Expedição de Motocicleta Do Rio de Janeiro a Machu Picchu
DIÁRIO DE BORDO
É sempre assim, a cada retorno de uma expedição de motocicleta já começamos a pensar na próxima, e um ano e sete meses desde a nossa última ao Atacama, partimos para alçar voos mais longo, desta vez o Peru e a Bolívia entraram no roteiro, sendo Machu Picchu, a capital do império Inca nosso destino final. O Érico e o Léo se juntaram a nós para esse grande desafio.
Dessa vez viajamos em cinco motos bigtrail, aposentamos as duas shadows carburadas e de pouca autonomia da última viagem e adquirimos duas Vstrom 650 mais adequadas para essa aventura. Além delas, duas Triumph e uma BMW fizeram parte da expedição. Dessa vez não usamos carro de apoio, portanto, tudo que precisávamos estavam nas motos.
Havia ainda um outro motociclista conosco, virtual, mais que nos ajudou muito nessa viagem, Pedro Miranda um motociclista de São Paulo, que descobri quando estava pesquisando na internet pessoas que tinham feito esse roteiro de moto, e ele fez, sozinho, somente a alguns meses atrás, portanto, tinha informações fresquinha. Trocamos algumas informações e logo ele me passou o whatsapp, nos deixando a vontade para perguntar sempre que precisássemos, e assim fizemos e posso garantir que as informações dele, quase que diariamente, tornaram nossa viagem mais segura e agradável.
Quem quiser acessar o blog do Pedro, clique em https://www.viagemdemoto.com/viagens-pelo-peru/4184-rumo-a-capital-dos-incas
Foram 30 dias de uma aventura inesquecível e alucinante, e aqui relatamos o nosso dia a dia, procuramos mostrar os perrengues, as vitorias.
Dia 1 – A partida, começa a expedição.
Saímos cedo por volta das 7:00 h do Rio de Janeiro com muita chuva. No caminho encontramos o Léo e já na Rodovia Presidente Dutra em Seropédica, o Érico. O Time estava completo. O tempo chuvoso durou até São Paulo. O Objetivo do dia era rodar 620 Km até a cidade de Registro em SP, trajeto muito conhecido por todos nós.
Dia 2 – Foz do Iguaçu, última cidade brasileira antes da fronteira com a Argentina
Por experiência de outras viagens, sabíamos que os dois, três primeiros dias podiam ser cansativos por conta da falta de ritmo de viagem. Tínhamos como destino duas cidades paranaense, Guarapuava distante cerca de 500 Km ou Laranjeiras do Sul, distante 600 km, tudo ia depender do nosso rendimento. Fomos bem, e chegamos a segunda. No dia seguinte seguimos para Foz do Iguaçu, foram só 270 km que fizemos em pouco mais de três horas. Depois de nos hospedarmos saímos para almoçar pois queríamos dar uma ida ao Paraguai, eu particularmente precisava comprar uma mala de tanque para minha moto, e depois trocar o pneu da moto do Jefferson, isso porque ele não teve tempo de trocar, então trouxe o novo para trocar na viagem. A ideia era ficar mais um dia em Foz e depois seguir por cerca de 800 km até a cidade Argentina de Presidencia Roque Saens Peña, mas resolvemos seguir no dia seguinte para Posadas, “quebrando” em dois trechos essa distancia, o pessoal ainda não tinha entrado em ritmo de viagem.
Dia 4 e 5 – O Brasil fica para trás, cruzamos nossa primeira fronteira
Saímos tarde de Foz, por volta das 11:00 hs para percorrer cerca de 300 km. Os trâmites na fronteira com a argentina, foram tranquilos e rápido e logo estávamos seguindo pela Ruta 12 para a cidade de Posadas, uma rota bem conhecida nossa, fizemos uma única parada para abastecer, e no meio da tarde chegamos ao nosso hotel. Posadas é a capital da província de Misiones, fica localizada as margens do Rio Paraná. Na outra margem do rio fica a cidade Paraguaia de Encarnación, a qual se liga a cidade através da ponte internacional San Roque Gonzáliez de Santa Cruz.
No dia seguinte nosso destino era a cidade de Presidencia Roque Saens Peña distante 500 km de Posadas. Continuamos pela Ruta 12 até a cidade de Corrientes e de lá pegamos a Ruta 16 até nosso destino. A partir de Corrientes um calor infernal incomodava, em algumas parte fumaça e fogo bem próximos da rodovia, isso sem contar com os famosos ventos fortes laterais que teimavam em tirar a moto da pista.
Já na cidade, que já é uma velha conhecida nossa, as opções de hotéis não era das maiores, então resolvemos tentar o mesmo que ficamos ano passado, o hotel Orel. No caminho o GPS apagou, paramos para tentar nos localizar, quando uma senhora parou com seu carro ao nosso lado perguntando se estávamos perdidos, dissemos que sim e informamos o nome do hotel, ela prontamente nos guiou até lá. Foi a nossa primeira boa receptividade dos nossos hermanos Argentino.
Dia 6 – Agora sim começa a aventura…
Já completamente adaptado a rotina da viagem, saímos de Presidencia Roque Saens Peña em direção Santiago del Estero, esta foi uma alteração no roteiro que fizemos poucos dias antes do inicio da viagem, foi uma sugestão do nosso amigo Pedro Miranda para evitarmos um trecho de 60 Km todo esburacado na Ruta 16, e ainda rodar pela espetacular Ruta 40 que liga o sul ao norte da Argentina paralela a Cordilheira dos Andes.
Tínhamos também a opção de seguir por mais 70 km até a cidade de Termas de Rio Hondo e dormir por lá. A viagem foi bem tranquila, na maior parte do percurso quase sem transito, somente o vento vespertino e o calor voltou a incomodar, fizemos duas paradas para reabastecer e ir ao banheiro e uma para almoçar. Alias, nossas motos tem autonomia para rodar cerca de 400 km, mas com o rareamento de postos de combustíveis, achamos por bem reabastecer sempre que rodamos cerca de 200 km. Faltando cerca de 100 km para Santiago del Esteco, e como o dia ainda estava claro, resolvemos seguir para a cidade de Termas de Rio Hondo e com isso diminuir a distancia para Salta, onde vamos fazer a revisão das motos.
Termas de Rio Hondo é uma cidade spa termal, muito procurada pelos argentinos por conta das famosas águas termais, é lá também que desde 2014 recebe a etapa da Sul-Americana do mundial de MotoGP.
TRECHO: 515 Km
Dia 7 – Termas de Rio Hondo a Salta com passagem pela belíssima Cafayate
Seguindo nossa rotina, acordamos a seis, tomamos café as sete e saímos as oito para percorrer 465 km até Salta. Existe um percurso mais curto, entretanto nossa intensão era percorrer um trecho da icônica Ruta 40, e também conhecer a cidade de Cafayate.
Seguimos pela Rota 9 e depois pegamos a Ruta 307 que corta o belíssimo Parque Nacional Campo de los Alisos. A estradinha estreita, em subida, com pouco movimento, belas paisagens e cheia de curvas, proporcionava uma pilotagem muito gostosa.
Em um mirador encontramos um grupo de motociclistas argentinos que também estavam desfrutando daquele lugar. Seguimos subindo, passamos pelo lago artificial El Mollar perto da localidade de Tafi del Valle a quase 2000 metros de altitude.
Amigos argentinos rLago El Mollas
Nesse ponto a vegetação começa a ficar rara e uma paisagem desértica passa a predominar, voltamos a pilotar por curvas fechadas e chegamos a quase 5.000 m antes de voltar a descer. A velocidade diminuiu devido as curvas e ao piso da rodovia muito irregular. Enfim, chegamos ao entroncamento com a famosa Ruta Nacional 40, onde seguimos até a cidade de Cafayate onde paramos para almoçar.
No segundo trecho do dia até Salta seguimos pela RN 68, com boa parte do percurso em uma estrada sinuosa que cortava um belo cânion na Reserva Natural Quebrada de las Conchas. Apesar do calor e dos 465 km que percorremos a viagem hoje foi bem prazerosa.
Já não posso dizer da nossa chegada à cidade, tínhamos três opções de hospedagem, a primeira não encontramos o hotel e as outras duas não havia vaga. Chegar numa cidade grande como Salta, num dia de semana e na hora do rush é complicado. A cada hotel sem vaga tínhamos indicação de outro, até que depois de muito procurar encontramos um. A partir desse dia resolvemos que sempre faríamos a reserva de hotel com antecedência, mesmo sabendo do risco que não conseguir chegar no destino por algum motivo.
TRECHO: 465 Km
Dia 8 – Salta, dia de descanso e revisão das motocas
Logo cedo o Léo e o Érico foram levar a motos deles para a revisão na Triumph, eu e o Armando fomos procurar um local para trocar o óleo das VStroms. Tínhamos uma promessa da Triunph de entregar as motos na hora do almoço, assim seguiríamos para San Salvador de Jujuí, distante cerca de 120 km de Salta. Essa cidade fica aos pés da cordilheira dos Andes, que iríamos atravessar no dia seguinte com destino a San Pedro de Atacama.
Trecho entre as cidades de Salta e San Salvador de Jujui
Próximo da hora do almoço recebemos uma mensagem do Léo, informando que as motos só ficariam pronta as 16:00 h, então decidimos que eu, Armando e o Jefferson seguiríamos logo após o almoço para Jujuí e o Léo e o Érico seguiriam assim que pegassem as motos. Não é uma atitude correta quando se viaja em grupo, o correto é sempre viajar juntos, mas como a distancia era pequena fomos na frente.
Dia 9 – Fomos do Céu ao inferno, no dia mais aguardado por todos.
Saímos cedo de Jujuí, as motos foram reabastecidas no dia anterior para não perdermos tempo. Estávamos bem animados com esse belo trecho da viagem que iríamos percorrer, cruzar a cordilheira dos Andes em direção a San Pedro do Atacama, já em território Chileno, a nossa segunda fronteira. O dia estava lindo, céu azul sem nuvens, temperatura agradável.
Montanhas coloridas de Pumamarca
Nossa primeira parada foi Pumamarca para fotografar as montanhas coloridas, em seguida já começamos a subir a cordilheira pela famosa Cuesta de Lipan com suas curvas fechadas e vários mirantes que proporcionavam um visual espetacular, paramos em quase todos para fotografar. A próxima parada foi a 4170 m de altitude, na Salina Grande, um imenso deserto de sal que é cortado pela rodovia, mais fotos! A próxima parada foi em Susques, um pequeno povoado no alto da cordilheira, onde paramos para reabastecer as motos, ali na única bomba existente e almoçar.
Subida da cordilheira dos Andes pela famosa famosa Cuesta de Lipan
Seguimos viagem, agora em direção a fronteira do Chile, distante cerca de 125 km, nesse trecho chegamos a 4.900 m de altitude. Chegamos numa hora boa, por volta das 14:30 h. É extremamente recomendável chegar na fronteira antes das 15 horas para ter tempo caso haja algum imprevisto e não descer a cordilheira a noite, além do frio intenso, há muitos animais cruzando a pista, o que é muito perigoso.
Fizemos os trâmites e seguimos para San Pedro de Atacama por mais 150 km já com os conhecidos ventos fortes de final de tarde. Logo nos primeiros quilômetros o tempo começou a mudar, os ventos ficaram mais fortes a temperatura caindo, as nuvens muito baixas dificultava a pilotagem.
O tempo mudou radicalmente, no lugar e céu azul e temperatura amena, frio intenso, tempestade de neve.
Mas como nada é tão ruim que não possa piorar, começou a nevar, a temperatura despencou para zero grau chegando a -5 graus no auge da tormenta. O acostamento começava a ficar branco, a viseira do capacete ficava embasada, as mãos doíam com o frio. A luz do ABS da moto acendeu, mais os freio estavam ok, não conseguíamos ir a mais de 60 km/h, parar não era uma opção, podíamos ter hipotermia. Com a baixa visibilidade nos separamos sem querer, sabia que na frente ia o Léo que ainda esta sofrendo com a altitude, no outro grupo eu e o Armando e atrás o Jefferson e o Érico mas não conseguíamos ver ninguém.
Seguimos nessa situação por quase 100 km, enfim o tempo começou a melhorar quando faltavam 20 km, a temperatura subiu rapidamente, o sol apareceu e lá embaixo a visão mais aguardada, San Pedro de Atacama com 22 graus. O Léo estava parado no acostamento nos esperando, logo chegaram o Jefferson e o Érico, enfim juntos novamente, cansados físico e mentalmente, mais felizes por ter vencido mais essa etapa.
Dia 10 e 11 – Dois dias em San Pedro para descansar e fazer turismo
Combinamos na noite anterior que na manhã seguinte faríamos cambio e marcaríamos os passeios. Acordamos um pouco mais tarde e seguimos para o café, lá conhecemos um senhor de 70 anos, americano, bem falante, que estava em uma expedição solo de bicicleta pela América do sul. Estava no Atacama a uns dois dias e continuaria sua jornada até a Patagônia no sul do continente.
Seguimos para o centrinho, fizemos cambio e marcamos os passeios. Como só íamos ficar dois dias na cidade e metade do primeiro já estava perdido, combinamos de a tarde irmos de moto ao Vale da Lua, que fica pertinho de San Pedro e no dia seguinte fazer os passeios mais longos. Jefferson, Érico e o Léo reservaram o passeio aos Gêiseres del Tatio para o dia seguinte pela manhã, após o almoço as Termas Puritama e no final do dia o Érico e o Jefferson iriam de moto ao Ojos del Salar para ver o pôr do sol. Eu e o Armando que estivemos no ano anterior no Atacama juntamente com o Jefferson, resolvemos só ir ao segundo. Os Gêiseres é um dos principais campos geotérmicos do mundo com mais de 70 fendas no solo de onde saem jatos água quente que em contato com o ar frio, gera vapor. É um passeio obrigatório, é uma das melhores atrações do Atacama. Já as termas de Puritama é uma ótima opção para relaxar, são piscinas naturais com águas em torno de 30ºC.
Também resolvemos um questão bastante importante do nosso roteiro, originalmente tínhamos a Bolívia como rota de retorno para o Brasil, mais ouvimos muitas historias de fechamento de rodovias por tempo indeterminado, achacamento de Policiais Rodoviarios, apreensão de veículos e outras mais. Então tínhamos o roteiro alternativo de volta pelo mesmo caminho, chegando a Calama continuaríamos descendo pelo litoral chileno até cruzar a cordilheira no Paso São Francisco. Mas em conversa com o Pedro Miranda, que já mencionei aqui, decidimos retomar o nosso roteiro original. E essa era uma decisão importante, já que se voltamos pela Bolívia teríamos que passar na escultura “La mano del desierto” na ida.
Dia 12 – De volta a estrada, agora La Mano del Deserto e Antofagasta no Pacífico.
Saímos cedo do Atacama, nos despedimos do nosso amigo ciclista, que também estava de saída para continuar a sua jornada até Salta, fazendo o caminho inverso ao que fizemos na nossa chegada. Putz, cruzar a cordilheira dos Andes de bicicleta e aos setenta anos, não é para qualquer um.
A ideia era percorrer os 370 km que nos levará até a escultura “La Mano del Desierto” e de lá retornar até a cidade de Antofagasta, as margens do Oceano no Pacífico onde pernoitaremos.
Seguimos pela Ruta 23 até a cidade Calama e de lá a Ruta 25 até o entroncamento com a Rodovia Pan-americana, a Ruta 5 para os Chilenos. Logo que pegamos a Ruta 23 começamos a subir chegando até os 3400 m de altitude, intercalando curvas suaves e longas retas, depois uma longa descida até Calama. Tínhamos combinado de reabastecer nas proximidades da cidade, principalmente porque o Jefferson não tinha reabastecido da chegada a San Pedro. Resolvemos não entrar em Calama para reabastecer pois sabíamos que encontraríamos posto na Ruta 25 para reabastecer a moto do Jefferson. Só que rodávamos e nada de posto, até que chegamos a uma cidadezinha, perguntamos a um grupo de moradores e a resposta foi que posto somente a 40 km a frente e a moto do Jefferson só andava mais 10 Km. Paramos para resolver o que fazer, tínhamos duas alternativas, comprar combustível de alguém ou tirar de uma das motos, para essa última opção necessitávamos de uma mangueira, então eu fui atrás de combustível pra comprar e o Léo procurar uma mangueira. Nenhum um nem outro, o Jefferson encontrou um pedaço velho de mangueira em um lixo e assim conseguimos retirar um litro de gasolina de uma moto para a dele, o suficiente para chegar ao próximo posto.
Depois desse contratempo, continuamos para a Mão do deserto, claro, passamos no posto e reabastecemos. Para mim, o Armando e o Jefferson a chegada à escultura não foi tão emocionante quanto da primeira vez, mas voltar a aquele lugar icônico para os motociclistas foi muito legal. Depois de muitas fotos seguimos para Antofagasta.
TRECHO: 436 km
Dia 13 – De Antofagasta a Iquiqui pelo Litoral Chileno
A partir de agora o percurso seria completamente novo para todos nós, tínhamos duas opções para chegar a Iquiqui distante 416 km, seguir pela Ruta 1 que vai serpenteando o litoral Chileno ou a Rota 5, a Pan-Americana, com 90 km a mais. A primeira era a nossa preferida, mas não tínhamos informação sobre o estado da rodovia e posto de combustíveis para reabastecer, por sorte, no café da manhã encontramos um senhor que sempre faz esse percurso e nos disse que com exceção de um pequeno trecho de 8 km em obras a estrada era muito boa e claro muito bonita, além disso nos informou que poderíamos abastecer em Tocopilla, uma cidade no meio do percurso.
Decidido o percurso, seguimos pela rota 1, aos poucos a cidade ficava para trás e seguíamos serpenteando o litoral. O incrível era a paisagem, na maioria das vezes era o mar a esquerda onde a área da praia era formada por pedra e montanhas completamente desprovidas de vegetação a direita, um cenário surreal. Eventualmente nos afastávamos um pouco do litoral, mais sem perde-lo de vista onde cruzávamos pequenos povoados. Viagem muito gostosa e tranquila.
Logo chegamos a Tocopilla, onde reabastecemos e seguimos para Iquiqui. A cidade muito bonita, e é muito procurada por quem curte voar de parapente. Ficamos num ótimo hotel, um achado do Leu, almoçamos e fomos até a praia, a galera queria molhar os pés no Pacifico e esta era a última chance. Me chamou atenção as placas mostrando as rotas de fugas em caso de tsunami.
TRECHO: 416 km
Dia 14 – Chegamos a nossa terceira fronteira – Iquiqui à Tacna no Peru
Mesmo tendo que percorrer somente 366 km resolvemos manter o nosso horário de saída normal, entre 8:00 e 8:30, afinal tínhamos uma fronteira para atravessar e ainda precisávamos comprar o SOAT, seguro obrigatório para circular no país, esse foi o único que não conseguimos fazer pela internet.
A partir desse trecho, nosso contato com o Pedro Miranda em São Paulo pelo whatsapp tornou-se mais frequente, afinal todos os trechos que faríamos a partir de agora até a chegar em casa novamente, tinha sido feito por ele a cerca de quatro meses atrás, portanto tínhamos informações importante sobre o percurso.
Abastecemos as motos e saímos do litoral em direção a rodovia Pan-americana (Rota 5 para os chilenos), o excelente estado das pistas e o pouco movimento de veículos permitia desenvolver um boa velocidade e ainda assim aproveitar a paisagem. Pilotamos por longas retas em meio ao imenso deserto, até Arica, última grande cidade ao norte do Chile antes da fronteira com o Peru. Arica é uma das 10 cidades chilenas mais procuradas para pratica de surf. Nesse trecho não cruzamos com postos de combustível ou algum lugar para beber uma água ou ir ao banheiro. Foram 310 km com uma única parada para ir ao banheiro ali mesmo no deserto. Logo na chegada paramos em um posto de combustível, as motos já estavam quase na reserva e nós morrendo de sede, em seguida seguimos para a fronteira que ficava ali pertinho.
Assim como a fronteira entre a Argentina e o Chile, esta também era integrada, assim em um único lugar fazíamos a saída do Chile e a entrada no Peru. O local é bem espaçoso, um prédio enorme e novo, com funcionário bastante atenciosos. Levamos cerca de uma hora para liberar as cinco motos.
O próximo passo era o seguro, já tínhamos informação do Pedro que a cerca de 500 m da aduana, já no Peru, iríamos avistar placas indicando os locais. Não deu outra, fizemos o seguro para 30 dias e ainda pagamos em pesos Chilenos. De lá seguimos para Tacna que fica a mais ou menos 60 km. Foi nosso primeiro contato com o transito louco do Peru, Tuc tucs vinha de todas as direções, pareciam que queriam acertar a gente, enfim chegamos ao hotel, fizemos checkin e saímos para almoçar fazer cambio e ter o nosso primeiro contato com o povo Peruano.
TRECHO: 366 km
Dia 15 – Novamente subir a cordilheira, agora em direção a Puno
Acordamos cedo, arrumamos as motos, lubrificamos as correntes e partimos prontos para encarar esse desafio de subir a cordilheira dos Andes novamente. Diferente da travessia do paso Jama, dessa vez íamos subir a mais de 4000 m e ficar por lá, já que Puno esta nessa altitude.
A rodovia procura os atalhos para vencer a cordilheira
Ainda na cidade paramos para abastecer as motos e combinamos de seguir até a cidade de Moquegua, distante cerca de 160 km, onde faríamos um novo abastecimento para subir a cordilheira e seguir até Puno.
Após Moquegua, começamos a subir a cordilheira, curvas e mais curvas se sucederam, o asfalto piora fazendo as motos trepidarem um pouco, paramos algumas vezes para fotografar e dar uma descansadinha. Não havia nada em volta além de deserto, nessa região tem muitas dunas de areia e ventos fortes, o que facilitava a presença de grandes rodamoinhos, num desses trechos tinha um enorme parado a beira da rodovia, devia ter uns 12 metros de altura, falei pelo radio com Armando que estava logo atrás de mim para a gente dar uma acelerada que daria para passar antes dele atravessar a pista, erro crucial, o rodamoinho veio em nossa direção e nos envolveu totalmente, por cerca de uns três longos segundos ficamos cegos no meio de muita areia, gritei para o Armando diminuir a velocidade para não correr o risco de batermos e manter a rota, já que estávamos em uma pequena reta, logo passamos por ele, que susto!
A beleza surreal da cordilheira dos Andes. Nas fotos menores os rodamoinhos
Seguimos viagem, eu e o Armando estávamos na frente e nos distanciamos dos demais, que pararam para fotografar. Como eles não nos alcançavam, diminuímos a velocidade, mesmo assim eles não chegavam, paramos, esperamos um pouco e nada, resolvemos seguir devagar até encontrar um povoado qualquer. Alguns quilômetros a frente chegamos a uma pequena cidade, paramos e ficamos aguardando. Logo chegou o Jefferson, que falou que eles tiveram que parar por estarem passando mal, com muito enjoo, possivelmente por conta da altitude, afinal chegamos a 4500 m. Com a chegada dos demais seguimos viagem.
Logo avistamos o Lago Titicaca, Puno estava perto. A cidade cresceu em volta do lago e subiu pelas encostas, a cidade não é bonita, tem ruas muito estreitas e um transito caótico, como a maioria no Peru, mais é considerada a capital folclórica do país. Tínhamos combinado que o passeio as ilhas flutuante seria feito no retorno de Cusco, já que passaríamos por aqui na volta em direção a La Paz na Bolívia. Portanto na manhã seguinte seguiríamos para Cusco.
TRECHO: 426 km
Dia 16 – Último trecho até Cusco
Para percorrer o trecho de pouco mais de 380 km entre Puno e Cusco saímos por volta de 8:30 h, abastecemos e seguimos viagem. Transito confuso na saída da cidade até pegar a Rodovia 3S. Rodamos cerca de 50 km até a cidade de Juliaca. Gente! o transito caótico de Puno é pinto naquela cidade, ruas estreitas e esburacadas, gente andando na rua, gente puxando carinhos com frutas, vans e os malditos tuc tucs que vinham de todas as direções, não há lei de transito para eles, se você não tomar muito cuidado vai acabar batendo, caos total.
Depois de saímos daquela cidade louca foi a vez da rodovia atrapalhar nossos planos, o asfalto muito irregular, com calombos e pequenos buracos faziam a moto trepidar muito, dificultando a pilotagem, não dava nem para aproveitar a bela paisagem em volta. Depois de uns 50 km, não encontramos mais nada, posto de combustíveis, nenhum lugar sequer para ir ao banheiro, tivemos que fazer uma parada forçada na beira da estrada mesmo. No trajeto passamos por diversos povoados e isso fazia a gente perder muito tempo por conta dos quebra-molas ou lombadas. Entre um povoado e outro cruzamos por paisagens espetaculares do Altiplano Peruano.
Num desses povoados paramos para almoçar em um restaurante, que é usado pelas empresas de ônibus que fazem a ligação de Puno e Arequipa com Cusco, bem bonzinho o restaurante, deu para comer bem. Depois de alguns quilômetros paramos para abastecer já quase chegando a Cusco, uma parada rápida para esticar as pernas, beber água e ir ao banheiro.
Chegamos a Cusco perto das 16:30 h, não conseguimos fazer reserva antecipadamente, então seguimos para um que tínhamos escolhido. Localização péssima, na parte alta da cidade, bem longe do centro histórico, ali mesmo procuramos outro, seguimos para lá, era mais perto do centro, mais não tinha estacionamento. Estávamos cansado, com o sol desaparecendo o frio aumentava, resolvemos então ir para um outro no centro que estava com preço bem mais alto, mas tinha vaga e estacionamento e ainda era no centro, reservamos pelo celular por uma noite e partimos para lá.
Nossa chegada em Cusco
No trajeto um fato curioso aconteceu, ao chegarmos na praça das armas, um guarda que estava controlando o transito ao ver minha moto com a bandeirinha do Brasil perguntou se éramos brasileiros e se estávamos procurando hotel, disse que sim e ele disse para segui-lo, fizemos um retorno irregular, com a devida autorização da autoridade ali presente, que parou o transito para a manobra e nos guiou até o hotel. Gente, essa cara caiu do céu, o hotel era ótimo, bem no centro, com estacionamento no próprio hotel para motos, quase todos os hóspedes eram motociclista, inclusive brasileiros. Garantimos a nossa reserva por três noites e ainda poderíamos deixar as motos para ir a Machu Picchu. Um achado!
Dia 17 – Cusco, a capital do império Inka
Cusco é uma cidade cosmopolita, principal destino turístico do Peru, onde viajantes do mundo inteiro vem conhecer uma das sete maravilhas do mundo, a cidade de perdida dos Inkas de Machu Picchu. A cidade possui uma rica arquitetura representada pelas belíssimas construções como a sua catedral de Cusco ou os balcões que existem no casarões ao redor da praça. Assim como em quase todo o Peru, a cidade possui uma rica e variada gastronomia com muitos restaurantes, desde os mais sofisticados até aos mais populares. O artesanato, principalmente os derivados de lã de alpaca, pode ser encontrado por toda a cidade.
Centro histórico de Cusco
Fechamos na noite anterior um pacote com os passeios que iríamos fazer, somente o trem para Machu Picchu compramos antecipadamente ainda no Brasil. Começamos com um city tour por Cusco e arredores, amanhã iremos ao Vale Sagrado e Ollantaytambo, de onde pegamos um trem para Águas Caliente para no dia seguinte seguirmos para Machu Picchu. No passeio de hoje fomos a fortaleza inca de Sacsayhuaman e o sitio arqueológico de Pukapukara, no caminho paramos em um mirante para apreciar de cima a belíssima cidade de Cusco. Na volta, ainda tivemos tempo para apreciar a beleza do centro histórico, como a Plaza de armas, a catedral de Cusco.
Plaza de armas à noite, centro histórico de Cusco visto de cima, Sacsayhuaman e Pukapukara.
Dia 18 – Vale Sagrado e viagem de trem para Aguas Calientes
Acordamos cedo, tomamos café e nos despedimos das meninas, nossas motos, que ficariam descansando no hotel até o nosso regresso.
A nossa primeira parada foi em um centro de artesanato para ver como os locais tingem a lã de alpaca com plantas naturais da região.
Centro de artesanato
Em seguida fomos para Moray, um antigo laboratório de agricultura onde os incas desenvolveram terraços circulares. Entenda como esta área inteira era irrigada por meio de um sistema maravilhosamente projetado por esse povo fantástico.
Depois de Moray, seguimos até a Salinas de Maras, a mina de sal, na verdade, é um grande grupos de terraços em degraus formando vários tanques que recebem água do alto da montanha para processo de produção de sal.
Por fim, seguimos para Ollantaytambo, cidadela construída para guarda a entrada de Machu Picchu e para proteger os incas contra invasões. Depois de perambular pela ruínas seguimos de Toc Tuc para a estação ferroviário para pegar o trem para águas Calientes.
Ollantaytambo
Os tickets tinham sido comprados ainda no Brasil, então foi só chegar na bilheteria com os voucher e trocar pelas entradas. Optamos por ir de dia para poder apreciar a beleza da viagem. O trem segue quase todo tempo margeando o rio Urubamba. Já era noite quando chegamos em Águas Caliente, seguimos para o hotel, para no dia seguinte seguirmos para Machu Picchu.
Dia 19 – Machu Picchu
Saímos cedo do hotel, a ideia era entrar em Machu Picchu as 7:00 h, horário dos nossos ingressos que foram comprados , via internet, com bastante antecedência, isso porque o Jefferson, Léo e o Érico iriam subir o Huayna Picchu, e o número de visitantes para essa montanha é limitado e bastante concorrido. Como eu já tinha estado lá em outra viagem e o Armando não quis fazer a subida, nossa visita se resumiu a cidade perdida, inclusive nosso horário do trem de volta para Ollantaytambo seria diferente.
Depois de 20 min de ônibus subindo a encosta chegamos a entrada da cidade. A primeira parte da caminhada é bem cansativa, uma subida íngreme que passa por três mirantes, o último, a cerca de 240 m é onde se tem a visão clássica de Machu Picchu, é imperdível!
Depois de contemplar a cidadela lá de cima descemos para a parte de baixo lá conhecemos entre outros lugares o Templo das três janelas, o Relógio de Sol e o Templo do Sol. Foram quase 3 horas apreciando a beleza do local, como estive em Machu Picchu em 2006 achei que dessa vez estava bem mais cuidado e organizado.
Machu Picchu
Como nosso trem de retorno estava marcado para 14:30 h, ainda tivemos tempo de beber cerveja e carimbar o passaporte com Machu Picchu.
Retornamos para Águas Calientes, passeamos pelo povoado e pegamos o trem de volta para Cusco porque no dia seguinte começaríamos a nossa longa viagem de volta, que ainda passaria pelo Lago Titicaca em Puno e a “temida” Bolívia.
Águas Calientes
Dia 20 – Começa o longo caminho de volta para casa. De Cusco para Puno
Só hoje pela manhã que reencontramos o Léo, Jefferson e o Érico, que chegaram ontem bem tarde. Adoraram!
Arrumamos as motos, tomamos café, e pé na estrada, a belíssima Cusco ficava para trás, já estávamos com saudades. A rodovia a gente já sabia, asfalto irregular, calombos, lombadas e os famigerados Tuc tucs de Juliaca nos esperava.
Como estávamos com o tanque das motos quase cheio, deixamos para reabastecer depois de uns 100 km, grande erro, a cada curva tínhamos a esperança de encontrar um e nada! Sabíamos que próximo de Juliaca, encontraríamos um, mais a tensão de ver o marcador baixando era terrível. Diminuímos a velocidade para economizar, a cada curva a esperança de ver um posto, até que finalmente encontramos um, acho que se demorasse alguns quilômetros a mais, alguém pararia por pane seca.
Mais tranquilos e abastecidos seguimos viagem, logo chegamos em Juliaca, como sempre transito infernal. As ruas, além de estreitas e cheia de Vans, gente e Tuc Tucs, tinha umas valas enormes nos cruzamentos, uma espécie de lombada invertida. Num desses, ao passar com sua moto, um tuc tuc entrou na frente do Armando, ele freio e as rodas pararam uma em cada ponta da vala, o que aconteceu? Sem altura para por os pés no chão, a moto tombou. Felizmente nenhum estrago para a moto e o Armando, só mais um susto. Chegamos em Puno e fomos direto para o mesmo hotel que ficamos antes. Lá mesmo fechamos nosso passeio do dia seguinte para as ilhas flutuantes no Lago Titicaca.
Dia 21 – Ilhas Flutuantes do Lago Titicaca
A Van chegou as 8:00 h no hotel para nos levar até o Cais, a ideia era fazer o passeio o mais cedo possível, almoçar em Puno e pilotar por 245 km até El Alto já na Bolívia, atravessando a fronteira no distrito peruano de Desaguadero.
No porto, seguimos logo para o nosso barco e partimos para nossa primeira parada em uma das ilhas flutuantes. No caminho até lá que dura em torno de meia hora, ouvimos explicações sobre o Titicaca que é considerado o lago navegável mais alto do mundo, e o local de origem dos incas, segundo o guia.
Na ilha fomos recepcionados por uma comitiva de mulheres com roupas coloridas típica das regiões andinas. Em seguida ouvimos uma explicação de como as ilhas artificiais são feitas com o uso da totora, uma planta abundante no lago. O povo Uros, com são chamados os seus habitantes, teriam começado a construir e habita-las a centenas de anos para fugir da perseguição de outros povos. Hoje, basicamente vivem do artesanato.
Antes de retornar para Puno, fomos convidados a passear em uma das embarcações dos Uros, feita também com a totoras, até uma ilha próxima onde foi possível carimbar o passaporte com as ilhas flutuantes.
No retorno estávamos muito cansados, Jefferson, Érico e Léo por terem chegado muito tarde de Machu Picchu e o Armando por não ter conseguido dormir direito a noite, resolvemos então permanecer em Puno o resto do dia e só seguir para a Bolívia no dia seguinte.
Dia 22 – De Puno a El Alto na Bolívia, nossa quarta fronteira
Mais descansados, saímos cedo em direção a Bolívia, a rodovia seguia entre o Lago Titicaca de um lado e as montanhas do outro. Rodamos por cerca de 150 km até a pequena cidade peruana de Desaguadero onde fica a fronteira.
O GPS nos levou até a aduana antiga que não está mais sendo usada depois da construção da nova, um motorista de Tuc tuc nos guiou até lá, um amplo e belo prédio com aduana compartilhada entre os dois países, o que facilita muito.
A viagem até a fronteira em grande parte vai margeando o Lago Titicaca.
Rapidamente fizemos os nossos tramites de saída do Peru e entrada na Bolívia e seguimos para fazer o mesmo com as motos. Quando entramos no Peru, recebemos um documento que nos autorizava a circular com as motos no pais, e esse documento deve ser devolvido na saída. Todos nos estávamos com esse documento em mãos menos o Armando que não encontrava o dele, procura daqui, procura dali e nada. Perguntei ao fiscal aduaneira, o que poderia ser feito, caso não encontrasse, ele disse que deveríamos voltar a Desaguadero, isso implicava em entrar novamente no Peru, ir a policia para informar a perda do documento, seria o mesmo que aqui no Brasil registrar um boletim de ocorrência. Felizmente depois de muita tensão achamos o tal documento, portanto vale a dica, guarde sempre esses documentos em uma pasta, assim você sempre saberá onde esta. Acabamos perdendo um bom tempo, mais tudo resolvido, seguimos para mais 100 km até El Alto.
El Alto – Bolívia
A chegada à
cidade foi bastante complicada, dessa vez uma infinidade de vans atravancava o
transito, para piorar começou a chover, ainda bem que estávamos perto do hotel.
Depois de instalados no hotel saímos para comer alguma coisa e fazer cambio. Vocês
não tem ideia da confusão que é aquela cidade, as calçadas estreitas mal cabem
as pessoas que ainda tem que dividir espaço com barraca que vende de tudo. Nas
ruas transito infernal, sempre engarrafado, as vans na busca por passageiro
parecem competir quem tem a buzina mais alta, um caus.
Dia 23 – De El Alto até Cochabamba, começa a descida da cordilheira.
Na Bolívia o
combustível é subsidiado pelo governo para o povo Boliviano e os estrangeiros
pagam um valor diferenciado. Para abastecer temos que apresentar o passaporte
para que seja cadastrado em um sistema, o problema é que nem todo posto tem
esse sistema, e ai você não consegue abastecer, se não tiver gasolina para
procurar outro posto vai ter que se sujeitar a comprar no cambio negro.
Nós tivemos sorte, porque o Pedro Miranda, que já mencionei aqui, nos ajudou
mais uma vez, passando os postos que ele abasteceu meses atrás, e com a ajuda
dele, não tivemos problemas em abastecer.O preço? Cerca de R$ 5,10 por litro.
Já cedo o movimento nas ruas já era grande, para sair do hotel com as motos um funcionário precisou parar o transito. Seguimos para o posto indicado pelo Pedro para fazer nosso primeiro abastecimento na Bolívia. Em seguida pegamos a Autovia La Paz–Oruro, uma rodovia com pistas duplicadas, longas retas e piso muito bom, o tempo estava bem nublado, entretanto não chovia. No entroncamento para Oruro, pegamos a RN4 e paramos para abastecer novamente no posto Estación Caracollo, também sem problemas.
A partir desse trecho começamos a descer a cordilheira dos Andes, saímos de 4150 m da cidade de El Alto e iríamos dormir a 2570 m em Cochabamba. A cidade é a terceira do país, um centro agrícola e industrial. Além disso, é uma cidade universitária, que atrai muitos estrangeiros, entre eles brasileiros que vem estudar medicina. Achei a cidade bonita, o transito é ordeiro, sem aquela confusão de El Alto.
Dia 24 – O trecho mais temido da Bolívia, de Cochabamba até Santa Cruz de la Sierra
Por volta das 8:00 h saímos do hotel, já tínhamos abastecido no dia anterior para não perder tempo. Íamos rodas cerca de 480 km até Santa Cruz de la Sierra. O GPS indicava que levaríamos 10 h 30 min, isso sem contar com as paradas para abastecer. Sabíamos que esse trecho seria complicado, a RN 4 é uma rodovia importante na Bolívia, é por ela chegam os produtos produzidos nas cidades de Cochabamba e principalmente Santa Cruz de la Sierra para abastecer cidades andinas como La Paz, por isso tem um tráfego intenso de caminhões. Além disso, íamos continuar descendo a cordilheira que nesse trecho além da quantidade de curvas estava em obras com muitos desvios, só não contávamos com mais um problema, choveu na noite anterior e possivelmente íamos encontrar muita lama no caminho.
Saímos da cidade de Cochabamba com tempo nublado, mas não chovia. Um pouco antes de começar a descer avistamos nuvens negras e resolvemos parar para colocar as roupas de chuva, não deu outra, assim que começamos a descer uma garoa fina começou a cair.
A pista molhada, o tráfego intenso de caminhões e os intermináveis desvios tonavam a descida bem estressante, as piores partes eram os desvios que eram no barro e cheio de poças d’água fazendo a todo instante as motos perderem aderência, tínhamos que brigar para permanecer em pé.
Paramos para abastecer no local indicado pelo Pedro já fora da cordilheira, já não chovia mais, tiramos as roupas de chuva, limpamos um pouco da lama das motos e seguimos viagem. Alguns quilômetros a frente havia um posto de controle policial e pela primeira vez nessa viagem fomos parados, o Jefferson que estava bem a frente não foi parado e não percebeu que nós tínhamos sido. Pediram o documento que permitia as motos de rodarem pelo país, conferiram. Pediram kit de primeiros socorros ao Léo, que era o único que tinha. Por fim disseram que motoristas tinha informado que estávamos em alta velocidade, negamos, falei para o guarda que estávamos na Bolívia passeando de férias não tínhamos necessidade de correr, o chefe da guarda pediu minha habilitação, mostrei meu passaporte, habilitação e PID, o militar olhou rapidamente me devolveu e carimbou no verso da permissão das motos a data e hora que passamos pelo controle. Ficou claro que queriam dinheiro, um guarda ainda me pediu uma “contribución”, disse que não entendia o que ele falava e seguimos para as motos.
Perdemos um bom tempo, só que a uns 10 km a frente tinha outra barreira e novamente fomos parados, dessa vez só pediram as permissões das motos, carimbaram novamente e nos liberaram. Mais 10 km e advinha? Sim outro controle que também nos pararam, mas também sem problemas.
Já estávamos chegando em Santa Cruz de la Sierra e nada do Jefferson, olhávamos os postos de combustíveis e locais onde ele poderia estar e nada, já estávamos preocupados, como ele sabia qual hotel iriamos ficar, achamos que ele pode ter ido para lá. Já na cidade, paramos em um semáforo e quem aparece? O próprio, Jefferson, agora o grupo estava completo novamente. No hotel ele explicou que não tinha sido parado em nenhuma das barreiras, ele parou para nos esperar, com a nossa demora, achou que já tínhamos passado e não tinha visto. Então, seguiu para Santa Cruz, já na cidade parou num Burger King, estava comendo quando viu a gente passar, juntou tudo e foi ao nosso encontro, um pouco de sorte não faz mal a ninguém. Com todos os percalços chegamos bem na bela Santa Cruz de la Sierra, a cidade mais rica e a que mais cresce na Bolívia.
Depois de instalados no hotel, fomos jantar, essa seria nossa última noite em solo boliviano, na volta pedimos informação na recepção onde poderíamos abastecer as motos para seguirmos viagem no dia seguinte. Foi com surpresa que fomos informados que isso não seria mais possível, todos os postos do país fecharam as 18:00 h e só abririam a 19:00 h do dia seguinte por conta da eleição presidencial, além disso somente veículos autorizados poderiam circular pela cidade, mais não só os postos estariam fechados, qualquer estabelecimento comercial não abriria as portas, isso impossibilitaria nossa saída, já que não teríamos como abastecer na estrada.
Dia 25 – Presos em Santa Cruz de la Sierra por conta das eleições presidenciais
O nosso hotel ficava na parte histórica da cidade, bem próximo à Catedral Metropolitana, na Plaza 24 de Septiembre, onde existem lojas, bares e restaurante. À noite a praça se torna um ponto de encontro, ficando cheia de turistas e locais. Outra curiosidade, talvez por ser uma cidade que fica quase ao nível do mar, com temperaturas mais amenas, a população não se vestem com aqueles trajes típicos comum nas cidades andinas.
De castigo por mais um dia, acordamos mais tarde, fui dar uma caminhada pela cidade, pouca gente nas ruas, tudo fechado e pelo menos nas proximidades do hotel nada indicava que estava havendo uma eleição para escolha do presidente do país. Almoçamos no único local aberto e retornamos ao hotel, à tarde preparamos as motos para o dia seguinte, a noite quando os postos abriram, saímos para reabastecer. No dia seguinte pretendíamos sair cedo para percorrer os 650 km que nos separava da cidade de Corumbá, no Brasil.
Santa Cruz de La Sierra
Dia 26 – Último trecho antes do Brasil e problemas na fronteira
Saímos cedo e logo pegamos a RN 4 já com as motos abastecidas na noite anterior, a ideia era fazer o próximo reabastecer em um posto indicado pelo Pedro a cerca de 260 km e posteriormente na cidade de Roboré que foca a cerca de 250 km de Corumbá.
Nesse trecho a rodovia esta em excelente estado, o piso de concreto em boa parte dela, com pouco transito e longas retas, propiciou uma velocidade media mais alta e ainda aproveitar as belas paisagens.
Achamos facilmente o posto indicado pelo Pedro, abastecemos e seguimos viagem, nesse trecho passamos por uma região cheia de cânions com paisagens exuberantes. Em Roboré, paramos em um posto para o nosso último abastecimento na Bolívia, estava muito calor, fizemos um lanche, descansamos um pouco e seguimos viagem.
Logo chegamos a fronteira, por volta das 16:00 h, era só fazer os trâmites e pilotar mais sete quilômetros até o hotel em Corumbá. Mas o que parecia tranquilo quase virou um pesadelo.
Explico, primeiro você faz os trâmites da sua saída e depois segue para fazer a da moto, para um veículo entrar na Bolívia é necessário preencher pela internet um documento com os dados dele, fiz isso em 20/09 para a minha moto e a do Armando, bem antes da nossa saída. Quando entramos na Bolívia na fronteira com o Peru, o funcionário informou que estava autorizando nossa estada no país por 30 dias. Ok, já que nossa intenção era ficar somente 7 dias. Só que esse documento da internet, segundo o funcionário, só vale por 30 dias, isto é, o documento venceu ontem, mas nós e a moto tínhamos 30 dias para ficar na Bolívia a partir de 17/10, estranho, né! Enfim confusão total, foi um tal de fala com chefe, trocar email com La Paz, parece que eles não sabiam como resolver.
A fronteira fechava as 18:00 h, caso não resolvessem o problema até esse horário não queríamos correr o risco das motos serem apreendida, daí enquanto esperávamos começamos a bolar um plano de fuga, até que depois de duas horas, fomos informados que deveríamos fazer uma declaração pedindo ao órgão aduaneiro Boliviano a liberação das motos, caso contrários teríamos que pagar uma multa de quase R$700, isso por conta da burocracia Boliviana.
Foi tenso, mas no final tudo se ajeitou e seguimos para Corumbá, onde depois de instalados no hotel, fomos beber uma cerveja para comemorar nosso retorno ao país.
Dia 27, 28, 29 e 30 – Falta pouco para chegar em casa
Depois de uma boa noite de sono e um ótimo café da manhã no hotel, seguimos viagem para Campo Grande. Abastecemos e seguimos pela rodovia 262, a rodovia corta parte do Pantanal, nesse trecho muitos radares limitam a velocidade, mais mesmo assim vimos muitos animais mortos por atropelamento, uma pena.
No caminho demos uma parada na Maria do Jacaré uma folclórica moradora de um pequeno recanto aos pés da rodovia que cria jacarés como se fossem bichos de estimação.
De Campo Grande resolvemos seguir até a cidade de Assis no interior de São Paulo distante cerca de 580 km. No dia seguinte existia a possibilidade de fazemos os cerca de 800 km até em casa, mas o cansaço e um temporal na região de Itatiba, fez com que fizéssemos um pit stop na cidade de Caçapava já na rodovia presidente Dutra. No dia seguinte seguimos para nossas casas a tempo de almoçar com a família.
Falta Dizer…
Mais uma grande aventura de motocicleta que se encerra, foram 30 dias inesquecíveis, 10.370 km percorrendo Brasil, Argentina, Chile, Peru e Bolívia. Cruzamos a América do Sul do Oceano Atlântico ao Pacífico, atravessamos duas vezes a maior cordilheira do planeta fora do Himalaia, mais foi pouco, continuamos pelo litoral chileno até alcançar o Peru e finalmente Machu Picchu. No caminho de volta o Lago Titicaca com suas ilhas flutuantes. Cruzamos a “perigosa” Bolívia até retornar ao Brasil em Corumbá no MS.
Conhecemos de perto povoados, costumes e tradições dos povos andinos. Passamos frio e calor, enfrentamos chuvas, nevascas, altitude, ventos fortíssimos, tempestades de areia, lama, Tuc Tucs e estradas ruim, sempre com um sorriso no rosto.
O cansaço no fim de um dia era o combustível para fazer tudo novamente no dia seguinte. Mas em compensação podemos apreciar paisagens surreais, desertos , salinas, campos, montanhas e gêiseres.
Conhecemos pessoas interessantes, em San Pedro de Atacama conhecemos o Timothy, um americano de 70 anos que estava cruzando a America do sul de bicicleta, uma figuraça. Também conhecemos um guarda de transito em Cusco, que não sei o nome, ao saber que não tínhamos hotel para ficar, largou seu posto para nos levar até um bem em frente a Plaza de armas, foi um dos melhores que ficamos.
Também conhecemos pessoas, motociclistas como nós, que também se aventuraram por esse mundo vindo de lugares distantes.
Mas tudo isso só foi possível porque fomos uma equipe maravilhosa, que foram a minha família durante todos esses dias. Armando, Jefferson, Érico e Leonardo agradeço a confiança e parceria. Queria fazer um agradecimento especial ao nosso anjo da guarda, Pedro Rocha de Miranda que de São Paulo nos passava diariamente informações e dicas importantes, tornando nossa viagem mais fácil.
Por fim, agradeço a minha família, Marisa, Rafael e Camila pelo apoio incondicional.
10 Comentários
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Qual foi seu custo médio pela viagem ?
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