamos uma trilha em direção aos lagos de Gokio, subimos uma longa e estreita trilha que nos levaram até um pequeno passo bem no alto da montanha, de onde obtivemos uma bela vista panorâmica de toda região, inclusive do monte Lhotse, um dos mais altos do mundo, do Thamserkur e do Katenga.

Descemos depois um bom trecho até o fundo do vale do rio Dudh Kosi e próximo as suas margens almoçamos. A esta altura do campeonato eu já me sentia totalmente recuperado, acho que o incentivo e o bom humor do grupo, cada vez mais coeso, afetou positivamente meu estado físico e psicológico. Após o bom almoço, acho que estava com muita fome, pois não tinha me alimentado adequadamente no jantar, pegamos a trilha novamente e seguimos sempre subindo pela encosta esquerda do Vale de Gokio que nos reservou visuais incríveis, com florestas de rododendros, a flor rosa que é símbolo do Nepal, que infelizmente não estava na época e picos cada vez mais abruptos e altos. Ama Dablam, uma das montanhas mais lindas do Himalaia, acompanhou-nos boa parte do caminho. Também foi possível enxergar o próprio Everest, Lhotse e Cho Oyu, todos com mais de 8.000 metros.

Chegamos após 5 horas de caminhada ao nosso destino neste dia, o Lodge Resort Dole a 4000 metros de altitude. Neste dia, caminhando fora da trilha tradicional para o Acampamento base percebemos um número bem reduzido de montanhistas, carregadores e até mesmo de iaques transportando mercadorias.

6º Dia:  Dole / Machermo (4.400m)

Fomos acordados pontualmente as 6 horas da manhã pelos sherpas, que integrados totalmente ao grupo, já nos conhecia, chamando-nos até pelos nossos nomes e como vinha ocorrendo todos os dias trazendo aquele chazinho milagroso e quentinho para espantar um pouco de frio. Como foi falado no dia anterior pelo Manoel Morgado a trilha neste dia foi uma das mais tranqüilas, entramos no coração do Himalaia, com subidas e descidas pouco íngrimes pela encosta do vale de Gokio, tendo o rio Dudh Pokhari aos nossos pés, quando tivemos a oportunidade de observar pela primeira vez no horizonte durante boa parte do percurso a linda vista da sexta mais alta montanha do planeta, toda coberta de neve, o imponente Cho Oyu com 8201 metros. Uma imagem de tirar o fôlego.

Felizmente a facilidade mencionada por nosso guia se concretizou e em apenas 3 horas o grupo chegou ao Nangyal Lodge Restaurant em Marchermo, Antes do almoço comemos batatas e subimos através da crista de uma montanha próxima ao lodge até a altitude de 4700 metros, que fazia parte do plano de aclimatação, de onde avistamos novamente o Monte Everest, o maior do planeta. Almoçamos um pouco tarde e o restante do dia serviu para descanso.

7º Dia :  Machermo / Gokyo (4.700m)

Neste dia continuamos percorrendo a encosta oeste do vale de Gokio até chegarmos ao final do glaciar do Cho Oyu, o maior do Nepal, onde subimos uma trilha bem íngrime ao lado esquerdo do glaciar e nos deparamos com uma bela visão do primeiro dos lagos com águas azul turquesa, proveniente do degelo da região do Gokyo.

A partir deste ponto, continuamos subindo de maneira quase imperceptível, pois o visual que se descortinava a nossa frente era incrivelmente lindo, passamos pelo segundo e terceiro lagos até chegarmos ao pequeno vilarejo de Gokyo, perdido no meio de montanhas nevadas. Caminhamos neste dia quase 5 horas, não ganhamos altitude, permanecendo próximo aos 4700 metros.

Após o almoço parte do grupo resolveu realizar uma subida ao Gokio Ri, uma pequena montanha para os padrões do Himalaia, com 5357 metros, as margens do terceiro lago, bem próxima ao lodge, de onde à medida que se ganha altitude se obtêm excelentes e indescritíveis visões dos lagos ao seu redor, do glaciar e das imponentes montanhas entre elas o Cho Oyu, o Lhotse , o Everest e de todo vale do Khumbu. Muitas fotografias foram realizadas durante a ascensão ao cume desta colina, inclusive uma com um lindo pôr-do-sol no Everest. À noite após o jantar assistimos novamente através dos sherpas, acompanhados dos carregadores de nossos duffe bags, uma apresentação da musica e dança nepalesa, utilizando para isto apenas um pequeno tambor e uma gaita, em que nos divertimos bastante, cantando e dançando.

8º Dia :  Gokyo / Tagnag (4.700m)

Mais um dia com temperatura baixíssima dentro do nosso quarto, acordamos e percebemos o vidro da janela acumulado com grande quantidade de gelo, parecendo que a neve a qualquer momento ia entrar no quarto devido a grande pressão que exercia sobre a mesma. Saímos utilizando os crampons, equipamento necessário para caminhar com segurança na travessia de trilhas cobertas com neve e gelo, e por ser uma caminhada mais curta, saímos um pouco mais tarde do lodge, pegamos uma pequena subida de onde obtivemos uma visão espetacular dos lagos, seguindo depois para leste em direção ao glaciar do Cho Oyu, onde passamos por pequenos lagos formados pelo degelo das montanhas. Cabe ressaltar que na passagem por uma das Morenas Laterais, que são depósitos de sedimentos, os sherpas gritaram para que corrêssemos, pois estava ocorrendo um deslizamento de pedras soltas das encostas, causado pela constante movimentação do glaciar.

Mesmos cansados saímos numa verdadeira correria pela trilha coberta de neve, o que custou a quebra de um de meus stickes(bastão de caminhadas) e crampom danificado. Posteriormente atravessamos o glaciar de Ngozumba e após 3 horas de caminhada, chegamos ao nosso abrigo em Tagnag, a 4700 metros onde pernoitamos. Com muita sorte consegui comprar no lodge outro bastão, pois sem ele não sei como seria minha performance na caminhada do dia seguinte na travessia do Passo.

9º Dia :  Tagnag / Passo Cho La (5.300) / Dzongla (4.900m)

Dia mais difícil e cansativo do trekking e por isso o grupo foi dividido em 3. O primeiro saiu às 04 horas da manhã, o segundo as 4:30h e o terceiro as 5 horas. As dificuldades eram muitas, o sol ainda não havia aparecido e a lua continuava sendo o único destaque no céu limpo, escuridão total, frio intenso (10 graus negativos), e ainda com o ar rarefeito. Começamos o dia muito cedo para poder fazer tudo com muita calma, inicialmente pegamos uma longa subida bem inclinada com a trilha totalmente coberta de neve ao lado de um lindo riacho e após duas horas de subida chegamos a um platô com lindas vistas das montanhas ao redor e da parte final de nossa subida, o desafiador passo Cho La. Descemos depois um imenso vale nevado e atravessamos sobre pedras um pequeno rio e logo pegamos a imensa subida do passo entre grandes rochas cobertas com neve, com alguns trechos estreitos e escorregadios, uma verdadeira escalaminhada na neve.

Com muita dificuldade e muito cansados conseguimos superar esta subida e na parte mais alta do passo fomos recompensado com uma espetacular e inesquecível visão, bem a nossa frente estavam quatro montanhas com mais de 8.000 metros, o Everest, o Lhotse, o Makalu e o Cho Oyu, respectivamente a primeira, quarta, quinta e sexta mais altas do mundo. Após um bom descanso, muitas fotos e um pequeno lanche, descemos uma longa e íngrime trilha, onde inicialmente cruzamos um campo de neve fofa e bem escorregadio que cobre a parte alta do passo e depois de forma mais suave a parte mais baixa caminhando sobre muitas pedras até nosso destino final em Dzongla.

Realizamos esta travessia em aproximadamente 10 horas, superando nesta também a parte mais difícil de todo trekking, o passo Cho La a 5300 metros de altitude. Neste dia tivemos mais uma noticia triste, pois um de nossos colegas encerrou sua participação nesta aventura, ao sentir-se mal na travessia e ser resgatado de helicóptero e levado a Katmandu.

10º Dia :  Dzongla / Lobuche (4.900m)

Pela manhã, antes da saída do lodge tivemos a oportunidade de ver novamente o Ama Dablan, agora sob outro ângulo e bem a nossa frente, vizinho ao lodge os montes Taboche (6.542 metros) e Cholatse (6.440 metros), na parte de trás o Lobuche Est, com 6119 metros. Caminhamos pela morena final da geleira do Khumbu, ultrapassando um pequeno e cansativo obstáculo repleto de grandes pedras e depois subimos a borda da morena, de onde se tem uma vista incrível da geleira, sempre com a companhia do Ama Dablan. A certa altura da trilha tivemos visuais de outras montanhas, como o Nuptse e a ponta do Lhotse.

Em certo trecho da caminhada, reencontramos novamente a trilha tradicional para o Campo Base do Everest que deixamos em Namche Bazar dias atrás, com uma visão magnífica bem a nossa frente do Pumori, com seus 7 161 metros, localizado na fronteira do Nepal com o Tibet. Neste dia caminhamos cerca de 3 horas até o Eco Resort Himalayam Lobuche, localizado a 4950 metros de altitude, onde chegamos a tempo de tomar um banho quente, pois no nosso último acampamento em Gorak Shep não tomaríamos banho, hehehehehehe.

11º Dia :  Lobuche / Gorak Shep (5.100m) / Kala Patar (5.600m)

Saímos um pouco mais tarde do lodge, as 9 horas, cruzando alguns glaciares e após 2 horas na trilha realizamos um pequeno desvio para ver o interessante laboratório Italiano-Nepalês, a Pyramid International Laboratory-Observator. Inaugurado em 1990, que realiza pesquisas sobre meio ambiente, geologia, clima e fisiologia humana.

Toda a energia para funcionamento do laboratório provém dos painéis solares instalados na pirâmide e estruturas adjacentes. Neste ponto, o Manoel Morgado sugeriu novamente fazer a divisão da galera, que faria a opção por uma trilha off road ou pela trilha normal. Todos optaram por motivo de cansaço pela trilha normal. Retornamos a trilha tradicional e seguimos ao lado do Khumbu Glacier e a cada curva deparávamos com uma visão maravilhosa.

A única coisa que não vimos nesse trecho foi o Everest, que estava escondido atrás dos mais de 7000m do Lhotse e do Nuptse. Em determinado momento, a trilha passa por um trecho de sobe e desce constante, com muitas pedras empilhadas, parecendo uma pedreira, até que finalmente, após mais de 3 horas de caminhada chega-se ao Himalayan Gorak Shep, a última hospedagem disponível antes do Acampamento Base do Everest, este local já foi o acampamento-base das primeiras expedições, mas hoje serve de pernoite para quem vai ao campo-base atual, ou ao Kala Patthar. Passamos ali a noite mais alta de todo trekking, a 5140 metros de altitude. A ausência de vegetação nesta altitude dá nome ao lugar, Gorak Shep, que significa “ravinas mortas”, todavia o local é de uma beleza impar.

À tarde, após o almoço, descansamos um pouco e preparamos as roupas com casaco de pluma de ganso, fleece, anorak, gorro, buff, luvas grossas, além da mochila, e o que mais fosse necessário para encarar o frio na subida ao Kala Patthar. Novamente foram formados 3 grupos que saíram em horários com diferença de 30 minutos. A natureza continuava implacável, com muita neve e um frio insustentável, porém majestosa apresentando um magnífico e intenso céu azul. Subimos o Kala Patar, que significa Pedra Negra devido a sua cor, localizado na face sul do Pumori, a mais de 5600 metros de altitude para ver o pôr-do-sol. Este é considerado o melhor e mais próximo ponto de observação e de onde se obtêm a melhor visão de pôr-do-sol do imponente Everest na fronteira Nepal/Tibet. No exato momento em que a luz avermelhada do sol reflete no seu cume, em contrate com o azul escuro celestial do céu, temos a impressão do mesmo estar em chamas, simplesmente divinal.

A sensação é de que após 11 dias de caminhada, ao atingir nosso último objetivo e sermos recompensados por essa indescritível vista é emocionante, realmente não tem preço. Avistamos antes, a magnífica e assustadora cascata de gelo do Campo Base do Everest, mais parecendo um rio de 600 metros de altura formado por enormes blocos de gelo completamente instáveis pedindo para desabar a qualquer momento. Apesar da trilha possuir uma subida bastante gradual, ela é cansativa devido à altitude. Subimos sempre dosando o esforço físico com um ritmo mais lento das passadas e algumas paradas, e assim vencemos os eternos 400 metros de desnível.

A taxa de oxigênio a esta altitude gira em torno de 50% e o frio a cada metro acima aumentava, deixando a temperatura cada vez mais insuportável, contando ainda com a ajuda do vento que batia na montanha, a sensação térmica apresentava-se bem abaixo de 20º negativos, ainda bem que estávamosna primavera, imagina como seria esta região em pleno inverno. Durante o tempo que permanecemos na montanha, bebemos o já tradicional, lemon tea, que os amigos sherpas levaram em uma garrafa térmica para amenizar o frio, porém apesar do cenário ser de contemplação e felicidade, não dava para ficar parado por muito tempo no mesmo lugar. Após as 18 horas iniciamos a descida, com todos utilizando lanternas na cabeça, quando em certo momento da descida com o grupo todo reunido, nosso guia pediu que desligássemos as lanternas, para um momento de meditação e contemplação da natureza, e foi apresentado a todos um céu salpicado por milhares de estrelas, juntamente com a nossa amiga e inseparável lua.

Realmente foram instantes abençoados pelo criador. Chegamos ao lodge felizes por ter vencido um grande desafio e principalmente por ter vivenciado uma experiência única em nossas vidas.

12º Dia :  Gorak Shep / Campo Base / Gorak Shep (5.100m)

Acordamos cedo e a temperatura no quarto do lodge marcava 8 graus negativos, no briefing do dia anterior o Manoel Morgado, falou que a caminhada até ao Campo Base do Everest seria opcional, pois não acrescentaria nada mais do que já tínhamos presenciado antes. Com a alternativa de ficar descansando no alojamento ou de ir até ao acampamento, o grupo ficou dividido e optamos, Eu e Herbert, juntamente com outros amigos em explorar a área no entorno do lodge. Verificamos que as paisagens são dominadas pelas tonalidades cinzas das rochas e sedimentos e pelo branco das neves que cobrem as montanhas e pelo belíssimo céu azul que complementa o cenário. Neste pequeno giro pela área ficamos cansados, porém extasiados com tanta beleza desta região. O outro grupo seguiu em direção ao Acampamento Base que funciona como uma espécie de quartel-general para as expedições que partem para acampamentos superiores, seguindo seus programas de logística, aclimatação e condicionamento até chegar ao topo.

Existe outro, no lado do Tibete, com 5150 m de altitude. Eles repassaram que a caminhada é feita com muitas subidas e descidas, sendo extremamente árdua e cansativa, com muito frio, que não encontraram barracas armadas e que nenhuma expedição partiria com destino ao topo do mundo. Parte dos que optaram por este roteiro retornaram na metade do caminho. Dizem que na alta temporada, principalmente entre março e abril, carregadores e yaks frequentemente cruzam a trilha próxima ao lodge, nos fazendo lembrar da logística necessária para manter as expedições que durante semanas aguardam a melhora das condições climáticas para o ataque final ao cume do Everest, a 8850 metros. A caminhada de ida e volta demorou aproximadamente 5 horas.

13º Dia :  Gorak Shep / Dimboche

As 8 horas deixamos o lodge em direção a Dimboche, sob um frio intenso, vestidos com tudo que tínhamos direito, porém com sensações diferentes dos dias anteriores, a satisfação por ter conseguido atingir nossos objetivos e uma certa ponta de tristeza por saber que estávamos voltando de um sonho. Todavia as aventuras são como uma travessia, realizada somente com ida, ou como uma viagem com idas e voltas, e voltando ficávamos imaginando novos sonhos, ou seja uma nova aventura nessa fantástica trilha que é a vida.
Encontramos neste trecho, como na ida, muitas subidas e descidas em trepa-pedras e uma tremenda peregrinação de montanhistas de todas as partes do mundo caminhando em direção ao Campo Base do Everest, desejávamos boa sorte e comentávamos sobre suas fisionomias com um ar de cansaço, já passamos por isso e conseguimos, era impossível não sentir uma ponta de orgulho de nossa realização.

Passamos pelo lodge em Lobuche que pernoitamos dias atrás, cercado por um belo cenário de montanhas nevadas como o Taboche, o Cholatse e o Ama Dablan e depois, caminhamos lado a lado com a neve em um terreno relativamente plano por um caminho não trilhado pelo grupo, pegamos uma imensa descida até o vilarejo de Tukla, com aproximadamente 3,5 horas de caminhada, onde descansamos e encontramos também muitos montanhistas, carregadores e iaques. Continuando atravessamos o rio, subimos um trecho e novamente uma grande descida, a redução da altitude trouxe efeitos benéficos ao corpo da galera, que traduzia num melhor desempenho de todos. Posteriormente paramos no memorial dos sherpas mortos na tentativa de escalar o Everest, onde alguns escaladores também são lembrados, inclusive Scott Fischer está ali. São pequenas construções de pedra adornadas com as bandeirinhas budistas e com oração que identificam alguns dos que tombaram perseguindo seus sonhos, em suas tentativas de subir e voltar da maior montanha do planeta. Finalmente próximo a Dimboche chegamos ao alto do vale, de onde observamos um espetacular visual das montanhas, destacando o Ama Dablan, o Nuptse, o Makalu e o Yala Peak, além do vilarejo lá embaixo, onde estava localizado o lodge, a 4100 metros, com um desnível de uns 800 m abaixo de Gorak Shep, que nos hospedaria para o pernoite. Dizem ser o último ponto da cordilheira com habitação permanente, e que ali, quando subimos pela trilha tradicional para o Campo Base do Everest, toma-se a bênção de Chomulongma, a Deusa Mãe da Terra, para encarar os três dias que faltam para chegar ao campo base. Ali almoço e banho quente era tudo que a galera queria.

14º Dia :  Dimboche / Deboche (3.700m)

Como em todos os dias do trekking o dia amanheceu lindo, com um céu azul e muito límpido, e em todo o vale vislumbramos magníficas vistas do Lhotse (quarta montanha mais alta do mundo, com 8.516m) e da face norte do Ama Dablam (6.812 m) irreconhecível desse angulo, além do Thamserku e do katenga. Paramos várias vezes na trilha para fotografias, principalmente das montanhas, porém a vontade era simplesmente ficar sentado em uma pedra por muito tempo contemplando o lindo cenário que a mãe natureza nos oferecia, simplesmente surreal.

Muitos carregadores e iaques cruzavam com o grupo e fazia com que a atenção fosse redobrada, pois realizamos grande parte do caminho margeando desfiladeiros e após aproximadamente 3 horas de caminhada deixamos a trilha normal e seguimos subindo uma alternativa que nos levou ao mosteiro de Pangboche, para receber as bençãos do Lama Geshe, que geralmente é realizada na subida, que nos recebeu com seu grande sorriso e carinho habitual.

Todos os montanhistas que aspiram um dia chegar ao cume do Everest pelo lado nepalês, ou também outras montanhas da região passam no Monastério para receber essas bênçãos também, e conseguindo seus objetivos retornam ao lugar, geralmente munidos com fotos tiradas nos cumes com o cartão que o Lama assinou e depois colocam estas fotos no interior da sala onde as pessoas são atendidas. É interessante e curioso ficar observando as muitas fotos ali colocadas em forma de agradecimento, perguntamos ao Manoel Morgado onde estava a dele e simplesmente fomos informados que tinha esquecido. Neste mesmo monastério compramos cartões com a dedicatória assinada pelo Lama e depois assistimos ao casamento muito animado e bacana de dois amigos que realizavam o trekking conosco, Thales e Marília. Almoçamos numa espécie de anexo ao Monastério e retornamos a trilha logo percebendo a mudança na vegetação antes escassa, praticamente composta por pequenos arbustos que iam sendo substituída por vistosas coníferas de altitudes.

Descemos quase 1 hora, atravessamos uma pequena ponte sobre o rio, ponte que parecia improvisada, pois logo adiante encontramos uma que parecia bem mais moderna caída sobre o leito do rio, e posteriormente passamos por um trecho com florestas e muitos muros com as famosas pedras marcadas com orações budistas, até chegarmos ao Rivendell Lodge em Deboche a 3700 metros de altitude, o maior e melhor em infra-estrutura até agora em todo trekking (água quente, vaso sanitário e quartos amplos). Muitos grupos e montanhistas solitários ficam, hospedados neste lodge. Praticamente realizamos este percurso em 7 horas contando com a parada no monastério. Antes do jantar nos reunimos como sempre na sala de encontro(refeitório) do lodge, único lugar com aquecimento para um bate-papo. Neste intervalo ficamos apreciando e fotografando o lindo pôr-do-sol no Everest, Nuptse, Lhotse e Ama Dablan, que pareciam estar incandescentes através dos raios solares que refletiam nestas montanhas, realmente indescritível.

15º Dia :  Deboche / Monjo (2.600m)

Acordamos com a expectativa de superar o dia mais difícil e árduo do nosso retorno, pois faríamos o trajeto direto entre Deboche e Monjo, com parada em Namche Bazaar apenas para almoço. Iniciamos a caminhada com uma descida suave e depois por uma subida de aproximadamente 100 metros até a chegada do vilarejo de Tengboche, que é conhecido por seu grande, lindo e mais importante monastério budista de todo Vale do Khumbu, e de cara obtivemos uma sensacional vista do Everest quase escondido atrás da longa crista do monte Nuptse (7861 m) e do Lhotse. Depois iniciamos uma longa descida até o fundo do vale do Rio do Leite, onde atravessamos uma ponte, e neste ponto pegamos uma imensa e muito cansativa subida de 600 m que parecia não mais ter fim, realmente muito desgastante.

Posteriormente seguimos um caminho também muito longo, sempre serpenteando as margens do rio, com bela visão das montanhas nevadas, incluindo aí o Katenga com os seus 6782 metros. A todo instante um de nossos amigos do trekking, falava para tirarmos fotos, pois seria a ultima aparição do Everest, o que foi repetido em várias outras curvas depois até chegarmos muito esgotados em Namche Bazaar, onde almoçamos. Após as ultimas compras no vilarejo, seguimos em direção a Monjo e realmente no meio do caminho através daquele mirante de onde vimos pela primeira vez a maior montanha do mundo dias atrás, observamos ela pela ultima vez.

Muito emocionados deixamos aquela imagem entre a vegetação, porém com a certeza de que ela ficou para sempre gravada em nossa memória e percebemos que nessas duas semanas de trekking estávamos nos despedindo, à medida que descíamos, das maravilhosas paisagens que acostumamos a presenciar nesta linda e fascinante aventura. Passamos novamente pelas imensas pontes suspensas que ligam uma margem do rio a outra e com tanta beleza ficando para trás, chegamos finalmente ao lodge no vilarejo de Monjo, a 2800m onde dormimos na ida. No jantar, o grupo conversava descontraído, acompanhado do bom humor dos sherpas, quando fomos informados da realização do vôo panorâmico pelas montanhas de helicóptero. Dos 18 participantes do grupo, 15 deram resposta positiva e três vôos seriam realizados, sendo cada um com 5 pessoas mais o piloto. Ocorreu o sorteio da posição do assento e ordem do vôo de cada participante no helicóptero.

16º Dia :  Monjo / Lukla (2.800)

Os três participantes que optaram em não fazer o sobrevôo de helicóptero saíram do lodge as 6 horas da manhã, juntamente com o Morgado e a Fabiana para o ultimo dia de trilha até Lukla e o restante ficou no lodge esperando a chegada do helicóptero. E pontualmente, como marcado, às 8 horas o helicóptero pousou em um terreno próximo ao lodge. No sorteio coube ao meu grupo, composto pela Dani, Elisa, Herbert, Edu e Eu, o primeiro vôo. E lá fomos nós conhecer do alto toda espetacular aventura que vivenciamos nas trilhas das magníficas e belas montanhas do Himalaia. Realmente é emocionante e inacreditável quando identificávamos no

meio do imenso “mar de neve” e nas grandes altitudes das montanhas, as trilhas e lugarejos que passamos, acho que uma vida inteira não seria suficiente para registrar tanta beleza e sentir tanta emoção. Passar pertinho das mais altas montanhas do mundo, inclusive da maior, o Everest, ver os lagos de Gokio onde passamos ao lado, ver o imenso e quase intransponível Passo Cho La, ver o Acampamento Base e a Cascata de gelo do Everest, o Acampamento do Ama Dablan a 4600m de altitude cheio de barraquinhas multicoloridas espalhadas na imensidão branca, com suas expedições a espera da hora certa para o ataque final ao cume, entre outras imagens inesquecíveis, vale cada doleta paga. Assim como nosso grupo, todos os outros foram transportados até ao Aeroporto de Lukla e reunidos novamente no Himalaya Lodge, inclusive a turma que fez a trilha. Comentário geral esse passeio é imperdível e realmente não tem preço, hehehehehe.

À tarde conhecemos o Vilarejo de Lukla, com seu comercio local, o costume de sua gente e depois realizamos uma confraternização com nossos simpáticos e hospitaleiros sherpas e carregadores, onde doamos vários pertences a eles e ainda fotografamos o derradeiro pôr-do-sol da cadeia de montanhas que é vista de Lukla.

Deixamos a bandeira do Brasil com a logomarca do toperâmbulando fixada na parede, bem na entrada do lodge e realizamos o ultimo jantar naquele ambiente em ritmo de despedida, regado com a gostosa cerveja Everest em companhia dos simpáticos, hospitaleiros e eternos amigos, os sherpas Nara, Dorje, Manie, Rinde, Hem e Guines. Amigos sentiremos muita falta do “bôo dia” de todas as manhãs em que eram servidos aquele chazinho quentinho.

Imagens de Lukla

17º Dia :  Retorno à Kathmandu

No nosso último dia nas montanhas do Nepal ficamos com o coração dividido entre a vontade de voltar ao conforto do Radison Hotel em Katmandu e ao desejo de não deixar esta região mágica em que presenciamos e vivemos tantos momentos inesquecíveis e espetaculares que ficarão para sempre em nossas memórias. O sentimento mais forte nos dias de volta foi de conquista, porém de muita saudade também, saudade dos momentos de solidão e do silêncio que marcou certos trechos da trilha, saudade até do suspense criado antes da travessia do imenso passo, saudade do maravilhoso céu azul, saudade dos monstros de pedra nevados que surgiam abruptamente a nossa frente a cada curva e sobretudo saudade do bom-humor de todo grupo e da simpatia e presteza dos sherpas que nos acompanharam em toda nossa aventura.

No aeroporto de Lukla que é o principal ponto de entrada e saída das trilhas para as montanhas do Himalaia, enquanto aguardávamos o embarque, ficávamos observando o desembarque de vários grupos de trekkers que chegavam nos aviões e helicópteros para trilhar pelas montanhas, todos bem arrumados, limpos, e ansiosos. E os que regressavam, como nosso grupo, com ar de cansados, roupas sujas e amarrotadas, porém com grande alegria e certo orgulho interior, e com uma imensa vontade de falar para todos ouvirem, eu consegui, eu estive lá.

Do avião no retorno a Katmandu, com grande aperto no coração, ainda observamos pela ultima vez a grande e bela cadeia de montanhas do Himalaia totalmente coberta de neve e com certeza elas serão lembranças marcantes para sempre em nossas vidas.

Deixamos a nossa bandeira do Brasil com a logomarca do toperâmbulando que nos acompanhou em toda a expedição fixada na parede, bem na entrada do lodge e realizamos o ultimo jantar naquele ambiente em ritmo de despedida, regado com a gostosa cerveja Everest em companhia dos simpáticos, hospitaleiros e eternos amigos, os sherpas Nara, Dorje, Manie, Rinde, Hem e Guines. Amigos sentiremos muita falta do “bôo dia” de todas as manhãs em que eram servidos aquele chazinho quentinho.

Texto: Valdir Neves

Considerações Finais sobre o Trekking ao Campo base do Everest

Queridos amigos, não sei quantos de vocês acompanharam nos últimos anos ou ainda acompanham nossas perambuladas pelo mundo e quantos estão visitando este site pela primeira vez neste momento. Desde que comecei a escrever, por sinal com muito prazer estes relatórios, tive como principal objetivo dividir com vocês o que presenciamos, o quê vivemos e o que aprendemos durante esses magníficos anos, e que tanta felicidade e aprendizado nos trouxeram. Quando voltamos no tempo, recordamos a nossa primeira grande aventura “O Mochilão de Machu Pichu”, pontapé inicial para concretizar o nosso mais ambicioso sonho, estar frente a frente com a maior montanha do planeta. Para isto ouvimos muitos comentários, tais como “tá maluco”, “tantos lugares mais bonitos para conhecer”, “vai gastar dinheiro com isto” e tantos outros, porém prevaleceu o nosso espírito aventureiro, a nossa determinação e seguimos em frente. Realmente não foi fácil, corridas quase que diárias, inclusive na areia, pedaladas, subida de dezenas de andares de escada, caminhadas, e até preparação mental, mas no final deu tudo certo, conseguimos transformar nosso sonho em realidade. Essa aventura serviu para conhecer a cultura desse belo País e para preencher uma grande lacuna que existia em nossas vidas de amantes da natureza e principalmente das montanhas.

Nestes 16 dias de trilha, passei por momentos delicados. Cansaço, temperaturas baixíssimas, grandes altitudes, frio extremo, ar rarefeito, todo estes fatores fizeram com que em alguns dias me sentisse debilitado, porém com garra e determinação consegui superar tudo isto. Conheci lugares deslumbrantes que fizeram meu coração bater muito forte e as vezes descompassados, descobri a profunda felicidade de chegar ao lugar a muito sonhado e mais do que nunca, aprendi que sonhos associados a disciplina, organização e determinação podem nos levar a atingir patamares aparentemente impossíveis. E continuo sonhando e perambulando… Dedico tudo o que senti e vivenciei durante esta jornada a todas as pessoas que sonham em fazer algo diferente, algo extraordinário, e que elas, assim como eu, que desde menino, através das primeiras aulas de geografia e ciências, já ouvia falar da mais alta montanha da terra, e sonhava que um dia poderia vê-la bem de perto. Portanto sonhem também e tenham o privilégio de viver uma emocionante experiência, e possam ter a oportunidade de realizá-la. Dedico também esta grande aventura, a minha família, aos guias Manoel Morgado e Fabiana que souberam com suas lideranças conduzir o grupo, aos meus amigos, os que também conheci nesta aventura e principalmente ao meu irmão Herbert, que com seu incentivo e persistência permitiu que esse meu sonho fosse realizado. Portanto alcançar o objetivo principal representou um marco em minha vida, mas certamente não foi o único.

E como recado final deixo aqui a seguinte mensagem “Aprendi que… temos que aproveitar toda viagem e não apenas pensar na chegada e principalmente aprendi que…todos, mais todos mesmo querem viver no topo da montanha… mas toda a felicidade está durante a subida. Dedico também a todos um Namastê, a saudação budista que é muito comum no Nepal, significando: “O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você”.

Abraço a todos, Valdir Neves, ou simplesmente “Baldir”.

Veja Também: Kathmandu – A frenética capital do Nepal

Vídeo

Dicas

Quem leva

Trekking ao Campo base do Everest via Gokyo

Para realizar essa aventura optamos pela Morgado Expedições, do montanhista Manoel Morgado. Guia experiente, com dezenas de expedições ao Campo Base do Everest. Médico e profundo conhecedor da cultura oriental, Morgado já escalou inúmeras das principais montanhas do mundo, incluído o Aconcágua na América do Sul, o Elbrus na Europa, o Kilimanjaro na África e em maio de 2010 tornou-se o oitavo brasileiro a conquistar o Everest.

Outras Dicas

  • Hidratação:  Uma boa hidratação é fundamental para aclimatação à altitude. Também é importante manter os cuidados com a qualidade da água. Embora haja vários métodos de purificação (veja post), a orientação foi purificar com pastilhas de iodo – 01 para 01 litro de água, com 01 hora de espera antes de beber. Daí, também foi melhor levar cantis de 1 litro, ao invés de 500 ml, para facilitar este processo.
  • Ritmo de caminhada:  Ninguém está em competição para chegar mais rápido. Caminhar no seu ritmo é muito importante para evitar desgaste físico desnecessário. Além disso, com tanta paisagem bonita, por que não investir tempo em apreciá-las. A programação de cada dia permite uma boa folga de tempo ao chegar aos lodges.
  • Esterco:  Já comentamos que o yak domesticado é um dos meios para transporte de cargas no Himalaia fornecendo sua força montanha acima. Estes bovídeos meio carrancudos também fornecem energia de outra forma: esterco que é utilizado como combustível para queima. Se fosse convertido perfeitamente em eletricidade, 1 kg de esterco poderia fornecer energia suficiente para alimentar um computador por 9,6h. Por que desperdiçar esta fonte energética? Na verdade, desde a antiguidade o ser humano utiliza o esterco seco com esta finalidade.
  • Energia Solar:  É grátis, é abundante e pouco aproveitada na maior parte do mundo: energia solar. Em vários trechos de nossa caminhada, vimos fornos solares em formato parabólico, utilizados para cozinhar ou aquecer água. O Nepal se encontra em uma das regiões com maior potencial para uso de energia solar no mundo.
  • Esforço:  Montanhas devem ser conquistadas com o menor esforço possível. A realidade de sua própria natureza deve determinar a velocidade. Se você tornar-se inquieto, acelere, se você ficar sem fôlego, vá devagar. Você deve subir a montanha em um equilíbrio entre a inquietação e a exaustão.