Conhecer Machu Picchu era um sonho antigo, eu e o Valdir Neves, companheiros de inúmeras caminhadas, sempre sonhávamos com isso, mas sempre esbarrávamos com algum problema. Muitas vezes planejávamos a viagem, mas, os filhos ainda pequenos, convenciam-nos a mudar de itinerário para passar as férias na praia, em família. O tempo foi passando e comecei a praticar alpinismo para acompanhar meus filhos e sobrinhos e, com isso, as caminhadas foram ficando cada vez mais raras e Machu Picchu esquecido. Até que em setembro de 2005, uma reportagem publicada na revista “Boa Viagem” do jornal O Globo sobre a cidade Inca de Machu Picchu e também um belo roteiro na Bolívia, trouxe à tona o sonho esquecido. É agora ou nunca! – pensei comigo. Não havia mais filhos pequenos, tinha férias pendentes, só faltava montar o projeto. Falei com o Valdir que imediatamente topou e se prontificou a montar todo o roteiro da viagem. Então marcamos a data: abril de 2006.

Os meses seguintes foram consumidos com pesquisas na internet para a montagem do roteiro, trabalho intenso feito pelo Valdir e pelo Péricles, que se juntou a nós nesse projeto. Em janeiro de 2006 o roteiro estava pronto : Iríamos de avião do Rio de Janeiro até Santa Cruz de La Sierra, de lá, seguiríamos de ônibus até o Salar de Uyuni, o magnífico deserto de sal no sudoeste da Bolívia, passando antes pelas cidades de Sucre e Potosi. Em seguida, partiríamos para La Paz onde visitaríamos o Monte Chacaltaya, uma antiga estação de esqui desativada que fica a 5490m de altitude. Continuando a viagem, partiríamos em direção a Copacabana, cidade fronteiriça com o Peru situada às margens do Lago Titicaca, o mais alto lago do mundo e o segundo em extensão da América do Sul. Já no Peru, iríamos a Puno, também às margens do lago Titicaca, e lá iríamos conhecer as ilhas flutuantes do povo Uros e a ilha Taquile. De Trem, seguiríamos para Cusco cortando o altiplano peruano, tendo montanhas nevadas e fazendas de criação de lhamas como pano de fundo.

Já em Cusco, a belíssima cidade peruana, a antiga capital do povo Inca, considerada patrimônio da humanidade seria o local que mais tempo ficaríamos. De lá iríamos conhecer o Vale sagrado dos Incas, onde conheceríamos as ruínas das cidades de Pisaq e Ollantaytambo e, finalmente, o fascinante conjunto arqueológico de MACHU PICCHU, cidade descoberta em 1911 pelo arqueólogo americano Hiram Binghan. Nela viveu uma parte do povo, cujo império dominou quase toda a América do sul por cerca de 300 anos , até serem dizimados pelos espanhóis. Retornaríamos a Cusco e seguiríamos de avião para Lima de onde regressaríamos ao Brasil. Então, tudo pronto para 17 dias de uma viagem certamente inesquecível.

1º Dia: Começa a aventura

Santa Cruz de La Sierra

Finalmente o dia da viagem, acordamos cedo, o vôo da Varig para São Paulo estava marcado para às 9:45h no Aeroporto Internacional Tom Jobim. Às 7:00h o Valdir passou em casa para me pegar e seguimos para o aeroporto. Lá, o Peri já estava nos esperando, fizemos o checkin , tiramos umas fotos e fomos para a sala de embarque. O vôo para São Paulo transcorreu normalmente, chegamos em Guarulhos no horário previsto. Como o vôo para Santa Cruz de la Sierra era às 17:45h, ficamos vagando pelo aeroporto até a hora da partida. Foram 2:45h até a cidade Boliviana de Santa Cruz de La Sierra, num vôo tranqüilo que apesar da chuva intensa em SP, saiu no horário. Às 18:45h, hora local ( Na Bolívia temos 1 hora a menos em relação ao Brasil ) desembarcamos, e fomos trocar dólares pela moeda local. Foi o nosso primeiro contato com a língua e o povo boliviano que em toda a viagem sempre nos atendeu bem. A língua também não foi problema, o nosso “portunhou” foi bem entendido. Não tivemos nenhum problema de comunicação. A moeda boliviana é muito desvalorizada, com U$1,00 comprávamos 8 bolivianos. Trocamos U$100,00 e seguimos para o Hotel. Já no quarto ligamos para casa para avisar que estava tudo bem, tomamos banho e fomos comer alguma coisa.

2º Dia: Santa Cruz de La Sierra e Viagem para Sucre

Viagem para Santa Cruz de La Sierra

Acordamos cedo para conhecer um pouco da cidade, já que nosso vôo para SUCRE estava marcado para às 10:00h. Fomos logo tomar café, tínhamos pouco mais de 1:30h para conhecer um pouco da cidade. Optamos pelos pontos turísticos perto do Hotel. Visitamos a Catedral da cidade, um Museu, tiramos algumas fotos e partimos para o aeroporto.

Chegando lá fomos avisados que o nosso voo para Sucre tinha sido cancelado, e que, a única saída era esperar para embarcar às 20:30h no vôo para La Paz e no dia seguinte seguir para Sucre. Sem alternativa resolvemos ampliar a nossa rotina de “mofar” em aeroporto. Mas como nada é tão ruim que não possa piorar, no final da manhã, por volta das 11:00h, fomos informados que o voo às 20:30h também fora cancelado e a nossa opção era ir de ônibus ou ir de ônibus.

Para diminuir a nossa irritação, a LAB nos preparou três sanduíches de carne e ovos com coca-cola e arrumou um carro para nos despachar para a rodoviária. A rodoviária de Santa Cruz de La Sierra era bem grande e tinha também uma conexão com a estação ferroviária, de onde partia e chegava o famoso “Trem da morte” para o Brasil.

Fomos pechinchar preço de passagem em ônibus leito já que teríamos 13 horas de viagem pela frente. Conseguimos pela empresa Bolívar um ônibus a 50,00 bolivianos para cada um, que partiria somente às 17:00h chegando no nosso destino às 6:00h do dia seguinte. Mais 4 horas de espera na rodoviária, o dia, estava perdido. Precisávamos rever nosso roteiro, já que inicialmente ficaríamos 24 horas em Sucre. Com o contratempo tivemos que cortar alguma coisa, porque o nosso roteiro não tinha nenhuma folga, optamos por cortar Sucre. Então, assim que chegássemos na cidade, embarcaríamos imediatamente para Potosi. Com essa questão resolvida, escolhemos um banco para sentar e esperar.

Entrelaçamos nossas mochilas para dificultar qualquer tentativa de roubo, afinal não viemos do Rio de Janeiro para sermos roubados na Bolívia. O tédio com a espera era muito grande, não havia nada pra ver, fazer ou comer, a não ser andar de um lado para outro para esticar as pernas. Próximo do horário de embarque, compramos água mineral e seguimos para a plataforma, o nosso ônibus realmente era leito, e razoavelmente confortável, tinha um enorme bagageiro no teto que ia carregado de sacos, malas e até um enorme pneu.

Sentamos na metade do ônibus do lado direito do motorista, eu na janela,o Valdir ao meu lado e o Peri na janela na poltrona atrás. Já com o dia terminando seguimos por uma rodovia movimentada passando ora por lugarejos muito pobres, ora por condomínios de luxo. Estávamos muito cansados e logo adormecemos sem perceber que o asfalto tinha acabado e seguíamos agora por uma estrada de terra batida. Acordamos na nossa primeira parada, um lugar totalmente escuro, onde a única iluminação era a de uma pequena construção bem rústica, iluminada por um gerador, com um balcão e algumas mesas onde era servida uma refeição. Não fomos muito com a cara da comida e por isso resolvemos não comer.

Perguntei pelo banheiro ou “Banõ”, como dizem os Bolivianos, e fui informado que não existia, xixi era na rua mesmo, bastava andar alguns metros pela estrada que a escuridão se encarregada da privacidade. Ao retornarmos ao ônibus para seguir viagem, deparamos com o nosso motorista, o cara estava de camisa, bermuda e chinelo de dedo. E aquela figura, é que seria a responsável pelas nossas vidas nas próximas 13 horas, dirigindo à noite por estradas sinuosas, com barranco de um lado e abismo do outro, nos deu arrepios. Resolvemos dormir e rezar para que nada nos acontecesse.

3º Dia: A 4000msnm na Cidade de Potosi

As montanhas de Potosi

Não foi uma noite muita tranqüila, volta e meia acordávamos com os solavancos do ônibus, por voltas das 7:00h da manhã finalmente chegamos a SUCRE. Situada a 2800m acima do nível do mar a cidade é considerada pelos bolivianos a capital administrativa da Bolívia, sendo La Paz a capital financeira. Também, é considerada pela Unesco, patrimônio cultural da humanidade. Ainda na rodoviária optamos por ir de táxi para Potosi que fica a quase 3 horas de carro e saímos em campo para pechinchar um bom carro com um bom preço. Fechamos com um senhor de nome Carlos que nos propôs 120,00 Bol , mais ou menos U$15,00 com direito a um city tour de 1 hora pela cidade. Visitamos o convento de la Recoleta, a Plaza 25 de Mayo onde fica a catedral da cidade e o castillo de la glorieta uma bela construção de estilo barroco que estava fechada para restauração. Em seguida iniciamos a viagem para Potosi. A viagem de carro foi tranquila e confortável, seguimos por uma rodovia asfaltada cortando rios praticamente secos e vendo belas paisagens do interior Boliviano. Chegamos a Potosi por volta das 12:00h, a cidade que prosperou por causa das minas de prata fica a 4100m acima do nível do mar . A riqueza gerada pela prata deixou um importante legado arquitetônico barroco com lindas praças e dezenas de igrejas com rico acervo de arte sacra. Por isso em 1987 a cidade foi declarada Patrimônio da Humanidade. Por sugestão do Carlos, nosso motorista, seguimos para o Hotel El Turista, lá negociamos nossa estadia até o dia seguinte por 70,00 bol cada. Estávamos muito cansados, a noite anterior mal dormida, a fome e a altitude, que não permitia grande esforço, nos desestimulou a pesquisar hotel mais barato.

Após tomarmos um bom banho fomos almoçar, afinal nossa última refeição mesmo tinha sido no almoço em Guarulhos –SP. Escolhemos pratos diferentes, eu quis o mais tradicional possível; arroz, papa fritas e um bife, que segundo o garçom era de boi; o Valdir comeu um bife com queijo por cima, uma espiga de milho gigante, muito popular por aqui , uns caroços de vagem bem grandes e duas batatas doce; a mistura era explosiva, mas já que estávamos em quartos separados, não vi problema; Já o Peri preferiu sopa. A comida estava uma delícia, depois ainda saboreamos o famoso chá de coca, do qual ficamos fregueses. O chá de coca ajudava a amenizar o “mal da altitude”, regulava o intestino e ainda por cima é muito gostoso. Em seguida fomos conhecer o centro histórico de Potosi onde fica localizada a Casa de La Moneda, considerado um dos museus mais interessantes da América do Sul. Lá, podemos conhecer arquivos coloniais, pinturas religiosas, máquinas de madeira usadas para cunhar as primeiras moedas bolivianas etc., mas, infelizmente, estava fechado. Ficamos sabendo que todos fecham para o almoço às 12:00h e só reabrem às 15:00h, então resolvemos somente passear pela cidade e comprar nossa passagem para Uyuni. Tínhamos indicação de uma agência de turismo perto da rodoviária, na parte baixa da cidade, longe pra burro ! Mas achamos e compramos ao preço de 20,00 bol cada, a viagem de ônibus teria a duração de aproximadamente 6 horas com partida prevista para às 11:00h do dia seguinte. Retornamos ao Hotel, de ônibus, que ninguém é de ferro. Com o cair da tarde, caía também a temperatura e por volta das 18:30h quando fomos jantar estava muito frio. Optamos pelo mesmo restaurante do almoço, já que gostamos da comida e era perto. Eu também já estava com um pouco de dor de cabeça, sintomas da altitude. Não consegui jantar, passei mal, com enjôo, deixei Valdir e Peri e retornei ao hotel, tomei outro comprimido de Sorochepills , liguei para casa e fui dormir. A noite foi muito gelada, mas a calefação e os quatro cobertores seguraram a onda.

4º Dia: A caminho da longínqua Uyuni

Seguido de ônibus de Potosi para Uyuni

Acordamos cedo, aliás, em toda a viagem dormíamos cedo por causa do cansaço e do frio e levantávamos cedo para aproveitar bem o dia. Eu estava melhor, só com um pouco de dor de cabeça. Ao chamar o Valdir e o Peri, descobri que eles também estavam mal, com muita dor de cabeça e enjôo. Depois do café e mais um comprimido de Sorochepills fechamos a conta e seguimos para o local de embarque, a viagem estava marcada para às 11:00h. Embarcamos em um micro ônibus com um enorme bagageiro em cima onde carregava todo tipo de tralha. Sentamos do lado direito, todos na janela, para melhor aproveitar a viagem. A viagem durou cerca de 5:30h por estradas estreitas, poeirentas e sinuosas, cortando leito de rios secos e outros com meio metro de água, mais com paisagens deslumbrantes. Vimos desertos de pedras, montanhas coloridas, lagos e animais como a lhama, uma espécie de carneiro, comum em toda região andina. Vista de cima, a cidade de Uyuni era meio aterrorizante, parecia, e era, um pequeno povoado perdido no meio do fim do mundo. Mas ao chegarmos constatamos que não era tão aterrorizante assim. A pequena Uyuni não tem nenhum atrativo, mas é base de apoio para quem quer conhecer o Salar. Existem inúmeros hoteizinhos, restaurante e lugares para acesso à Internet !!! e também um montão de agências de turismos. Ao desembarcarmos logo algumas pessoas nos cercaram oferecendo hotéis e pacotes para o Salar. Os preços são basicamente os mesmos: U$ 20,00 até a Islã Del Pescado e U$ 75,00 pelo pacote de três dias. Por causa do tempo escasso, optamos pelo primeiro, o segundo já seria uma nova aventura em uma outra oportunidade. Fomos para o Hotel Sajama, cuja diária nos custou 40,00 bol, de carona com o próprio pessoal da agência, esse hotel foi uma indicação que o Valdir conseguiu na internet. Alias, devo destacar o brilhante trabalho de pesquisa feito pelo Valdir e pelo Peri na preparação da nossa viagem, o roteiro, a pesquisa dos hotéis, os lugares a visitar, preços dos passeios, dos ônibus e trens, tudo muito bem detalhado. Trabalho perfeito. Deixamos as mochilas no hotel e fomos conhecer a cidade, aproveitamos para descarregar em CD as nossas máquinas digitais já superlotadas de fotos. Também compramos as passagens de trem para Oruro na noite do dia seguinte. Essa última uma excelente oportunidade de ganhar tempo. Faríamos uma viagem de trem durante a noite chegando pela manhã em Oruro, de lá pegaríamos um ônibus e em 3 horas estaríamos em La Paz, evitando assim uma viagem de ônibus de 12 horas durante o dia. Resolvemos comprar os bilhetes na 1ª Classe do trem, afinal depois de muita poeira, sacolejos e solavancos nos ônibus bolivianos merecíamos esse conforto, o horário de saída era meio esquisito, 1:45h da madrugada, mas não tinha outro. Fomos jantar e depois dormir para enfim no dia seguinte conhecer o famoso Salar.

5º Dia: O Salar de Uyuni

O Salar de Uyuni

A manhã estava muito fria, como também tinha sido a noite anterior, em nosso hotel não havia café da manhã, por isso fomos tomá-lo no mesmo restaurante onde jantamos na noite anterior. Em seguida fechamos a conta e seguimos para a operadora que nos levaria ao Salar.Lá conhecemos o nosso motorista e o nosso carro: Um Toyota 4 x 4 com sete lugares para passageiros, um enorme bagageiro em cima onde tinha um pequeno fogão, um bujão de gás e pneus sobressalentes. Embarcamos no carro e sentamos no banco logo atrás do motorista e em seguida fomos pegar os outros componentes da nossa expedição. Conosco no carro embarcaram duas dinamarquesas e um espanhol, também ia uma cozinheira boliviana, encarregada do nosso almoço, que se acomodou ao lado do motorista. Todos a postos, seguimos para o Salar. O Salar de Uyuni é um imenso deserto de sal com cerca de 12000Km2, que foi formado com a evaporação da água salgada de um imenso lago pré-histórico, localizado no sudoeste da Bolívia a mais de 3800m de altitude, em plena cordilheira dos Andes. A primeira imagem do Salar é simplesmente fantástica, na parte inferior da nossa visão víamos aquela imensidão branca e na parte superior o azul do céu e ambos encontravam-se no infinito. Ao redor, podemos apreciar os magníficos vulcões com os seus picos nevados. Paramos na entrada do salar para conhecer um pouco da vida daqueles homens e mulheres nativos, que raspam o chão para ganhar o seu sustento. Também lá, existem pequenas lojas onde se pode comprar artesanato feito de sal. No caminho até a Islã Del Pescado paramos em um hotel que foi totalmente construído com sal. Desde paredes até camas e poltronas, não há hóspedes nele, é somente uma atração a mais no salar. Seguimos adiante, mais uns 50 minutos e chegamos ao nosso destino: Uma pequena ilha no meio do salar onde a única vegetação existente são cactos de todos os tipos e tamanhos, o maior deles com cerca de 12m e 1200 anos de idade, segundo a placa colocada a seu pé. Nosso carro estacionou na “praia” onde existiam várias mesas de cimentos que eram usadas pelos visitantes para as refeições. O nosso guia informou que poderíamos, ao preço de 10,00 bol, fazer um tour circundando a pequena ilha enquanto a nossa cozinheira preparava o nosso almoço. A ilha era formada por uma terra preta de aparência vulcânica, pedras, cascalhos e muitos, mais muitos cactos. Na parte mais alta era possível ter uma visão de 360º de todo Salar. Ao final do circuito fomos almoçar. Ao chegarmos no local da refeição a mesa já estava posta, a nossa cozinheira de bordo preparou arroz integral, salada de tomate e alface, carne de alpaca, refrigerante e frutas, tratamos de “forrar” o estômago. Após o almoço, iniciamos a viagem de volta.

Já na cidade de Uyuni, resolvemos retornar ao hotel que ficamos hospedados e negociar um quarto até a hora do embarque no trem, fechamos um triplo por 20,00 bol cada. Após um bom banho caliente e o jantar, ficamos conversando no quarto pois não podíamos dormir, apesar do cansaço. Começei a ler o cronograma da viagem, lá pelas 22:00h o frio era terrível estávamos todos embaixo das cobertas, quando olhei para o lado o Peri estava dormindo, chegando a roncar, o Herbert comentou comigo que não podíamos dormir, pois poderíamos perder o trem, falei mais algumas coisas sobre a viagem e quando olhei para ele, estava dormindo também, acordei os dois, senão, eu acabaria dormindo, e perderíamos o trem.
Por volta de 1:00h da madrugada seguimos para a estação, apesar do frio intenso, havia muita gente nas ruas, na estação, muitos gringos de todas as partes do mundo aguardavam o embarque. À 1:30h o trem chegou procedente da cidade de Villazon, desceram muitos mochileiro que iríam para o Salar e subiram outros tantos com destino a Oruro. Embarcamos na classe executiva, muito bom, poltrona reclinável, televisão, travesseiro, manta e principalmente calefação, estava quentinho, apesar do frio lá fora. À 1:50h o trem partiu, foi margeando o salar que era iluminado por uma belíssima lua cheia, lindo! Fascinante!

6º Dia: Viagem para La Paz

Cidade de La Paz na Bolívia

No horário marcado, 9:10h da manhã, chegamos a cidade de Oruro, enfrentamos aquela muvuca para pegar as mochilas. Saímos logo e pegamos um táxi para a estação rodoviária. Lá, pegamos um ônibus para La Paz que nos custou 10,00 bol cada. No caminho cruzamos por inúmeras plantações de coca e também muitos rebanhos de ovelhas com mulheres tomando conta. Já na metade do percurso avistamos uma cadeia de montanha coberta com neve, era o Sajama, a maior montanha da Bolívia, fazendo divisa com o Chile. Meia hora depois já avistamos a cordilheira Real, que circunda a cidade de La Paz. Chegamos a capital Boliviana por volta das 13:00h, na saída da rodoviária pegamos um táxi para a Calli Llampu onde ficaríamos hospedados. Após nos acomodarmos no quarto, tomamos um banho e saímos para almoçar e pesquisar nas agências de turismo o nosso passeio do dia seguinte ao Chacaltaya e ao Vale da Lua. Almoçamos pollo (frango) na chapa com pure e salada por 20,00 bol, não levava fé, mas estava muito bom. Por 50,00 bol, fechamos o passeio com uma agência que ficava no próprio hotel, e depois fomos conhecer a cidade.

La Paz, situada no Altiplano, na “boca” de um vulcão extinto, está a 3700m acima do nível do mar, é a capital mais alta do mundo. É cortada por uma larga avenida de nome 16 de Julio. O trânsito é um pouco confuso, principalmente na parte antiga da cidade em que atravessar um cruzamento é uma tarefa pra lá de perigosa. Os carros vêm e vão para todos os lados disputando qual tem a buzina mais alta. Nessa região, há uma infinidade de lojas de artesanato, hoteizinhos e camelôs, onde só vimos índios e turistas estrangeiros. Fizemos algumas compras, ligamos para casa em uma das inúmeras cabines telefônicas existentes na cidade e retornamos ao hotel para descansar e nos preparar para o passeio do dia seguinte.

7º Dia: Vale da Lua e Chacaltaya

Chacaltaya - Bolívia

Às 8:00h da manhã já estávamos na porta do hotel aguardando o pessoal da agência que passaria para nos pegar, para irmos ao Vale da lua e ao Chacaltaya. A ansiedade era muito grande, afinal, iríamos ver a neve pela primeira vez. A Van chegou, embarcamos, e fomos pegar as outras pessoas que fariam conosco o passeio. Entre elas estava o Marcos, português de nascimento, que morava nos Estados Unidos e estava viajando pelas Américas a cerca de 6 meses. Também conhecemos uma dupla de brasileiros, Valdir e Felipe, pai e filho, moradores de Uberlândia no triângulo mineiro, que apesar de fazerem um roteiro diferente do nosso, estiveram conosco em boa parte dos lugares que conhecemos.

Todos acomodados, partimos para a nossa aventura. Nossa primeira parada, o Vale da Lua. Situado à 15Km de La Paz, esse lugar é uma seqüência de crateras e cânions esculpido pela erosão e que de fato, lembra o solo lunar. Andamos pelo lugar, tiramos fotos e seguimos para o local que todos esperavam: O Chacaltaya.
O nosso guia, um boliviano muito simpático, explicou-nos, enquanto a nossa van se esforçava para vencer as subidas íngremes da parte alta da cidade, que o Chacaltaya fica a 35 Km de La Paz e o seu cume a 5490m, nosso carro nos levaria até uma estação de esqui desativada à 5300m, e de lá faríamos o ataque final ao cume.
No caminho, já fora da cidade, paramos para comprar água e tirar fotografias num platô onde era possível ver o imponente monte Illimani com seus 6490m de altitude, cujo cume está sempre coberto de neve. Continuamos, agora por uma estradinha sinuosa e com muito cascalho, passando por lagoas coloridas e paisagens surreais. Um pouco mais adiante a estradinha começou a ser margeada pela neve e era possível avistar em todo o seu esplendor o Pico Huyana Potosi com seus 6090m e também,o nosso Chacaltaya, uma visão impressionante!, belíssima !
Ainda estávamos anestesiados com a paisagem quando a Van parou. O nosso motorista informou que devido ao gelo acumulado na estrada não conseguiríamos ir adiante, e deveríamos seguir o restante do caminho a pé. A distancia não era longa, mas caminhar na neve naquela altitude era bem desgastante. Em pouco tempo chegamos a estação de esqui, menos o Perí, que estava sentindo bastante a altitude e caminhava com um pouco de dificuldade. Aguardamos a sua chegada, estávamos preocupados, conversamos com ele, que resolveu não ir ao cume. Nos despedimos e começamos a subida. Logo no início da caminhada percebemos que vencer os 200m que nos separavam do cume não seria uma tarefa fácil. O vento gelado e o cansaço provocados pela altitude dificultavam ainda mais. Caminhávamos lentamente, dávamos cerca de 40 passos e parávamos para descansar. Nesse ritmo, alcançamos o primeiro estágio da subida, uma rampa desativa para esquiadores. Aguardei sentado a chegada do Valdir. Assim que chegou fui ao seu encontro achando que tínhamos chegado ao cume e para minha decepção apontou para o verdadeiro, uns 100m ainda acima. Tive vontade de desistir, mas ele me incentivou a continuar, afinal, como ele sempre dizia: “Só o cume interresa!”. Então, após um breve descanso seguimos em frente. Para minha surpresa essa segunda parte não foi muito cansativa, o aclive não era muito grande e logo alcançamos o cume. Em seguida chegaram o português Marcos e o Valdir(Pai) e o Felipe. Simplesmente espetacular! Era a expressão mais usada por todos assim que chegavam, para descrever a beleza do local. A cadeia de montanhas da cordilheira real a nossa volta, o monte Illimani ao longe e La Paz aos nossos pés. Magnífico! Tratamos de registrar aquele momento, Valdir sacou da sua mochila uma bandeira do Brasil e todos tiraram fotos, inclusive o Marcos, que fez questão de tirar uma foto sozinho com a nossa bandeira. Após descansarmos um pouco iniciamos o caminho de volta. A Van e o Peri nos aguardavam lá em baixo.

8º Dia: Viagem para a cidade de Puno, as margens do Lago Titicaca.

Viagem para a cidade de Puno - Peru

Às 8:00h da manhã começamos a nos despedir da Bolívia. Um ônibus de turismo nos pegaria no hotel e nos levaria à cidade de Copacabana, às margens do lago Titicaca, na fronteira com o Peru. Mais ou menos 3:30h seria o tempo necessário para percorrer os 160Km que nos separavam daquela cidade. Seguimos por uma rodovia asfaltada que margeava a cordilheira Real, com grande movimento, inclusive de caminhões. Na metade da viagem começamos a avistar o famoso Lago. Situado parte na Bolívia e parte no Peru, com 8.300Km2, é o lago navegável mais alto do mundo, a 3.800m acima do nível do mar. Num lugar chamado estreito de Tiquina, o ônibus é embarcado em uma balsa e os passageiros atravessam o lago em uma pequena lancha. Já no outro lado embarcamos novamente e seguimos para a cidade por uma estrada que margeava o Titicaca, mostrando toda a sua beleza.

De Copacabana é possível visitar as ilhas do Sol e da Lua, que a lenda diz ter sido lá que surgiram os primeiros Inca, Manco Capac e Mama Ocllo, filhos do sol e fundadores do império Inca. Não fizemos este passeio por causa do atraso no nosso roteiro, demos uma volta pela cidade, tiramos umas fotos e, uma hora depois da nossa chegada já estávamos em outro ônibus seguindo para Puno. Ao chegarmos na fronteira tivermos que descer, passar pela migração, carimbar nossos passaportes e pronto: Estávamos no Peru. Mais 2:30h de viagem e chegamos na rodoviária de Puno, de lá, seguimos para o Hotel Utama, a bordo de um triciclo motorizado muito comum no Peru. Depois de nos instalarmos no Hotel, seguimos para o centro da cidade afim de procurar a agência na qual retiraríamos os nossos bilhetes do famoso trem da Orient Express, que corta o Altiplano rumo a Cusco, comprados por U$30,00 cada um ainda em La Paz, juntamente com o pacote para o Chacaltaya.

A cidade de Puno não é uma cidade bonita mas é base para quem visita as ilhas do lago e é também passagem obrigatória para quem, como nós, vai de La Paz para Cusco por terra. A tarde estava fria e o tempo um pouco nublado, indicando que teríamos chuva em breve. No caminho para a Agência passamos em um caixa eletrônico para testar nossos cartões de Credito e débito internacional. Não tivemos problemas, facílimo de usar, podíamos optar por sacar em dolar ou em soles, sacamos nas duas moedas. Ao chegarmos no endereço da agência tivermos a desagradável surpresa de ver que estava fechada, era feriado, quinta-feira da semana santa. Achamos que tínhamos levado uma volta, quando o Valdir teve a brilhante idéia de entrar em uma outra que estava com a porta semi-aberta e perguntar a atendente se ela sabia como poderíamos entrar em contato com alguém da nossa agência. A senhora não só tinha o número do telefone como nos emprestou o aparelho para realizarmos a ligação. Valdir ligou e a senhora no outro lado da linha disse para não nos preocuparmos que as passagens, já estavam compradas, e seriam enviadas no dia seguinte para o nosso hotel. Duvidamosi, mas não havia outra saída senão aguardar.

### 9º Dia: Ilhas Flutuantes e Ilha Taquile no Lago Titicaca

O entardecer no alto do Morro do Pai Inácio

Manhã do dia 14 de abril, sexta-feira da paixão, estava frio e chovendo. O Peri acordou muito resfriado e resolveu não ir ao passeio nas ilhas flutuantes. Às 8:00h a van passou para nos pegar e levar até o cais onde embarcamos em uma lancha, que levou cerca de 30min até o nosso primeiro destino: As ilhas flutuantes do povo Uros no lago Titicaca, antiga população que fugindo dos Incas e espanhóis se refugiaram em suas águas. As ilhas, são feitas de camadas de totoras, vegetação abundante nessa área do lago, que são colocadas uma sobre as outras formando as ilhas onde vivem comunidades inteiras. Casas, barcos, tudo é construído com totoras. Com o tempo a ilha vai afundando e torna-se úmida, por isso novas camadas são constantemente adicionadas, fazendo com que a espessura da ilha alcance mais de 5 metros. Paramos em uma delas, onde desembarcamos para conhecer a vida dos moradores, que vivem basicamente da pesca e da venda de artesanato. O nosso guia fez uma pequena apresentação, tiramos algumas fotos, conversamos com o povo local e compramos artesanato. Em seguida embarcamos novamente na lancha e seguimos para o nosso segundo destino: A ilha Taquile.

Distante cerca de 2:30h a Ilha Taquile é a maior do lago titicaca no lado peruano, é habitada por nativos de língua quéchua que ainda conservam suas tradições intactas. São conhecidos também pelos seus produtos têxteis feitos à mão, considerados entre as manufaturas de melhor qualidade do Peru. Ao chegarmos ao ancoradouro, o tempo tinha melhorado e já aparecia um sol meio tímido. O nosso guia informou que havia um caminho que a circundava, e que, em mais ou menos uma hora chegaríamos em uma praça onde havia um museu, restaurantes e lojinhas de artesanato local, muito caro por sinal. Nesse caminho passamos por paisagens muito bonitas. Ao chegarmos na praça central do povoado, deparamos com muitos turistas estrangeiros e também nativos com suas vestimentas típicas. A cor do gorro para os homens indicam se são casados ou solteiro. No caso nas mulheres é o tipo de saia utilizada que indica o seu estado civil. Almoçamos em um pequeno restaurante e depois retornamos à trilha para voltar ao nosso barco.

A viagem de barco de volta a Puno foi lenta e cansativa, o Valdir chegou a dormir deitado no convés. Já estava anoitecendo quando chegamos de volta ao píer, uma van nos levou de volta ao hotel. Lá encontramos o Peri, que já estava bem melhor, então, ele nos deu 2 notícias, uma boa e outra ruim: A boa é que os bilhetes do trem foram entregues no hotel direitinho. A ruim, foi um telefonema que recebera de casa dando conta de uma ligação da LAB para a casa do Valdir informando que o nosso vôo de retorno ao Brasil tinha sido transferido do dia 23 de abril, domingo, para o dia 24 de abril, segunda-feira e deveríamos entrar em contato com a empresa para confirmar. Depois do susto inicial e com as lojas fechadas por conta do feriado, resolvemos deixar esse problema para resolver assim que chegássemos a Cusco.

10º Dia: Uma Belíssima viagem de trem de Puno para Cusco

Viagem de trem de Puno para Cusco

Pouco depois das 7:00h chegamos à estação ferroviária, despachamos nossa bagagem e seguimos para o embarque, lá chegando tivemos a agradável surpresa de encontrar com os nossos amigos de Uberlândia Valdir e o seu filho Felipe, que também seguiriam para Cusco no mesmo trem. Eles estavam na fila da bilheteria para comprar, na hora, por U$17,00 (Classe turística) o mesmo bilhete que pagamos U$30,00 na Agência em La Paz. Já no trem conhecemos mais duas moças, Carla e Roseli, moradoras do Rio de Janeiro, que estavam fazendo um roteiro bem parecido com o nosso, a diferença é que elas iriam fazer a Trilha inca para Machu Pichu. Elas também estavam com o mesmo problema com o vôo de regresso ao Brasil. O delas, estava marcado para o dia 22 de abril e queriam antecipá-lo para o dia 21 de abril. Pelo menos ficamos sabendo que existia um vou para o Brasil dia 22 e talvez fosse a nossa opção de retorno. O trem da Peru Rail, que faz esta rota, é bastante confortável e com amplas janelas que possibilitam uma visão panorâmica. Este é considerado o trem mais “alto do mundo” que chega aos 4.400m (La Raya) de altitude. Somente turistas viajam nesses vagões.

No inicio da viagem, o trem seguiu lentamente margeando o Lago Titicaca, em seguida começamos subir e passar por imensas fazendas de criação de alpacas e vicunhas. Logo o Valdir, de Uberlândia, sentou-se conosco e começamos um bate papo. Falávamos principalmente sobre a beleza da paisagem quando fomos interrompidos por uma simpática funcionária da ferrovia que nos ofereceu uma bebida tradicional da região andina, muito gostosa, de nome Pisco. O Pisco é um produto natural produzido com o suco de uva, fermentado e destilado. Agora a paisagem começa a mudar, entrávamos em terra mais altas e frias, logo começamos a ver as montanhas nevadas da cordilheira Chimboya, lugar onde nasce o rio Vilcanota, um dos principais afluentes do rio Amazonas, que alguns quilômetros mais ao norte converte-se em um caudaloso rio que banha as selvas de Machu Picchu e do Vale Sagrado.

O trem fez uma parada em uma localidade chamada La Raya – limite natural entre Puno e Cusco – onde pudemos desembarcar, contemplar e fotografar a beleza da região. Retornamos ao trem e seguimos viagem. Estávamos meio sonolentos quando fomos surpreendidos com uma apresentação folclórica no nosso vagão, um típico casal peruano cantava e dançava com os passageiros, músicas andinas. Muito legal! O trem começou a descer, as montanhas geladas ficaram para trás, o trem agora cortava imensos vales que eram serpenteado pelo belíssimo Rio Huatanay. Pouco tempo depois entramos em uma cidade, o trem diminuiu a velocidade, agora, seguíamos bem devagar, até que paramos em uma estação. Era Cusco, estava terminada a mais bela viagem ferroviária que já fizemos.

Já na estação, enquanto aguardávamos as mochilas, um motorista de táxi passou por nós procurando um tal de Péricles Nunes. Só podia ser o nosso, o Perí foi falar com ele e descobrimos que era um emissário da Dona Marisol que estava nos aguardando para nos levar para o Hotel. Dona Marisol, era uma agente de viagem que conhecemos enquanto tomávamos café no nosso hotel em La Paz. Lá, ela disse que nos aguardaria em Cusco e nos levaria para um hotel barato e bem localizado. Não levamos fé, mas dissemos que “tudo bem” para encerrar o assunto. E não é que ela cumpriu a promessa! Agora ela estava ali, aguardando a gente. Tínhamos combinado com o pessoal de Uberlândia de ficarmos no mesmo Hotel, por isso, tentamos de todas as formas no “livrar” da Dona Marisol mas, não conseguimos. Então convencemos o Valdir e o Felipe a nos acompanhar até o tal hotel. Seguimos no táxi com ela, que nos levou para um hotel longe da Plaza de Armas, que era onde queríamos ficar. Não gostamos, ela insistiu dizendo que os outros estavam lotados, não ficamos. Então, ela seguiu conosco dizendo que tinha um outro hotel. Na confusão, nos perdemos do pessoal de Uberlândia. Depois de rodar um pouco no táxi, chegamos ao outro hotel, que ficava bem localizado mas achamos caro.

Pedimos a ela que nos deixasse na praça que iríamos procurar nossos amigos e um hotel. Ela falava com o motorista num idioma que não entendíamos e depois falava que iria nos levar a outro hotel. O stress começou a aumentar, a mulher não nos deixava ir. Paramos em mais um hotel, dessa vez todos saímos do carro e o Valdir seguiu com ela para o saguão, só então percebemos o que ela fazia: Entrava na nossa frente e combinava com o pessoal do hotel para cobrar um valor alto. Discutimos com ela, que claro, negou tudo. Então resolvemos não entrar mas no carro, pagamos a corrida e finalmente ficamos livre da Dona Marisol. Então, resolvemos ir a pé até a Plaza das Armas, O Valdir perguntou a uma senhora que estava próxima e provavelmente tinha ouvido a nossa discussão com a Marisol, o caminho que devíamos seguir. Ela explicou e disse-nos que conhecia um hotel no local e preço que queríamos. Resolvemos aceitar a oferta e a seguimos.
Caminhamos por umas ruas movimentadas, atravessamos a Plaza das Armas e chegamos a um sobrado. Subimos, gostamos do lugar e do preço, então resolvemos ficar lá mesmo. Fomos para o quarto deixar a bagagem, porque tínhamos combinado que assim que chegássemos a Cusco iríamos ao aeroporto resolver o problema do embarque de volta ao Brasil com a LAB. Pegamos um táxi, e seguimos para o aeroporto, em silêncio, estávamos estressados com o que havia ocorrido e também com a expectativa de resolver esse problema. Foi quando o Valdir falou que não devíamos ficar aborrecidos um com os outros,pois o que aconteceu não tinha sido culpa de ninguém. Ele tinha razão. Chegando ao aeroporto tivemos a surpresa desagradável de saber que fechava às 5:00h da tarde, isso mesmo! o aeroporto estava fechado e com as luzes apagadas. Então retornarmos ao centro de Cusco para jantar e dormir.

11º Dia: Em Cusco, Qoricancha, Sacsayhuamán , Qenqo e Puca Pucara

Sacsayhuamán – Cusco - Peru

Situada a 3.400m de altitude, Cusco, foi a antiga capital do império Inca. É uma cidade de arquitetura colonial que conserva vestígios de construções do período incaico que foi aproveitada pelos espanhóis, para construir suas igrejas e palácios. No ano de 1650 sofreu um terrível terremoto, que devastou toda a cidade, deixando somente de pé as construções Incas. Reconstruída, esta metrópole possui hoje uma boa infra-estrutura, capaz de receber gente do mundo inteiro, interessada em conhecer o que restou de um dos maiores impérios que o mundo já viu.

O domingo de páscoa amanheceu frio e chuvoso, saímos para tomar café, no nosso hotel não havia “desayuno”. Seguimos pela calle Plateros e, a menos de um quarteirão, estávamos na Plaza das Armas. Chamava a atenção à grandiosidade da Catedral de Cusco, construída em estilo barroco entre 1559 e 1669, possui três enormes naves e seu formato é de uma cruz. O seu interior é todo decorado com pinturas e esculturas religiosas. Do outro lado da praça, fica a não menos grandiosa Igreja de la Campañia, construída a partir de 1576 pelos jesuítas. Era lá que ficava localizado o Palácio de Huayna Cápac, imperador supremo do império Inca. Ao redor da praça existem construções coloniais com balcões que formam uma cobertura sobre a rua. Nela funcionam inúmeras agências de turismo, lojinhas de artesanatos e restaurantes. No centro da praça fica um enorme chafariz que é rodeado por um belo e bem cuidado jardim.

Enquanto tomávamos café, resolvemos que iríamos a uma agência de turismo ali perto para negociar o nosso passeio a Machu Picchu. Tínhamos uma indicação, inclusive com preço. Lá chegando, fomos atendidos por uma funcionária de nome Ada, por sinal muito simpática, que nos mostrou as opções de roteiro. Optamos por fazer o que havíamos planejado, ou seja, City tour em Cusco, passeio pelo Vale Sagrado incluindo Pisaq e Ollantaytambo e visita ao templo sagrado de Machu Picchu. Perguntamos a Dona Ada onde ficava o escritório da LAB em Cusco porque precisávamos resolver o problema do retorno ao Brasil. Ela nos informou que a loja estava fechada e que só abriria no dia seguinte às 8:00h, então resolvemos fazer o city tour naquele dia à tarde.

Aproveitamos a parte da manhã para caminhar pela cidade, fazer pequenas compras e nos preparar para o city tour. Após o almoço embarcamos em um micro ônibus com vários turistas de diversas nacionalidades, cuja primeira parada foi uma visita a catedral de Cusco. Em seguida fomos conhecer a Igreja e o convento de Santo domingo, construídos num local onde se situava o mais espetacular templo Inca, o Qoricancha, dedicado ao culto do deus-sol. Lá observamos paredes originais incas, que foram aproveitadas na obra. De lá seguimos para Sacsayhuamán onde pudemos observar os enormes blocos de pedras, que alcançam até 350 toneladas, ajustados com total precisão que resistiram a vários terremotos. Diversas dessas pedras foram trazidas de pedreiras situadas a mais de 20Km de Cusco. Se transportá-las de tão longe – sem rodas – já foi uma proeza difícil de explicar, imagine o que deve ter sido encaixá-las como peças de um quebra cabeça. Coisa de Inca! O próximo local a visitar foi Puca Púcara, localizada numa colina onde ficam as ruínas dessa pequena fortaleza incaica. O conjunto de pedras conserva muros, corredores, salas, aquedutos e fontes.De lá, retornamos em direção a Cusco com uma parada em Qenqo, que era um oratório dedicado ao deus da guerra, e também visitamos um local de venda de artesanato, onde aprendemos a reconhecer a diferença entre os diversos tipos de produtos confeccionados com lã de alpaca. Já estava anoitecendo quando retornamos ao hotel.

12º Dia: Conhecendo a bela Cidade de Cusco.

Cusco , a segunda maior cidade do Peru

Não eram 8:00h e já estávamos na porta da loja da LAB, que ainda estava fechada. Com o cancelamento do nosso vôo de retorno dia 23 de abril, um domingo, e como tínhamos compromissos, no Brasil, no dia 24 de abril, segunda feira, só nos restava o dia 22 de abril, sábado, para voltar para casa. Com isso teríamos que ficar um dia a menos em Lima. O nosso plano era remarcar a nova data, comprar logo a passagem para Lima e seguir para Machu Picchu naquele mesmo dia na excursão que sairia às 9:00h. O tempo foi passando e a loja não abria. Achamos que estávamos em lugar errado, perguntamos a uma pessoa que chegava para trabalhar em uma loja de venda de passagens em frente e ela confirmou que era ali mesmo e que o horário de abertura era às 9:00h. Foi uma ducha fria naquela manhã gelada de Cusco. Não haveria tempo para irmos para Machu Picchu naquele dia, com isso, Lima perderia mais um dia. Às 9:00 em ponto a loja abril, um funcionário prontamente nos atendeu e remarcou nossas passagens de Lima para o Brasil para sábado dia 22 de abril às 6:00h da madrugada. Já estávamos de saída quando entraram na loja apressadas as nossas amigas brasileiras que conhecemos no trem de Puno para Cusco, Carla e Roseli. Elas também queriam confirmar o vôo delas de retorno ao Brasil também para o dia 22 de abril. Conseguiram, regressaríamos todos juntos no mesmo dia. Elas também iriam para Machu Picchu, a diferença é que iriam fazer a trilha inca de três dias e nós não. Nos despedimos, prometendo nos encontrar em Lima.

Perto dali havia uma loja da Aero Condor Peru , que fazia somente rotas nacionais, e cujas passagens para a cidade de Lima eram mais baratas. Claro que optamos por esta. Compramos a passagem para sexta dia 21 de abril às 10:30h para garantir, mas se conseguíssemos retornar de Machu Picchu a tempo, iríamos para Lima na quinta-feira dia 20 de abril. Com tudo resolvido e sem Machu Picchu naquele dia, resolvemos conhecer outros lugares de Cusco.

13º Dia: Pisaq e Ollantaytambo

Ollantaytambo - Peru

Acordamos cedo, arrumamos as mochilas pequenas com roupas suficientes para os dois dias que iríamos ficar no vale Sagrado e em Machu Picchu. Fechamos a conta, e deixamos às mochilas grandes guardadas no próprio hotel. A maioria dos Hotéis em Cusco tem esse serviço, a guarda de mochilas enquanto os as pessoas vão a Machu Picchu. Tomamos café e seguimos para a Plaza das Armas, onde um ônibus de turismo nos levaria ao Vale Sagrado dos Incas. Conheceríamos as ruínas das cidades sagradas de Pisaq e Ollantaytambo e de lá, seguiríamos de trem para Águas Calientes, onde dormiríamos para no dia seguinte conhecer Machu Picchu.

O complexo arqueológico de Pisaq fica espalhado pela cidade, mas no alto das montanhas, é o local onde ficam os monumentos mais importantes. Para a nossa satisfação, é possível chegar lá de ônibus. Esse conjunto compreende restos de muralhas, túneis e centros cerimoniais espalhados pelas encostas. No alto fica o monumento mais importante, o templo do sol. A vista lá de cima é maravilhosa e pode-se caminhar pela área arqueológica.

Uma parada para o almoço e seguimos para Ollantaytambo. A cidade fica a cerca de 100Km de Cusco e foi uma importante base de resistência contra os espanhóis. Segundo o nosso guia, na aldeia vivem os descendentes dos antigos habitantes da fortaleza, que conservam até os dias de hoje costumes herdados de seus ancestrais. Logo na entrada do sitio arqueológico fica uma gigantesca escadaria de pedra que subimos lentamente. O esforço valeu a pena! De lá podemos observar no alto de uma montanha em frente, a face de um imperador inca esculpida na rocha. O nosso guia nos levou ao templo do sol, um magnífico conjunto de seis grandes blocos de pedras de cor rosada, com cerca de 80 toneladas cada um, que foram trazido de uma pedreira a cerca de 10Km. Fiquei imaginando, como esses Incas conseguiram fazer isto!

Retornamos a praça principal de Ollantaytambo, onde pegamos as nossas bagagens no ônibus, que retornaria para Cusco, nós, seguiríamos viagem para Águas Calientes. Como estava cedo (4:00h da tarde) e o nosso trem só partia às 20:00h, resolvemos ir caminhando até a estação ferroviária que ficava a mais ou menos 2Km dali. A estação de Ollantaytambo era pequena e aconchegante e, a tranqüilidade só era quebrada quando chegavam os trens procedentes de Machu Picchu entupidos de turistas que iriam dormir na cidade ou retornariam para Cusco. Faltavam pouco mais de uma hora para o nosso embarque quando os nossos amigos de Uberlândia, Valdir e Felipe chegaram. Não os víamos desde que nos perdemos deles na chegada a Cusco, por causa do problema com a Dona Marisol. Ficamos sabendo que eles compraram o mesmo pacote para Machu Picchu, só que optaram por vir de táxi de Cusco, passando por Chinchero e não por Pisaq. Ficamos batendo papo e o tempo passou rapidamente. O trem chegou, era parecido com o que nos levou de Puno para Cusco, as poltronas ficavam umas em frente às outras, só não tinha a mesa entre elas. No horário previsto partimos. Segundo a agência de turismo assim que chegássemos em águas Calientes, deveríamos procurar um guia de nome Juan, que nos aguardaria na estação, para nos levar ao hotel e no dia seguinte, a Machu Picchu. Depois de 1:30h de uma viagem agradável, chegamos. O Juan nos aguardava no local combinado. Fomos para o hotel e marcamos para sairmos às 5:30h do dia seguinte, queríamos ver o nascer do sol em Machu Picchu.

14º Dia: A Cidade Perdida de Machu Picchu

A lendária cidade perdida de Machu Picchu

Acordamos bem cedo, por volta das 5 da manhã, a ansiedade era grande, afinal iríamos conhecer Machu Pichu, situada a 2400 metros de altitude, em meio à selva andina e uma cadeia de montanhas. A cidade foi construída há mais de 500 anos pelos incas, e foi declarada Patrimônio Histórico da Humanidade, título concedido pela UNESCO. Saímos para encontrar o nosso guia Juan, que nos levaria para tomar café num restaurante localizado bem frente à estação de trem de Águas Calientes. Ainda estava escuro, porém o dia prometia grandes surpresas.

Tomamos um bom café e saímos em direção ao ponto do ônibus, fazia um frio até gostoso e o dia começava a clarear no povoado de Águas Calientes. Só então podemos observar melhor o pequeno vilarejo que fica num belíssimo vale espremido entre as montanhas e o Rio Urubamba. O local não tem grandes atrativos, a não ser as fontes de águas termais, que não fomos conhecer por falta de tempo, porém a pequena Águas Calientes é base para quem vai conhecer Machu Pichu. Pegamos o primeiro microônibus que sai às 6:00h para o Parque, por sinal bem confortável e com muitos turistas estrangeiros a bordo. Já na estrada de barro a ansiedade era bem maior, afinal era um sonho que estava para se concretizar, e sonhos tem que ser perfeitos, nada poderia dar errado.

O microônibus foi margeando o caudaloso Rio Urubamba, o rio sagrado dos Incas que muitos quilômetros à frente suas águas encontram com as do Rio Ucayali, e seguem para desaguar no Solimões, que no encontro com o Rio Negro já em terras brasileiras, se transforma no Rio Amazonas. À medida que seguíamos deu para perceber que a vegetação ao redor ficava mais densa, acho que estávamos no meio de uma floresta tropical. Logo começamos a subir uma montanha em zig zag que terminaria na entrada do Parque. No caminho ficamos perplexos com tanta beleza das paisagens e com o grande número de mochileiros que seguiam em direção a Machu Pichu. A certa altura do percurso avistamos o grande Huyana Picchu, “imponente, simplesmente magnífico.”

Chegamos à portaria do Parque, uns 25 minutos depois, pegamos o passaporte de entrada que estava com a gente, carimbamos, e já dentro do parque, fizemos uma caminhada até a parte alta do Santuário, onde juntamente com o guia demos uma parada perto de uma casa inca, que era o centro de controle de entrada na cidade. A visão panorâmica de todo conjunto das construções era realmente espetacular, aquela que vemos em todo cartão postal de Machu Pichu, e que na realidade não nos dá a noção exata da grandiosidade de toda cidade, que só ao vivo podemos ter. Estávamos lá diante do monumental sítio arqueológico, semi-encoberto pela névoa da manhã, porém com os primeiros raios de sol surgindo por trás das montanhas, criando assim um momento mágico, de inigualável beleza. Um colírio para os nossos olhos. Olhando bem a nossa frente o Huyana Pichu, à direita montanhas verdejantes, atrás o portal do sol e a esquerda, bem distante uma cordilheira com vários picos nevados, indescritível.

Depois das explicações do guia sobre a construção de Machu Pichu, começamos a exploração das inúmeras atrações da Cidade da Paz e do Arco-Íris, como os incas a chamavam. A cidade é composta de duas partes distintas: o setor urbano onde ficam os templos e residências e o setor agrícola formado por terraços onde era feito o plantio, irrigado por um sistema de distribuição de água, que compreendia uma seqüência de calhas e túneis escavados nas rochas. Descemos até a área sagrada onde ficam os principais templos: o do sol, o das três janelas e o principal. No templo do Sol, vimos uma janela por onde o sol entra no solstício de inverno (21 de junho). Conhecemos também o Bairro dos Sacerdotes, onde se encontram as habitações, e o Bairro Popular, onde os populares e camponeses habitavam. Algumas casas tiveram seus tetos de palha restaurados, o que permite observar como era a cidade a séculos atrás. Abaixo, a direita está um imenso gramado, onde era a praça da cidade, que dividia o setor urbano em área sagrada e residencial. Subimos e descemos degraus várias vezes, observamos na montanha o perfil do índio, o condor de asas abertas e a face do puma, tiramos várias fotos deste lugar único.

Depois seguimos para a rocha sagrada, que fica aos pés do Huyana Pichu. O Intihuatana, como é chamada, apresenta-se de forma a parar o sol nos dois equinócios. Ao meio dia de 21 de março e 21 de setembro, o sol pára quase diretamente em cima do pilar, sem qualquer sombra e, neste momento, diz-se que o sol está “preso” à rocha. Eram nestes períodos que os incas realizavam poderosas cerimônias na pedra. Também existe um alinhamento com o solstício de dezembro (que corresponde ao solstício de verão no hemisfério sul), mas a pedra sagrada era usada sobretudo para os equinócios. Depois dessas explicações o nosso guia se despediu, tinha terminado seu trabalho.

Eram pouco mais de 11:00h, quando resolvemos subir o Huayna picchu, mais uma “escalada” pela frente com centenas de degraus encravados nas rochas, foi nossa sina nesta viagem, subir quando já estávamos tão alto, entretanto vale muito à pena. Para chegar ao cume é necessária uma caminhada de mais ou menos uma hora, por uma trilha bem íngreme. No portão de acesso é preciso colocar em um livro de registro, o nome, o número do passaporte e a hora de entrada na trilha. Isso porque só é permitido o acesso de no máximo 400 pessoas por dia, ou até as 13:00h, mesmo que este número não tenha sido atingido. O Valdir de Uberlândia e o Felipe seguiram na frente, o Peri resolveu não arriscar e preferiu nos aguardar na entrada do parque. A subida foi bastante cansativa, parávamos várias vezes para descansar, afinal estávamos a mais de 2400m de altitude. O esforço valeu a pena, no alto da montanha fica o Templo da Lua e outras ruínas e de lá, tínhamos uma visão privilegiada de toda Cidade Sagrada, com montanhas verdejantes por todos os lados e o rio Urubamba bem lá embaixo correndo em direção ao Brasil, muito bonito, simplesmente espetacular, difícil de descrever com palavras. Tiramos inúmeras fotos neste lugar singular, falamos ao celular com o Brasil e, só não encontramos com o Xará e o Felipe, pois não ficamos sabendo onde eles se meteram. Descansamos um pouco e começamos o caminho de volta, cansados mas felizes, afinal, o sonho de tantos anos finalmente tinha sido concretizado. Posteriormente encontramos o Peri e retornamos para Águas Calientes onde ficamos até o dia seguinte, quando retornaríamos a Cusco.

15º Dia: Retornando para Cusco e um belo susto.

Retorno para Cusco

O trem de volta para Cusco partiria às 5:45h da manhã da estação de Águas Calientes, portanto, combinamos de acordar às 4:00h para tomarmos banho e café com tranqüilidade. O Peri foi o primeiro a levantar e nos chamou apressado porque já passava um pouco do horário combinado. Tomamos banho rapidamente e estávamos arrumando as mochilas quando percebemos que não havia nenhum movimento no quarto ao lado, que estava ocupado pelo Valdir de Uberlândia e o Felipe. Ficamos preocupados, e já íamos bater à porta deles, quando o Herbert olhou para o relógio e verificou que eram 3:30h da madrugada! O Peri tinha visto a hora errada e levantamos uma hora mais cedo. Quase matamos o cara. Depois, é claro, rimos muito.

Pontualmente às 5:45h o trem partiu. Quando viemos para Machu Picchu, era noite e não foi possível ver a paisagem que, para variar, era espetacular. Seguimos rumo a Ollantaytambo margeando o Rio Urumbamba que seguia recortando vales circundados por imensas montanhas com picos nevados. No alto de algumas delas, era possível avistar ruínas de construções do período incaico que ainda não estava aberta ao publico para visitação.

Por volta das 7:15h da manhã chegamos a Ollantaytambo. Agora pegaríamos um táxi que nos levaria à Cusco. Esperamos o desembarque do pessoal de Uberlândia para nos despedir, seria o nosso último encontro, já que eles partiriam para Santiago, via Salar de Uyuni, e nós para Lima. Ao sair da estação havia uma grande muvuca. Vários táxis, micro ônibus e muita gente. O táxi levava 4 pessoas cobrando 10,00 bol de cada uma. Nossa intenção era pagar os 40,00 bol e seguir nós três no carro. Só que, ao abordarmos um motorista, um peruano se intrometeu e pediu para ser o quarto passageiro. No inicio ficamos preocupados, mas como era uma viagem de no máximo uma hora, deixamos.

A viagem seguia tranqüila, íamos observando a paisagem ao redor, seguíamos por um roteiro diferente da ida, passaríamos por Chinchero. Comentávamos que chegaríamos cedo em Cusco a tempo de remarcar nossas passagens para Lima naquele mesmo dia, o que nos daria um dia a mais naquela cidade. No entanto um fato curioso aconteceu. O motorista nos informou que havia um bloqueio na estrada. Paramos o carro antes e ele foi até lá para saber o que estava acontecendo. Voltou e informou que era um bloqueio feito por trabalhadores e que nenhum veículo estava atravessando. Ele então disse que nos levaria a pé, até o outro lado e lá tentaria conseguir outro táxi que nos levasse a Cusco. Fizemos isso, passamos no meio daquela confusão meio assustados, a rodovia estava bloqueada com paus e pedras, e as pessoas gritando palavra que não entendíamos. Já no outro lado, não encontramos nenhum táxi, foi quando o nosso motorista apontou para uma van muito parecida com a nossa “besta”, que estava chegando vazia e corremos para ela. Felizmente chegamos na frente de um batalhão de pessoas que também queriam embarcar. Quando a porta abriu, o Herbert e o motorista fizeram uma parede impedindo a entrada das outras pessoas para que o Peri e o Valdir embarcassem. Foi um sufoco, mas todos nós conseguimos sentar, inclusive o peruano que veio conosco no táxi. Em poucos segundos não havia mais lugar e ainda tinham umas oito pessoas em pé. O aperto era geral, mas o mais importante era sair dali. A van seguiu pela estrada com dificuldade por causa do excesso de peso. A nossa preocupação era saber para onde estávamos indo, já que estávamos entrando na periferia de Cusco. Foi quando o peruano nos chamou e disse que iria saltar e que nós deveríamos fazer o mesmo e depois pegar um táxi. Não precisou falar duas vezes, ele saiu e saímos juntos. Agradecemos a ele, pegamos um táxi e seguimos para a Plaza das Armas.
Eram pouco mais de 9:00h quando descemos do táxi em frente à loja da Condor para trocar a passagem. A atendente nos informou que todos os vôos para aquele dia estavam lotados, portanto, só iríamos para Lima no dia seguinte.

16º Dia: Seguindo para a cidade de Lima

O entardecer no alto do Morro do Pai Inácio

Saímos bem cedo do hotel, ainda tínhamos esperança de antecipar a hora do vôo para Lima, que estava marcado para às 10:30h . Pegamos um táxi e seguimos para o aeroporto. Lá chegando, fomos direto para o balcão da companhia aérea para tentar antecipar o nosso vôo. Não conseguimos, todos estavam cheios. Então, tratamos de fazer logo o checkin e despachar nossa bagagem para garantir. Próximo da hora, seguimos para o setor de embarque e descobrimos que vários vôos estavam atrasados. Lá, encontramos com a Carla e a Roseli que também estavam aguardando. O vôo delas também estava atrasado mas, pelo menos, estava confirmado e dez minutos depois elas embarcaram para Lima, o nosso, só saiu às 14:00h. Durante a viagem de uma hora de duração, resolvemos que devido ao pouco tempo disponível guardaríamos nossas bagagens no aeroporto de Lima e pegaríamos um táxi para conhecer pelo menos, o centro da capital peruana. As praias do pacífico, teriam que ficar para outra oportunidade.

O centro ficava um pouco distante do aeroporto, o táxi levou uns 30 minutos até a Plaza Mayor. Esta praça guarda um pouco da história da cidade, os acontecimentos mais importantes tiveram-na como cenário. Consta que foi lá que Pizarro fundou Lima, também foi lá que aconteciam as execuções públicas dos condenados pela inquisição e lá foi proclamada a independência do país. Pena que diversos terremotos tenham destruído as construções originais. Ao redor da praça, existem diversos prédios importantes como: o Palácio do Governo, o Palácio do Arcebispo, o portal dos Botoneiro e a bela Catedral de Lima, construída em estilo barroco, que guarda em seu interior o túmulo de Francisco Pizzaro.

Já passava das 18:00h quando retornamos. O aeroporto internacional Jorge Chaves estava bem movimentado, o nosso vôo ainda não aparecia no placar, mas ainda estava cedo, afinal, só partiríamos às 6:00h do dia seguinte. Uma longa noite nos aguardava. Aproveitamos para conhecer o aeroporto e trocar o que ainda tínhamos de soles por dólar. Logo depois chegaram as nossas amigas Carla e Roseli, contaram que estiveram em Miraflores, um bairro chique de Lima onde se concentram os melhores restaurantes, bares, lojas e as praias de Lima, que gostaríamos de ter ido, se tivéssemos tido tempo. Elas, como nós, estavam preocupadas com a falta de informação sobre o vôo. O placar não mostrava nada e no balcão da empresa aérea não havia ninguém. Conseguimos um número de telefone para falar com a LAB e o funcionário nos tranqüilizou dizendo que até o momento estava tudo confirmado. Só às 22:00h o placar anunciou o vôo, e com o checkin começando às 3:00h da madruga, resolvemos então que às 2:00h iríamos para a fila para sermos os primeiros, não queríamos correr nenhum risco de não embarcar. Com isso resolvido, fomos pegar as mochilas no guarda volumes e jantar.

17º Dia: Voltando pra casa

As montanhas da Bolívia na volta para casa

Depois de sermos expulsos varias vezes dos nossos lugares, para que o pessoal da limpeza fizesse o seu trabalho, notamos que um funcionário montava um corredor com aquelas divisórias de filas de banco. A Carla foi perguntar, e o cara confirmou que ali seria o local do checkin da Lab, então, tratamos de colocar as mochilas na fila, e sentamos perto, para aguardar. Pouco depois das 3:00h um funcionário muito mal humorado, talvez por ter acordado àquela hora para trabalhar, começou atender. Fizemos o chechin e, mais aliviados, seguimos para a área de embarque para aguardar.

Já no avião, durante os procedimentos de decolagem, fomos informados que aquele vôo faria uma escala a mais na Cidade de La Paz, além é claro, da já prevista em Santa Cruz de La Sierra. No horário marcado decolamos, do alto, podemos ver as famosas praias de Lima banhadas pelo Oceano pacífico. Logo “desmaiamos”, e só acordamos quando a aeromoça veio nos entregar o formulário de imigração para preencher. Achávamos aquilo estranho, pensávamos que só os estrangeiros que desembarcassem devessem preenchê-lo. O Avião parou e todos desceram, somente nós cinco permanecíamos na aeronave, então, resolvemos perguntar ao comissário de bordo, que disse que deveríamos descer, passar pela imigração e depois embarcar novamente no avião. Fazer o que!

Nova decolagem, dessa vez rumo à nossa última escala: Santa Cruz de La Sierra. O inicio do vôo foi surpreendentemente magnífico, o tempo bom e a excelente visibilidade nos dava a impressão que o avião “rasparia” as asas na ponta dos picos nevados das montanhas bolivianas. Cansados, adormecemos novamente. A conexão em Santa Cruz de La Sierra foi rápida e sem problemas, para a nossa felicidade. Agora já rumávamos para São Paulo, e de lá, finalmente para casa, matar a saudade da família e relembrar já com saudades da nossa aventura de dezessete dias em solos andino: Sucre, a capital Cultural da Bolívia; O primeiro contato com a altitude, em Potosi; O magnífico deserto de Sal de Uyuni, que ainda voltaremos lá para atravessá-lo; La Paz, a capital da Bolívia, com seus montes nevados e o passeio na neve no Chacaltaya; Já no Peru, a cidade de Puno com suas ilhas flutuantes no belíssimo Lago Titicaca; A inesquecível viagem de trem para a antiga capital do povo Inca; A beleza da Cosmopolita Cusco, com suas praças e igrejas cheias de história e finalmente Machu Picchu, O templo sagrado de um dos maiores impérios que o mundo já viu. Tudo isso ficará para sempre na memória de cada um de nós. O sonho foi realizado. Agora é começar a planejar a próxima. Até lá!