Pensando em mergulhar em Galápagos? Sim é obrigatório!
Texto e fotos de Marcia Faria
Mergulho em Galápagos? sim é obrigatório! veja como foi essa experiencia de mergulhar em um dos lugares mais lindos do planeta em mais um post da Marcia Faria sobre esse fascinante arquipélago equatoriano.
Logo quando cheguei no centrinho de Puerto Ayora comecei a pesquisar operadoras PADI para ver preços e locais de maior interesse, que tivessem muita vida e sem muita corrente, pois ainda não tinha o nível avançado e estava de férias! procurava um mergulho relax que eu pudesse aproveitar ao máximo na observação da vida marinha com muita expectativa de encontrar os tubarões e arraias. As operadoras planejam coordernando lugares diferentes em função do dia da semana oferecendo saídas para as diversas ilhas, com mergulhos de diversos níveis e preços que variam de US$150 a US$200. Você já pousou num dos lugares mais incríveis do planeta e não vai mergulhar porque achou muito caro? não, não pense desta forma. Se não fizer pelo menos um batismo, seguramente cairá em arrependimento mortal, pois saiba que aqui é um dos melhores points de mergulho do planeta. Sonho de 10 entre 10 mergulhadores, lugar que proporciona a maravilhosa experiência de estar lado a lado com peixes enormes, às vezes em cardumes, além do ambiente submarino vulcânico ter sua beleza particular. Como havia dito a uma amiga de viagem: quem está na chuva, é pra se molhar! E ela concordando com o nosso ditado, fomos mergulhar!
Eu acabei optando pela Galapagos Travellers Dive pelos excelentes comentários de uma paulista que encontrei por lá e que estava fazendo curso nesta operadora. Cada saída, a um preço de US$180, estavam incluídos além dos dois cilindros, um desayuno no ponto de encontro, algumas provisões como água, suco e snacks à bordo, almuerzo em Puerto Ayora na volta do mergulho, e o que não poderia faltar para a posteridade: fotos e vídeos (a maioria das agências cobram o registro à parte). Provamos a roupa de neoprene no dia anterior para que fosse reservada, assim como as nadadeiras. Este último ítem, recomendo levar na bagagem, caso as tenham, bem como máscara e snorkel, pois além do mergulho com cilindro, todos os dias poderá encontrar nas proximidades um bom local para mergulho livre ou mesmo para os passeios de barco onde sempre dão uma paradinha em alguma piscina natural.
Tempo bom, nos encontramos às sete da manhã para um rápido desayuno na operadora e partimos rumo a Baltra no Canal Itabaca em duas camionetes para tomar a lancha.
Ao indagar Lucho do porquê da saída neste horário, mais cedo do que as outras operadoras, e ele nos garantiu que os tubarões de Galápagos despertam cedo e nós seríamos os primeiros a dar bom dia àquelas criaturas!
Don`t worry! em Galápagos a comida é farta e estas criaturas são muito inteligentes, estão no planeta há milhões de anos, bem antes do que nós, sabem muito bem que não somos apetitosos e num ambiente em equilíbrio tem comida boa e farta para todos. Então relaxe, entre no clima e aprenda as boas regras de convivência! Permaneça em seu cardume e não perturbe ninguém!
Apresentadas à tripulação que iria nos levar às ilhas, cinco mergulhadoras de iniciante a experiente, todas latinoamericanas, seguimos rumo norte atravessando o Canal de Itabaca, contornando o lado oeste da ilha de Baltra até alcançar o lado norte. Meia hora depois, o capitão atracava a lancha num ponto em frente da Ilha Seymour North próximo a Mosqueiro, local preferido dos leões marinhos que eram vistos ao longe na praia desta ilha.
Ilha Seymour North
Lucho já havia feito o plano de mergulho, reforçava a nossa atenção para a segurança, comentava o que normalmente poderíamos encontrar nesta área, mostrando inclusive o gestual que iria fazer lá embaixo para identificar uma tartaruga, arraia, tubarão, etc. Ele carregava também uma espécie de sineta para despertar a nossa atenção para algo mais interessante. Descemos em dupla, Lucho na frente como guia, Jesse dando mais atenção na retaguarda junto com a mais inexperiente. Em poucos minutos já estávamos próximas ao fundo repleto de blocos rochosos, cheios de vida, recobertos de coral, anêmonas, enormes estrelas-do-mar amarelas, muito lindas, junto com peixes budião arco-íris, peixe-anjo e outros tipos de diversas cores e tamanhos. Descendo um pouco mais, o fundo se tornou arenoso, e de repente, a sineta do Lucho tocou. Avistou um peixe grande lá no fundo, descansando na areia, nos pediu calma durante a aproximação, fizemos a volta na pedra para ficarmos juntas e ali permanecemos durante alguns minutos contemplando o lindo animal. Um tubarão de ponta branca estava lá, parado, em tom acinzentado com sua hidrodinâmica perfeita, como uma aparição. Permaneceu ali quieto, poupando energia,
respirando, moviam-se brânquias, um pouco da boca e os olhos, em curiosidade talvez de ver mulheres que vieram de tão longe e estavam ali bem próximas para admirá-lo. Deveria ter aproximadamente uns 2m de comprimento, e deveria estar ali para descansar apenas. Depois de alguns minutos, saímos novamente atrás do Lucho que nos levou ao curioso jardim de enguias que mais parecia vegetação, daí o nome “jardim” para o agrupamento destes peixes parentes das moréias que vivem se escondendo na areia. Elas permanecem verticais, subindo e descendo, cada uma em seu buraquinho na areia, e de repente, quando estávamos passando, vimos Lucho com os punhos cerrados na cabeça nos indicando que havia um tubarão martelo na área. O jardim de enguias se retraía a medida que o tubarão martelo passava bem rente ao fundo, como se estivesse vistoriando seu território sem dar a menor importância com a nossa presença. O meu coração batia forte por aquela experiência, senti a adrenalina espalhar pelo meu corpo, aguçando os meus olhos, impulsionando minhas pernas em sua direção. Tentamos seguí-lo por algum tempo, mas em instantes, ele desapareceu no azul infinito. Logo em seguida, surgiu uma arraia chita, para a nossa felicidade de ver outro grande animal batendo suave suas longas nadadeiras. Após esta fantástica experiência, retornamos para o barco para descansar e seguir para o outro ponto que ficava distante mais ou menos uma meia hora. Aproveitamos para trocar os cilindros, tomar água, comer alguma coisa leve, e é claro, falar, falar e falar das maravilhas deste primeiro mergulho.
Daphne Minor
O vulcanismo é a força criadora das ilhas Galápagos, as quais se conectam diretamente com a energia pulsante do planeta. Por isto, as ilhas têm composição basáltica com paredões submersos que descem até 1.000 e 3.000m de profundidade, estando sob uma placa que se desloca continuamente. Daphne se destaca justamente por estes paredões que continuam na parte submersa, e é justamente isto que esta ilha tem para nos mostrar de diferente. Todas as ilhas nasceram em virtude da passagem por um ponto mais quente: hot spot superaqueceu a crosta oceânica e provocou um “vazamento” do manto no fundo oceânico. Conforme o movimento da placa tectônica de Nazca, numa taxa de mais ou menos 30cm/ano em direção a América do Sul, as ilhas foram nascendo nestes últimos 5 milhões de anos. A ilha de Daphne tem idade
intermediária de 2 a 3 Ma, reflete sua natureza vulcânica jovem alcançando a superfície para se tornar abrigo de várias espécies animais. Um mergulho de observação da vida que se desenvolve ali em seu paredão rochoso, em suas concavidades e pequenas fraturas, sem a menor possibilidade de avistar o fundo de tão profundo que estamos. É muito diferente de tudo que eu já tinha visto em mergulhos, e diante de toda aquela rara beleza de formas e cores seguimos em grupo contornando a ilha no sentido oeste há mais ou menos uns 15m de profundidade conforme a orientação que nos foi dada no barco. A água estava com ótima visibilidade e já era muito bonito o colorido de algas e esponjas recobrindo a superfície das rochas com peixinhos coloridos que ora apareciam, ora se escondiam nas tocas junto com anêmonas e delicados nudibrânquios. Cardumes de peixe-anjo e xaréus passavam por fora meio que saudando o grupo de meninas mergulhadoras.
Avistei um belo peixe pescador que se destacava no tapete de algas e esponjas do paredão. De repente, um lobo marinho mergulhou perto de minha dupla, passou feito um raio, só notei que se tratava de um mamífero porque soltava as bolhinhas de ar em sua incursão vertical.
Uma história muito bacana que ficou marcada neste dia, foi a história de uma venezuelana, que estava acompanhando sua filha que era universitária e faria um mergulho de presente de viagem de sua mãe. Esta última estava receosa e apesar de ter pago mergulho para as duas, já havia decidido que não iria descer conosco. Não era novata, já tinha mergulhado no Caribe e sabia das maravilhas do mundo sub, porém guardava em sua memória um mau sentimento, que segundo seu relato, surgira há 10 anos após uma experiência muito ruim com um batismo feito com um instrutor inescrupuloso que não havia respeitado o seu ritmo, que negligentemente a deixou para trás sozinha, o que resultou numa experiência traumática. Ela contava da sua paixão pelo mar e sua desilusão depois daquele dia. Bom, o que se sucedeu foi algo muito especial porque o nosso grupo pode ouví-la com calma, e durante o trajeto, cada uma pode dar uma palavra, uma força, incentivando-a mergulhar novamente, para que pudesse desfazer este bloqueio com as maravilhas de Galápagos! Jesse, o instrutor teve muita sensibilidade e psicologia, garantiu que poderia levá-la em total segurança, respeitando o seu ritmo, pode calmamente conduzi-la na água com absoluta confiança. Ela quase desistiu, duas vezes, mas ele sorria, conversava e brincava com ela para relaxar, submergiam alguns poucos metros até ela se sentir segura e bem à vontade com o regulador. Ok? Mais um pouco, respirando…
Bom, depois ficamos sabendo por ela mesma quando retornamos do nosso mergulho, porque seguimos o Lucho e os dois ficaram para trás no seu tempo devido. No final das contas, ela superou o medo e rompeu até a profundidade máxima com o Jesse, pois tinha visto mais tubarões e peixes do que todas nós juntas. A sua experiência foi tão incrível que ela retornou em puro êxtase. Deixou o seu medo no fundo do mar e se permitiu a ver Galápagos em sua plenitude. Durante o retorno ao canal em Baltra, agradecia a todo momento ao Jesse e a todas nós por tê-la ajudado a vencer esta barreira. Ela se sentia mais leve e parecia ter se livrado totalmente do peso que aprisionava todos estes anos a sua alma. Foi muito lindo, voltei muito feliz com a experiência. Em estado de graça também por vivenciar estas histórias que envolve pessoas, desafios, passado, presente em toda aquela vida no fundo do mar de Galápagos. Um sentimento de gratidão em viver neste lindo planeta azul e poder sentí-lo aqui e agora!
O mergulho mais caro da minha vida e o mais impactante valeram cada minuto embaixo d`água, e por que não dizer, durante o percurso na lancha também passei momentos incríveis com este grupo de mulheres mergulhadoras, muito especiais, com energia contagiante, sem contar com os espirituosos instrutores, muito competentes e apaixonados por este trabalho. Tudo na medida, os caras fizeram com que este dia fosse perfeito para todas nós.
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3 Comentários
Boa noite!
Gostaria de mais informações sobre os mergulhos e Valores
Que lugar lindo!! Ótimo relato! Parabéns!
Sensacional o relato! Fiquei doido pra conhecer!
Parabéns!